Maior lago artificial do Brasil completa 50 anos e ainda gera energia

Sobradinho, no norte da Bahia, abriga o maior espelho d’água artificial do Brasil e é fundamental para o rio São Francisco. Com uma extensão de 4.214 km² e 320 quilômetros de comprimento, esse reservatório é parte do sistema da Chesf, que tem duas grandes funções: gerar energia e regular o volume de água do principal rio do Nordeste. Dessa forma, ele garante o fornecimento elétrico e o uso sustentável da água em diversos estados.
O lago foi criado a partir do barramento do São Francisco e está situado em uma área de caatinga, envolvendo as cidades de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE). A água do reservatório se estende e forma um “mar no sertão”, como muitos moradores costumam chamar. Essa vasta superfície transformou a paisagem e o cotidiano de várias comunidades ao redor.
Funções energéticas e papel na régua do rio
A usina de Sobradinho possui 1.050 megawatts de potência, distribuídos em seis unidades geradoras. Além de gerar eletricidade, a barragem também regula o fluxo do São Francisco, diminuindo o impacto de cheias e secas. Essa operação é vital para usinas localizadas mais a jusante, como as de Paulo Afonso, e influencia a captação de água para cidades, a irrigação de plantações e até a navegação.
Capacidade de armazenamento e regras operacionais
O reservatório normalmente acumula cerca de 34,1 bilhões de metros cúbicos de água. A operação segue regras que determinam níveis máximos e mínimos, além de vazões mínimas a serem respeitadas. Assim, diariamente, é feita uma análise para decidir se é melhor liberar água para atender a demanda ou manter o nível alto para garantir abastecimento no futuro. Tudo isso é ajustado conforme as condições climáticas.
Hidrologia: oscilações e variabilidade recente
O comportamento de Sobradinho reflete as mudanças climáticas no Nordeste. Nos anos de muita chuva, a recuperação do volume d’água acontece rapidamente. Já nas secas, o foco é manter a segurança hídrica da região. Em abril de 2022, o nível do reservatório alcançou 100%, um marco que não ocorria desde 2009, evidenciando a importância do lago para lidar com extremos climáticos.
Navegação e integração regional
Para garantir a navegabilidade nas proximidades de Juazeiro e Petrolina, há uma eclusa que permite a passagem dos barcos superando o desnível da barragem. Isso fortalece a conexão entre as partes do rio e melhora o transporte regional, mantendo viva a cultural fluvial do “Velho Chico”.
Reconfiguração territorial e memória das cidades submersas
A criação do lago na década de 1970 resultou na realocação de cidades inteiras, como Casa Nova, Remanso, Pilão Arcado e Sento Sé, cujas áreas urbanas ficaram submersas. Quase 12 mil famílias foram mudar para novas localidades planejadas. Durante períodos de seca intensa, a baixa do nível da água revela ruínas que lembram esses antigos lares, trazendo à tona histórias e memórias de uma transformação significativa.
Comparação nacional e critérios de grandeza
Dentre os reservatórios do Brasil, Sobradinho se destaca pela sua área inundada. Comparado a Itaparica e Furnas, é bem maior, embora “maior em área” não signifique “maior em volume”. Essas distinções são importantes, já que o volume e a área têm funções diferentes na gestão dos recursos hídricos.
Efeitos ambientais e usos múltiplos da água
Esse vasto corpo d’água influencia o clima local, suavizando as temperaturas e aumentando a umidade, o que beneficia as atividades agrícolas na região. A expansão da irrigação no Vale do São Francisco requer regras claras sobre o uso da água, garantindo que o abastecimento permaneça prioritário e sustentável.
Segurança de barragens e monitoramento contínuo
Devido à sua grandeza, o reservatório precisa seguir rígidos protocolos de segurança. A rotina inclui vistorias, monitoramentos e planos de contingência para garantir a segurança e a eficiência, coordenando esforços entre diversos órgãos.
Transformações urbanas e novas dinâmicas econômicas
As cidades reconstruídas após a realocação são agora planejadas para atender a nova população. Com o lago como um referencial, a economia local se ajustou a novas atividades, como a fruticultura irrigada e logística, que estão em alta. Isso trouxe à tona a necessidade de um uso ordenado do espaço e de um monitoramento efetivo para evitar ocupações informais.
Estratégia para o futuro da bacia
Após cinquenta anos em operação, Sobradinho continua sendo essencial para a matriz elétrica do Nordeste e a segurança hídrica do São Francisco. O futuro do reservatório depende de uma gestão que considere as flutuações climáticas, buscando sempre um equilíbrio entre energia, água e desenvolvimento regional.