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País retira 100 milhões da pobreza em uma década com investimento

Durante muito tempo, a região de Guizhou, na China, era vista como um lugar isolado, marcado pela pobreza e pela falta de oportunidades. Localizada entre montanhas e vales profundos, muitas famílias viviam com menos de 2 dólares por dia. Hoje, esse cenário mudou completamente. Guizhou virou um exemplo global de como políticas públicas eficazes podem transformar comunidades e erradicar a pobreza. Ao longo de uma década, cerca de 100 milhões de pessoas foram tiradas da miséria, em um projeto incrível que mobilizou cerca de 1 trilhão de dólares entre 2010 e 2020.

O berço da transformação social: província de Guizhou

O epicentro dessa revolução é a província de Guizhou. Conhecida por ser uma área historicamente negligenciada, passou a ser um símbolo de mudança no combate à pobreza extrema. Entre 2012 e 2020, o governo local desenvolveu uma estratégia abrangente que uniu esforços em várias frentes, como infraestrutura, educação, relocação de pessoas e incentivo à indústria.

Estima-se que 832 condados tenham sido reclassificados como “livres da pobreza extrema”. Em Guizhou, onde quase 40% da população vivia em situação de vulnerabilidade no início da década, essa taxa despencou para menos de 3%. Isso é nada menos que um marco histórico.

Estradas, energia e conectividade: a base da mudança

O primeiro passo foi romper com o isolamento. As montanhas que cercam Guizhou não foram barreiras para a construção de mais de 5.000 km de rodovias e ferrovias em menos de uma década. Vilarejos que antes só eram acessíveis por trilhas agora têm acesso direto a mercados, escolas e hospitais.

Além disso, a infraestrutura foi vital também para a chegada de energia elétrica e internet de alta velocidade. Isso deu aos moradores a chance de trabalhar em áreas como comércio digital, agricultura inteligente e turismo rural.

Dados do governo indicam que mais de 35 milhões de pessoas foram realocadas de áreas que não ofereciam condições de vida adequadas para vilas planejadas, equipadas com habitações subsidiadas, escolas e centros de capacitação. Esse movimento não foi apenas uma mudança geográfica; ele veio acompanhado de um robusto programa de educação técnica, focado em setores como manufatura leve e energias renováveis.

Da agricultura de subsistência à economia sustentável

O que antes era dependência exclusiva da agricultura de subsistência hoje se transformou. Guizhou se tornou um polo de produção agrícola de alto valor, turismo ecológico e tecnologia limpa. A província se destaca na produção de chá verde e cogumelos comestíveis e abriga centros de dados em nuvem e startups voltadas para inteligência artificial. Uma mudança impressionante para uma região que, há apenas dez anos, enfrentava enormes dificuldades.

De acordo com a FAO, a estratégia implementada é um exemplo para o mundo de como um investimento bem direcionado em infraestrutura, tecnologia e educação pode reverter a desigualdade histórica.

O papel do Estado e o impacto global

Liderado por mais de 3 milhões de servidores públicos, o programa de transformação contou com gestores locais para cada vila. Esses profissionais eram responsáveis por acompanhar as famílias e identificar os problemas específicos, criando soluções sob medida. Essa abordagem, conhecida como “precisão na erradicação”, é considerada um diferencial fundamental para o sucesso da empreitada.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, elogiou essa conquista, chamando-a de “uma das maiores realizações da história da humanidade na luta contra a pobreza”. Desde então, o modelo tem sido estudado em diversos países da África, Ásia e América Latina, incluindo projetos de cooperação com o Brasil.

Uma lição de engenharia social e desenvolvimento humano

A história de Guizhou mostra que erradicar a pobreza em larga escala não é questão apenas de recursos financeiros. É preciso um planejamento estratégico, continuidade nas políticas e uma integração eficaz das ações públicas.

O sucesso da província vai além do crescimento econômico; implica numa transformação social profunda. Guizhou se tornou um símbolo de resiliência, onde vales, antes marcados pela pobreza, se transformaram em centros de inovação e turismo sustentável. A experiência dessa região é uma prova de que a erradicação da pobreza é viável, especialmente quando o desenvolvimento econômico é acompanhado pela dignidade humana.

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