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Franceses cruzam a Amazônia em balsa de palha após 90 dias

Desde julho, três jovens franceses estão vivendo uma aventura incrível pelos rios da Amazônia. Eles embarcaram em uma balsa feita de totora, um junco andino tradicional do Lago Titicaca, e estão a caminho de Macapá, no Amapá. Essa jornada já dura três meses e é uma homenagem aos 200 anos de independência da Bolívia.

A reta final da jornada

O grupo, que começou com quatro pessoas, agora está a menos de 100 quilômetros do seu destino final, onde o Rio Amazonas encontra o mar. A viagem é emocionante, mas também cheia de desafios. A balsa, feita de feixes amarrados de totora, está se deteriorando rapidamente, tornando a travessia ainda mais complicada.

À medida que os dias passam, a embarcação se encharca, afundando cada vez mais. Com as grandes ondas da Amazônia batendo incessantemente, a balsa enfrenta um desgaste drástico. Fabien Gallier, o líder da expedição, descreve a situação como crítica.

Cada onda que vem passa por cima da balsa e alaga tudo. Estamos remando, mas mais devagar, porque está ficando pesada. Os ventos estão contra nós,” diz Fabien.

Uma travessia lenta e perigosa

No início da jornada, a balsa mantinha quase 40 centímetros acima da água. Agora, esse número caiu para apenas 20, o que torna a embarcação vulnerável a qualquer marola. “Passamos o tempo todo molhados”, conta Fabien. Ele e seus companheiros, Erwan Rolland e Benjamin Vaysse, enfrentam turnos intensos de até dez horas remando sob o sol forte e chuvas constantes.

Para reduzir o peso da embarcação, o documentarista Télio Nouraud deixou o grupo, aumentando ainda mais a carga de trabalho dos que permaneceram. Mesmo enfrentando desconfortos, eles mantêm o bom humor e a esperança.

Mesmo que desmanche, a balsa não afunda, porque a totora sempre boia,” afirma Fabien, lembrando que esse material não tem uma longa durabilidade.

Uma embarcação viva

Os navegadores passaram dois meses no Lago Titicaca construindo a balsa com a ajuda de uma família tradicional de artesãos. Eles sabiam que a embarcação não aguentaria muito nas águas turbulentas da Amazônia, onde a temperatura e as correntes são bem mais desafiadoras.

Normalmente, uma balsa de totora dura, em média, até quatro meses no Lago Titicaca. Aqui, no calor amazônico, a decomposição acontece em um ritmo bem mais acelerado. Mesmo assim, o grupo continua firme, encarando essa deterioração como parte da experiência.

Sabíamos que isso ia acontecer. Os rios da Amazônia iriam encharcar e acelerar a decomposição. Mas faz parte da aventura. Navegamos com um barco orgânico e vivo,” diz Fabien. O barco, segundo ele, se tornou um pequeno ecossistema flutuante, onde surgem cogumelos entre os feixes. “Temos formigas e cupins a bordo. É um verdadeiro ecossistema,” brinca o francês.

Um feito histórico, se resistirem

Agora, a balsa, que mede cerca de seis metros de comprimento, está a apenas 100 quilômetros de Macapá. Se conseguirem completar a jornada, esses jovens serão os primeiros a navegar com uma embarcação de junco desde os Andes até o Oceano Atlântico, cobrindo mais de 3.500 quilômetros.

A previsão é que cheguem em dois ou três dias, “se a balsa aguentar”, brincam. Essa ousadia remete a aventuras históricas, como a de Thor Heyerdahl, que em 1947 cruzou o oceano Pacífico em um barco feito de troncos e totora.

Fabien acredita que essas balsas são únicas porque criam um laço especial entre o homem e a natureza.

A balsa do sexo e o lado social das expedições

Entre as aventuras de balsa mais controversas, destaca-se a de Santiago Genovés, em 1973. Ele colocou cinco homens e seis mulheres desconhecidos a bordo para um estudo sobre comportamento humano sob tensão. A jornada, apelidada de "Balsa do Sexo", gerou polêmica, mas também inspiração para modernos reality shows, como o Big Brother.

Um tributo à resistência e à natureza

A expedição dos franceses faz parte de uma longa tradição de navegações experimentais. Não é apenas uma aventura; é um símbolo da coragem e do respeito pela natureza. Com a balsa cada vez mais encharcada, eles seguem remando pelas águas do Amazonas, sem saber ao certo se conseguirão chegar a Macapá.

Mas, como diz Fabien, “mesmo que não consigamos, já teremos vivido algo extraordinário”. Para eles, o importante é a jornada e a história que essa balsa, aos poucos se desfazendo na correnteza, ainda tem para contar.

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