Bunge compra US$ 1,4 bilhão em etanol e debate sustentabilidade no Brasil

Em uma movimentação que promete agitar o setor de energia renovável no Brasil, a gigante britânica BP acaba de assumir o controle total da Bunge Bioenergia. Esse acordo, revelado em junho de 2024, envolveu a compra de 50% das ações que pertenciam à Bunge por cerca de US$ 1,4 bilhão. Essa mudança de controle posiciona a BP como uma das principais produtoras de etanol e açúcar no mundo.
A operação é uma peça-chave na estratégia da BP para se destacar na transição energética, com especial ênfase no mercado de Combustível Sustentável de Aviação (SAF). No entanto, ao adquirir 11 usinas, a empresa também herda uma bagagem pesada, incluindo controvérsias em torno de condições de trabalho, o que levantou questões sobre sua agenda de sustentabilidade.
Como a parceria de 2019 levou à compra total
Esse movimento é o desfecho de uma parceria que começou em 2 de dezembro de 2019. Naquela data, BP e Bunge decidiram unir forças e criaram a joint venture BP Bunge Bioenergia. Desde o início, esta nova empresa veio com força, tornando-se a segunda maior operadora do setor no Brasil, com 11 usinas distribuídas por cinco estados.
Logo no início, percebeu-se que as intenções eram diferentes. A Bunge recebeu US$ 775 milhões para criar a joint venture, o que já indicava um desejo de diminuir seu envolvimento com o setor de açúcar e voltar suas atenções para os negócios principais. Na prática, esse arranjo começou como uma operação conjunta que terminou por facilitar a compra total pela BP.
A engenharia do negócio: por que a BP assumiu o controle?
A compra total feita pela BP é uma jogada estratégica com foco no futuro dos biocombustíveis. O principal objetivo? Criar uma plataforma robusta para desenvolver etanol de segunda geração e, crucialmente, o Combustível Sustentável de Aviação. O etanol de cana é fundamental para produzir SAF, e com esse controle, a BP assegura um suprimento significativo.
Ao consolidar o controle da Bunge Bioenergia, a BP também optou por suspender projetos de biocombustíveis em refinarias nos EUA e Alemanha. Essa decisão mostra uma alocação de recursos mais estratégica, com atenção voltada para o ativo brasileiro, que se destaca pela sua escala e eficiência. A Bunge, por sua vez, pode agora focar em seus negócios principais de grãos e oleaginosas, especialmente após a fusão com a Viterra.
O que a BP comprou? O tamanho da antiga BP Bunge Bioenergia
Agora, a BP é dona de um verdadeiro império no setor sucroenergético no Brasil, com um pacote que inclui:
- 11 usinas em estados como São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Tocantins.
- Uma capacidade de 32 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por ano.
- Uma produção de etanol equivalente a 50.000 barris por dia.
- Uma capacidade de gerar 1,1 milhão de toneladas de açúcar anualmente.
- A produção de 1.200 GWh de bioeletricidade para o sistema nacional, proveniente da queima do bagaço de cana.
O risco por trás do negócio “verde”: as controvérsias e o futuro
Entretanto, essa compra coloca a BP diante de desafios significativos em termos de sustentabilidade e reputação. Em março de 2023, uma fiscalização do Ministério do Trabalho descobriu 212 trabalhadores em condições sub-humanas em plantações de cana que forneciam para a então BP Bunge Bioenergia. Esse foi o maior resgate desse tipo registrado no Brasil naquele ano.
Para complicar ainda mais a situação, em outubro de 2023, apenas sete meses após o escândalo, a empresa obteve a certificação de sustentabilidade ISCC CORSIA Plus. Essa certificação é crucial para que seu etanol possa ser utilizado na produção de SAF. Essa aparente contradição levanta muitas dúvidas sobre a eficácia das auditorias de certificação. A habilidade da BP em gerenciar questões de sustentabilidade e garantir a integridade de sua cadeia de suprimentos será essencial para o sucesso de sua ambiciosa estratégia nos biocombustíveis brasileiros.



