Gasolina de nafta avança no Brasil e preocupa Petrobras

A nova gasolina de nafta, que vem sendo produzida principalmente pela Refinaria de Manguinhos (Refit), está mudando o cenário do mercado de combustíveis no Brasil. Especialmente no Sudeste e no Rio de Janeiro, o crescimento desse tipo de combustível está gerando um verdadeiro borburinho. Tudo começou em meados de 2024, com os incentivos fiscais para a importação da nafta não petroquímica, que estão dando um empurrãozinho a essa nova alternativa.
Com isso, a liderança da Petrobras começou a sentir a pressão de grandes distribuidoras que estão reagindo a essas mudanças. A competição está ficando acirrada e as regras do jogo estão se alterando.
Mercado de combustíveis em transformação
A operação da Refit se destaca pela utilização estratégica da nafta importada, que tem sido beneficiada por incentivos fiscais quando desembarca em estados como Amapá e Alagoas. Uma vez que a nafta chega ao porto do Rio de Janeiro, ela é transformada em gasolina na refinaria, sempre seguindo as normas da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Essa nova forma de produção permitiu à Refit conquistar uma fatia considerável do mercado carioca e paulista. Dados da ANP mostram que a gasolina da Refit abasteceu 28,3% do mercado no Rio de Janeiro no primeiro semestre de 2025, através de distribuidoras como Flagler e 76 Oil. Em junho, a participação total delas chegou a 30,4%, superando gigantes como Vibra e Raízen.
Em São Paulo, a situação não é diferente: a gasolina da Refit já tem 15% de participação, o que mostra que a armação dessa nova estratégia de preços competitivos, benefícios fiscais e oferta regular está sendo bem-sucedida.
Nafta importada: a base do combustível formulado
A ANP já confirmou que a gasolina produzida pela Refit vem de nafta importada e que essa atividade está dentro das regras. Porém, a agência não revela dados específicos sobre volumes, pois isso é considerado restrito. O que sabemos é que a produção total de gasolina A pela Refit teve um aumento de 57,7% nos 12 meses até junho de 2025, enquanto a Refinaria Duque de Caxias (Reduc) da Petrobras viu sua produção cair 5,1% no mesmo período.
Essa mudança é ainda mais clara com a saída da Copape, que era a única formuladora especializada do país até julho de 2024, quando a ANP suspendeu suas operações devido a irregularidades. Agora, a Refit está quase sozinha nesse mercado, embora outras refinarias como SSOil e Ream também estejam tentando entrar.
Competitividade e benefícios fiscais impulsionam gasolina de nafta
O que torna a formulação da gasolina tão interessante? O preço. O litro da nafta importada gira em torno de R$ 2,13 no mercado internacional, enquanto a gasolina A brasileira está em média R$ 3,68.
Os incentivos fiscais nos estados "porta de entrada" potencializam ainda mais essa atratividade, permitindo que os postos ofereçam preços menores que os da Petrobras e de outros importadores. A tendência é que isso persista até pelo menos o final de 2026. Embora a ANP tenha restringido a formulação como atividade exclusiva para refinarias, ainda é permitido que atuem nessa área de forma acessória.
Reações do setor e impactos na concorrência
As reações da indústria são diversas e compreensíveis. Um diretor de grandes distribuidoras comentou que "a Refit herdou o mercado da Copape e está colocando o produto a preços competitivos no Rio e em São Paulo". Diante dessa perda de espaço no mercado, a Petrobras começou a realizar mais leilões para a venda de combustíveis, uma prática que, até então, era mais comum no diesel. Isso facilita a oferta de preços abaixo da tabela, ampliando as cotas futuras para as distribuidoras.
A Petrobras declarou que os leilões são uma prática comercial prevista, feita para garantir uma oferta competitiva. Já a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom) observou que nenhuma empresa associada a ela importa nafta, mas vê a movimentação do mercado como uma resposta natural às atuais leis.
Volumes de produção e importação de nafta
Infelizmente, não temos informações claras sobre os volumes exatos de gasolina produzidos pela Refit a partir da nafta. Dados da ANP indicam que a produção total da refinaria atingiu um recorde histórico em junho de 2025, com 328 mil metros cúbicos de derivados, 160 mil deles de gasolina A, um aumento de 80% em relação a junho de 2024.
Vale a pena mencionar que a maior parte da nafta não petroquímica importada pelo Brasil provém da Rússia, com uma boa parcela vindo do Golfo do México, já entrando pelos principais portos do Rio de Janeiro, Paranaguá, Santos e Manaus. Outras empresas como SSOil e Dax Oil também estão utilizando nafta importada na produção, mas em menor escala.
Regulamentação e histórico do setor de combustíveis
Embora a formulação de combustíveis não seja ilegal, há um histórico de irregularidades no setor, como a importação disfarçada de gasolina. Com as mudanças atuais, especialistas estão atentos ao impacto da gasolina de nafta nas tarifas para o consumidor, na concorrência e nos desafios regulatórios que podem surgir. A grande questão que paira no ar é: como a gasolina de nafta está moldando o futuro do mercado de combustíveis no Brasil?