Muralha de 118 km que separou romanos e povos do norte

A Muralha de Adriano, erguida há mais de dois mil anos, é uma verdadeira testemunha da história. Marcou, por três séculos, o limite mais ao norte do Império Romano, estendendo-se por aproximadamente 118 quilômetros no norte da Inglaterra. Ela vai de Bowness-on-Solway, a oeste, até Wallsend, a leste, e sua construção teve início em 122 d.C., logo após a visita do imperador Adriano.
Um pouco de contexto histórico
Naquela época, Inglaterra e País de Gales já estavam sob domínio romano desde 61 d.C., após a derrota da rainha Boudica. Mas a Escócia se mantinha resistente, graças aos caledonianos, que não permitiram a ocupação romana. Essa resistência foi crucial e levou Adriano a criar a muralha, estabelecendo uma barreira defensiva que separava o sul romanizado do norte ainda independente.
A estrutura imponente da muralha
As legiões II, VI e XX foram as responsáveis pela construção da muralha. Usando materiais locais, a parte leste, composta principalmente de pedra, tinha 65 km de comprimento, 3 metros de largura e 4,4 metros de altura. Já a parte oeste, feita de turfa, se estendia por 47 km até Bowness-on-Solway, com uma largura de até 5,9 metros. Segundo especialistas, a escolha da turfa revelou a pressa em finalizar essa seção.
Ao longo da muralha, havia um fosso em formato de V ao norte e, ao sul, foi construído o “vallum”, um fosso acompanhado de grandes montes de terra, oferecendo uma proteção extra. A cada milha, surgiam "castelos de milha" com portões pequenos e uma capacidade limitada de soldados. Fortalezas maiores apareciam a cada 11 km, abrigando estruturas como o quartel-general e a residência do comandante.
A presença feminina nas fronteiras
As escavações no forte de Vindolanda revelaram um lado curioso da vida na muralha. As tábuas de madeira encontradas contavam a história de mulheres que acompanhavam os soldados. Por exemplo, Sulpícia Lepidina e Cláudia Severa trocaram cartas sobre assuntos cotidianos, como convites para aniversários. Mesmo que soldados de patentes mais baixas não pudessem se casar oficialmente, muitos mantinham suas famílias por perto, o que era uma realidade comum.
Vestígios da vida diária
Além das cartas, Vindolanda também preservou milhares de artefatos de couro, como sapatos e selas. Isso mostra que a vida militar incluía famílias que viviam ali. Foram encontrados sapatos de tamanhos bem grandes, o que sugere que os soldados eram bem altos ou usavam camadas extras para se proteger do frio. Brinquedos, como espadas de brinquedo, e evidências de percevejos que incomodavam os acampamentos também foram encontrados.
Mudanças ao longo dos séculos
Após a morte de Adriano, seu sucessor, Antonino Pio, decidiu seguir para o norte e construir a Muralha de Antonino, mas essa conquista foi temporária. Com o tempo, a Muralha de Adriano passou por algumas modificações importantes, como a substituição de seções de turfa por pedra e a construção de uma estrada militar ao sul. A pressão militar aumentou e, no século IV, alguns portões foram até bloqueados.
O declínio e a nova utilidade da muralha
Com a queda do Império Romano no século V, a muralha perdeu sua função militar e suas pedras foram reaproveitadas para erguer castelos medievais. Um dos locais mais icônicos, o Desfiladeiro dos Sicômoros, era conhecido pela sua árvore centenária, que atraía muitos visitantes. Infelizmente, em 2023, a árvore foi derrubada de forma ilegal, e os responsáveis enfrentam as consequências por danificar essa parte da história.
Um símbolo que permanece
Ao longo dos séculos, a Muralha de Adriano se transformou em muito mais do que uma simples estrutura militar. Hoje, ela é símbolo da presença romana na Grã-Bretanha. Mesmo com partes destruídas ou reaproveitadas, continua atraindo turistas, pesquisadores e curiosos, preservando histórias valiosas sobre resistência, adaptação e a vida cotidiana na borda do Império.