Bolsa brasileira está barata, diz Braga da Encore

Bolsa Brasileira Atraí Estrangeiros em Meio à Reticência Local
Durante um evento da Expert XP, o gestor João Braga, sócio-fundador da Encore Asset Management, comentou sobre a atual situação da bolsa brasileira. Ele destacou que os preços das ações estão baixos e, apesar da incerteza do mercado, ele já investiu. No entanto, informou que não está totalmente exposto a riscos, adotando uma abordagem cautelosa.
Atualmente, os investidores brasileiros estão hesitantes em investir em ações, resultando na falta de novos aportes nos fundos de ações. Em contrapartida, investidores estrangeiros têm mostrado interesse na estratégia de arbitragem de ações da Encore, com o fundo “long bias” da gestora apresentando uma alta de 24% até o dia 24 de julho.
A Encore foi criada em 2020 por Braga, que antes fazia parte da equipe de ações da XP. Ele contou que a empresa enfrentou dificuldades desde sua fundação, pois pretendia atrair investidores brasileiros, mas o capital externo foi fundamental para sua sobrevivência em tempos desafiadores para o mercado acionário. "Os investidores estrangeiros tendem a pensar no longo prazo. Quando os preços caem, é uma oportunidade de compra para eles", afirmou.
Braga acredita que a renda variável pode ter um ciclo positivo à frente, especialmente com fatores fora do Brasil influenciando o mercado. Ele observou que, após 17 anos de investimento concentrado nos Estados Unidos, os investidores estão reconsiderando suas alocações. Um dos fatores que contribui para essa mudança é o rápido avanço da China em tecnologia da inteligência artificial, o que pode ter reduzido a percepção de superioridade dos EUA nessa área.
O gestor fez uma analogia interessante sobre alocação de portfólios, comparando-a a transferir água de uma piscina para uma banheira. Embora a quantidade na piscina não seja percebida, o efeito na banheira é notável. Ele também ressaltou que os investidores têm relutado em investir em países com aumento de juros, mas no Brasil, essa taxa atingiu seu pico no mês passado, o que sugere uma possível queda futura, algo que pode beneficiar o mercado acionário.
Cada vez mais, existem evidências de que os brasileiros estão com pouco investimento em ações, tendo a maioria dos perfis de investidores alocada em apenas uma fração de suas carteiras. Isso significa que, ao avaliar o valor justo das empresas listadas, muitos papéis continuam a ser negociados com grandes descontos na B3, a bolsa de valores do Brasil.
Braga usou a imagem de ir ao supermercado e encontrar tudo pela metade do preço para explicar sua estratégia de compra atual. Ele acredita que vale a pena diversificar os investimentos agora, pois muitos ativos estão subvalorizados. “Bolsa se compra em tempos de juros altos”, destacou, referindo-se a um conceito que vem aprendendo ao longo de sua carreira.
Atualmente, sua carteira é composta por 50% em ações que potencialmente oferecerão os melhores retornos, com 12% em papéis de empresas específicas como Suzano e Petro Rio, e o restante em ações consideradas defensivas, incluindo concessionárias de serviços públicos que oferecem bons retornos em dividendos.
Braga observou que, nos últimos anos, o principal comprador das ações da bolsa tem sido o investidor estrangeiro, que, junto com os controladores das empresas e investidores estratégicos, tem contribuído para a escassez de papéis disponíveis. Ele indicou que, em um cenário de mudanças políticas após as eleições de 2026, isso poderá levar a um aumento nos índices do mercado.
No entanto, o ambiente de investimentos enfrenta desafios, especialmente com o governo considerando a imposição de impostos sobre títulos isentos, o que pode desencadear um fluxo de resgates em carteiras de ações. Caso as propostas sejam aprovadas pelo Congresso, isso pode elevar a alíquota de imposto dos fundos de ações de 15% para 17,5%.
Braga ressaltou que esse cenário desencadeou uma saída significativa de investidores locais apoiando alternativas tributárias, o que impactou o mercado de crédito e fez com que gestores mantivessem maiores quantidades de caixa. Em momentos de incerteza, ele observa oportunidades de compra, tendo elevado sua participação em empresas como Localiza e Arezzo, após medidas que favoreceram esses setores.
Apesar dos desafios, Braga acredita que as ações podem oferecer boas oportunidades, especialmente em um cenário que tende a ser volátil e competitivo, mas também cheio de possibilidades.