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Cidade brasileira que concentra 90% da internet do país

Fortaleza, no Ceará, é um verdadeiro tesouro quando o assunto é conectividade digital. Muitas pessoas nem têm ideia da importância estratégica dessa cidade para a infraestrutura de dados do Brasil. Localizada no nordeste, Fortaleza concentra nada menos que 90% do tráfego internacional de dados que entra no país, fazendo dela um dos maiores hubs digitais do mundo.

A capital cearense é conectada ao exterior por 16 cabos submarinos de fibra óptica, que ligam o Brasil a continentes como América do Norte, Europa, África e Caribe. E curiosamente, a maioria desses cabos está bem debaixo da famosa praia do Futuro, um dos pontos turísticos mais visitados da cidade.

Essa estrutura impressionante é responsável por quase todo o tráfego internacional de internet que circula no Brasil, segundo o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). É incrível pensar que uma cidade muitas vezes associada ao turismo de sol e praia se destaca em um aspecto tão técnico.

Hub de Conectividade em Fortaleza

Embora as redes móveis e a ideia de "nuvem" tenham se tornado populares, a verdade é que a internet moderna depende de infraestruturas físicas robustas. No mundo, existem quase 600 cabos submarinos que atravessam oceanos, transmitindo dados em alta velocidade entre diversos data centers ao redor do planeta.

No ranking mundial, Fortaleza ocupa a 17ª posição em número de conexões submarinas, liderando na América Latina. Isso é bastante impressionante, especialmente quando pensamos que Cingapura, a primeira do ranking, tem 28 cabos.

Mas por que tantos cabos estão na capital cearense? Basicamente, a geografia ajuda muito. Fortaleza está situada num ponto privilegiado do Brasil, próximo da Europa, Estados Unidos e África ao mesmo tempo. Além disso, as condições do leito oceânico na praia do Futuro são favoráveis, com menos movimentação de sedimentos e poucas construções por perto.

Por que a Praia do Futuro é Estratégica

O professor Rodrigo Porto, da Universidade Federal do Ceará, destaca que a disponibilidade de terrenos e a menor especulação imobiliária na região também facilitaram a instalação dos cabos. Outro ponto importante é que o Ceará vem se destacando na produção de energia renovável, como solar e eólica, atraindo ainda mais investimentos nessa área digital.

Esses cabos submarinos funcionam como verdadeiras “rodovias” para os dados digitais. De filmes em streaming a arquivos na nuvem, é por ali que tudo trafega. Pesquisas indicam que cerca de 97% do tráfego global acontece através desses cabos.

Data Centers e Segurança Digital

Além de manter a conectividade, esses cabos conectam data centers que operam como os “cérebros” da internet. Gigantes como Google, Meta, Amazon e Netflix armazenam seus conteúdos nesses locais, que possuem altos níveis de segurança, com controle biométrico e monitoramento constante.

Atualmente, seis data centers de alta certificação estão em operação em Fortaleza. Um dos maiores ocupa 3 mil metros quadrados, localizado a menos de um quilômetro da praia do Futuro. Além destes, três outros data centers estão em construção, com investimentos que somam R$ 2,1 bilhões. E há um projeto grandioso em andamento: um novo centro de dados no porto do Pecém, que pode custar até R$ 50 bilhões.

Como os Dados da Internet Chegam ao Usuário

Os dados internacionais chegam ao Brasil através desses cabos, que são enterrados na areia até os data centers. A partir daí, eles se conectam a uma malha terrestre de cabos de fibra óptica, que leva a informação até as redes locais, sejam elas wi-fi ou 4G/5G.

Esse processo acontece em frações de segundos. Ao clicar em um filme na Netflix, por exemplo, é o data center mais próximo que envia o conteúdo por fibra óptica até sua casa. Se o arquivo não estiver armazenado no Brasil, ele é trazido de outro continente pelos cabos submarinos.

Por mais que a computação em nuvem pareça etérea, tudo está relacionado a estruturas físicas. O professor Rodrigo Porto deixa claro: “Tudo tem meio físico, tem equipamento.”

Riscos e Impactos de Falhas nos Cabos

Os cabos submarinos têm uma durabilidade média de 25 anos, mas estão sujeitos a falhas técnicas ou até sabotagens. Em águas rasas, os mergulhadores podem fazer reparos. Já em áreas profundas, é preciso um trabalho mais complicado, muitas vezes com robôs.

A relevância desses cabos na geopolítica internacional tem se intensificado. No Brasil, se algo acontecer com os cabos da praia do Futuro, isso pode atrasar atualizações de plataformas como a Netflix. Mas, segundo o NIC.br, 70% a 80% do tráfego de internet já é interno, o que minimiza os impactos.

Assim, Fortaleza não apenas se destaca como destino turístico, mas também se consolida como um dos centros de conectividade mais importantes da América Latina. Vale a pena refletir sobre como uma praia do nordeste brasileiro exerce uma função tão vital na internet mundial.

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