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O país sem formigas e mosquitos: um território extremo e surreal

Entre imensas geleiras, vulcões ativos e vastos campos de lava, encontramos a Islândia, um país que parece desafiar as regras da biologia. Essa pequena ilha, situada entre a Groenlândia e a Noruega, possui uma peculiaridade impressionante: lá não existem mosquitos e também não há formigas nativas. Esse fenômeno curioso encanta tanto cientistas quanto turistas e é um reflexo das condições climáticas extremas e do solo vulcânico que caracterizam essa terra quase intocada.

A Islândia se destaca por ser um dos lugares mais frios e instáveis do planeta. Durante o inverno, a temperatura média em Reykjavík, a capital, gira em torno de 0 °C, enquanto em áreas mais interiores pode cair para -10 °C ou ainda menos. No verão, por outro lado, os termômetros raramente superam os 12 °C. Essa grande variação de temperatura é um dos motivos pelos quais os mosquitos não conseguem completar seu ciclo de vida, que inclui as fases de larva, pupa e adulto.

Segundo Erling Ólafsson, um especialista em insetos da Islândia, o problema vai além do frio. Durante a primavera, quando o gelo começa a derreter, os mosquitos tentam se reproduzir em poças d’água. No entanto, a rápida queda de temperatura que se segue faz com que essas pequenas poças congelem, interrompendo o desenvolvimento das larvas. Assim, a cada ano, o ciclo se repete e as condições constantes de frio fazem com que esses insetos não consigam se estabelecer.

Formigas? Aqui, não!

Outro dado que surpreende biólogos é a ausência de formigas. Um relatório da Icelandic Entomological Society afirma que não há espécies nativas de formigas na Islândia. As poucas que surgiram chegaram por meio de navios cargueiros, principalmente em madeira e alimentos. Porém, não conseguiram se adaptar ao frio do país e desaparecem rapidamente, em questão de semanas. Esse isolamento biológico cria um ecossistema tão único que a Islândia parece ter uma natureza quase "esterilizada" quando comparada ao restante da Europa.

O solo vulcânico da Islândia é rico em minerais, mas carente de matéria orgânica, o que também limita a biodiversidade de insetos, fungos e micro-organismos comuns em outras regiões. Kári Gunnarsson, outro pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Islândia, menciona que o país se comporta como um laboratório natural, mostrando o impacto de um clima severo e do isolamento geográfico na vida.

O desafiador clima islandês

Localizada próxima ao Círculo Polar Ártico, a Islândia é marcada por mudanças climáticas bruscas. É comum experimentar, em um único dia, neve, chuva e sol intenso. Essas oscilações são acompanhadas por um verão curto, características que contribuem ainda mais para a singularidade biológica do país. Além do clima, o isolamento oceânico também desempenha um papel fundamental, dificultando a migração de insetos da Europa continental para a ilha. Correntes frias do oceano e ventos polares funcionam como uma barreira natural.

Em termos de pragas, a única que se destaca são pequenas pulgas e moscas domésticas, que acabam sobrevivendo apenas em áreas urbanas aquecidas. Contudo, até mesmo essas são raras nos meses mais frios.

A ausência de insetos é apenas uma das características que tornam a Islândia um lugar extraordinário. O país abriga mais de 130 vulcões ativos, centenas de gêiseres e as geleiras que cobrem 11% do seu território. Em muitos locais, o solo ainda exala vapor devido à intensa atividade geotérmica. As paisagens, repletas de rios glaciais e planícies de lava solidificada, conferem à ilha um visual de outro mundo.

Não é à toa que a NASA escolheu algumas regiões da Islândia como campo de treinamento para astronautas nas missões Apollo, além de ser cenário de filmes de ficção científica, como Interestelar, Prometheus e Oblivion.

Outro aspecto fascinante é que a Islândia tem uma baixa densidade populacional, com apenas cerca de 390 mil habitantes. Isso, combinado com a forte política ambiental do país, torna a Islândia um dos lugares mais preservados da Terra, repleto de lagos cristalinos, cachoeiras imponentes e vastos desertos de cinzas vulcânicas.

Em um mundo repleto de insetos, a Islândia se destaca como uma exceção quase milagrosa. Sua experiência revela como condições extremas podem gerar ecossistemas totalmente distintos do que conhecemos. Enquanto os visitantes aproveitam o frescor do ar sem a presença de mosquitos e as serenidades das noites de verão, cientistas continuam a investigar como a vida se adapta ou não a essas condições únicas e congelantes.

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