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Maldição do ônibus de “Na natureza selvagem” atinge viajantes

Poucas histórias contemporâneas misturam aventura, idealismo e tragédia como a de Christopher McCandless. Esse jovem americano decidiu deixar uma vida de privilégios para se lançar na imensidão da natureza. Seu trágico fim em 1992, no famoso ônibus Fairbanks 142 — carinhosamente chamado de “Ônibus Mágico” — se tornou um verdadeiro mito cultural, após os relatos no livro Na Natureza Selvagem e o filme dirigido por Sean Penn.

Porém, esse ônibus que foi abrigo e tumba para McCandless também se transformou em um símbolo de maldição. Localizado em uma região remota do Alasca, ele atrai viajantes do mundo todo, mas muitos deles acabaram enfrentando um destino fatal. Cada tentativa de revive a experiência de McCandless só aumentou as histórias trágicas associadas ao local.

O espírito livre de Christopher McCandless

Christopher nasceu em 1968 na Virgínia e, desde cedo, mostrou uma inquietação fora do comum. Brilhante nos estudos, formou-se em história e antropologia pela Universidade de Emory em 1990. Decidido a romper com a vida convencional, doou suas economias — mais de US$ 24 mil — para a Oxfam, queimou parte do dinheiro que tinha e se lançou em uma vida nômade sob o nome de “Alexander Supertramp”.

Influenciado por escritores como Jack London, Tolstoi e Thoreau, McCandless acreditava que a verdadeira liberdade estava na conexão direta com a natureza. Após atravessar os Estados Unidos de carona, trabalhar em fazendas e explorar rios perigosos, seu destino final era o Alasca — uma das regiões mais inóspitas do planeta para quem não está preparado.

O encontro com o ônibus mágico

Em abril de 1992, McCandless foi levado por um eletricista local, Jim Gallien, até o início da trilha Stampede Trail. Munido de uma mochila leve, poucos suprimentos e apenas 4,5 kg de arroz, ele percorreu cerca de 30 km até encontrar o Fairbanks City Transit System Bus 142, um veículo abandonado desde a década de 1960.

Lá, McCandless se instalou e começou a registrar sua experiência em diários e fotografias. Ele sobreviveu por mais de 100 dias, caçando pequenos animais e colhendo plantas. Mas a solidão e as condições adversas do clima acabaram se tornando fatais.

Em agosto de 1992, debilitado e pesando apenas 30 kg, deixou sua última mensagem: “Tive uma vida feliz e agradeço ao Senhor. Adeus e que Deus abençoe a todos.” Pouco depois, foi encontrado morto por caçadores, e a causa oficial foi inanição.

O fascínio global e a rota da morte

A morte de McCandless não pôs fim à sua história; pelo contrário, sua saga se transformou em mito. O ônibus se tornou conhecido como “Ônibus Mágico” e atraiu milhares de aventureiros que queriam recriar a experiência do jovem. Para muitos, a jornada até o ônibus era uma busca por autodescoberta.

Porém, essa expedição vem com riscos. Os desafios incluem terreno pantanoso, clima imprevisível e, principalmente, o rio Teklanika, cuja correnteza se intensifica no verão devido ao degelo. Foi esse rio que impediu McCandless de voltar, também levando vários turistas ao mesmo destino trágico.

Tragédias no caminho para o ônibus 142

O primeiro grande alerta ocorreu em 2010, quando a alpinista suíça Claire Ackermann perdeu a vida tentando atravessar o rio Teklanika. O caso deixou claro que a trilha não era apenas uma aventura, mas um verdadeiro risco à vida.

Em julho de 2019, a tragédia se repetiu. A bielorrussa Veramika Maikamav, de apenas 24 anos e recém-casada, foi arrastada pelas águas do Teklanika na frente do marido. O casal havia viajado ao Alasca para viver a experiência perfeita, e o desfecho foi tão devastador quanto o de McCandless.

Segundo registros, mais de 15 operações de resgate foram realizadas nos últimos anos para salvar turistas presos ou feridos no caminho até o ônibus. Alguns escaparam por pouco, mas outros nunca mais voltaram.

A remoção do ônibus: fim da maldição?

Diante do aumento das tragédias, as autoridades decidiram agir. No dia 18 de junho de 2020, a Guarda Nacional do Alasca retirou o ônibus 142 de seu local original com um helicóptero CH-47 Chinook. A intenção era clara: preservar vidas e evitar mais tragédias.

Hoje, o ônibus está sob a proteção da Universidade do Alasca em Fairbanks, no Museum of the North, onde será restaurado e exibido com segurança. Apesar disso, para muitos aventureiros, a verdadeira essência do ônibus sempre foi seu isolamento no coração do Alasca.

A polêmica em torno de McCandless e seu legado

Desde a publicação de Na Natureza Selvagem, a figura de McCandless gera discussões. Para alguns, ele é um exemplo de coragem e autenticidade, alguém que buscou significado fora da vida consumista. Para outros, especialmente os habitantes do Alasca, ele foi um jovem inconsequente e despreparado.

Independente das opiniões, McCandless deixou uma marca profunda e transformou um simples ônibus abandonado em um verdadeiro santuário moderno. A chamada “maldição do ônibus” não se resume apenas nas mortes, mas no paradoxo entre o sonho e o perigo: buscar liberdade em um dos lugares mais hostis do planeta.

O ônibus de Chris McCandless se tornou mais que um abrigo; agora é um ícone repleto de significados, de armadilha mortal a palco de histórias que mesclam idealismo e tragédia. A decisão de removê-lo em 2020 pode ter encerrado um ciclo de mortes, mas a simbologia do local permanece viva.

Sua jornada, e a de todos que tentaram repetir sua travessia, reforça que a natureza, com sua beleza e selvageria, não perdoa a ingenuidade.

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