Descoberto o fator que atrai mosquitos para a pele humana

Pesquisadores descobriram recentemente por que algumas pessoas parecem ser verdadeiros ímãs para mosquitos. O estudo mostrou que altas concentrações de ácidos carboxílicos expelidos pela pele funcionam como um convite irresistível para esses insetos. Realizada em uma arena ao ar livre na Zâmbia e publicada em maio de 2023 na revista Current Biology, a pesquisa também revelou que indivíduos com um maior nível de eucaliptol em seu odor natural têm menos chance de serem atacados.
Esse conhecimento é essencial, especialmente quando olhamos para o impacto da malária, que em 2023 causou 608 mil mortes e 249 milhões de casos ao redor do mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. Compreender como o odor humano pode influenciar a atração dos mosquitos é um passo importante para melhorar as estratégias de prevenção.
Laboratório ao ar livre para testes mais reais
Para entender melhor o comportamento dos mosquitos, a equipe de Conor McMeniman, da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins, construiu um “viveiro” coberto por uma tela fina, medindo 20 m². Câmeras de infravermelho monitoravam 200 fêmeas de Anopheles gambiae, o principal vetor da malária na África Subsaariana.
Seis voluntários dormiam em tendas próximas, isolados. Ventiladores puxavam ar de cada abrigo e direcionavam para almofadas aquecidas, simulando a temperatura da pele humana. O ar variava entre odor puro e o odor misturado com dióxido de carbono (CO₂), um gás que todos nós exalamos. Os mosquitos eram atraídos apenas quando o CO₂ se combinava com o odor corporal, o que mostrava que a respiração funciona como um sinalizador, enquanto o cheiro é o grande atrativo.
O que atrai e o que afasta os mosquitos
Substâncias que aumentam o risco
- Ácidos carboxílicos (como butírico e pentanoico): Esses compostos, produzidos por bactérias da nossa pele, criam um cheiro marcante que atrai os mosquitos.
- Transpiração ácida e microbiota desequilibrada: Uma dieta rica em proteínas fermentáveis e algumas alterações hormonais podem favorecer a produção desses ácidos.
Substâncias que reduzem o risco
- Eucaliptol: Encontrado em ervas como manjericão e alecrim, esse composto ajuda a confundir os mosquitos. Voluntários que tinham níveis mais altos de eucaliptol sofreram até 60% menos ataques.
- Higiene equilibrada e consumo de plantas aromáticas: Esses hábitos adicionam camadas de aroma que dificultam a identificação pelo olfato dos mosquitos.
Porque alguns atraem mosquitos mesmo após o banho
Além do olfato, fatores como genética, tipo sanguíneo, gravidez e até a cor da roupa influenciam a atração. Importante lembrar que o "cheiro-base" – uma mistura de sebo, suor e microbiota – persiste mesmo após o uso de sabonete. Essa microbiota se recupera rapidamente, aumentando a presença dos ácidos carboxílicos, e quem se exercita à noite ou consome álcool libera mais CO₂, o que potencializa o efeito de “ímã de mosquitos”.
Consequências para a saúde pública
A malária continua sendo um desafio global. Embora ações como redes impregnadas com inseticidas e vacinas em teste tenham trazido avanços, a atração dos mosquitos é um entrave crítico. Identificar a mistura química que torna algumas pessoas mais atrativas pode levar a novas soluções, como:
- Repelentes personalizados que neutralizam ácidos carboxílicos.
- Cosméticos enriquecidos com eucaliptol.
- Sensores que rastreiam as comunidades com maior risco.
- Dietas comunitárias que incluam temperos aromáticos para reduzir a atratividade.
Estratégias práticas para o dia a dia
Aqui estão algumas dicas simples para se proteger:
- Aplique repelentes com DEET ou icaridina antes do anoitecer.
- Use roupas claras, longas e folgadas para cobrir a pele.
- Inclua folhas de louro e alecrim na alimentação para aumentar a ingestão de eucaliptol.
- Verifique se as telas das janelas estão em boas condições e elimine qualquer foco de água parada, onde as larvas podem se desenvolver.
O que o estudo promete para o futuro
Os pesquisadores acreditam que as arenas abertas devem substituir os laboratórios menores em estudos futuros. A entomologista Stephanie Rankin-Turner ressalta que essa abordagem permite considerar condições naturais, como vento e umidade, que são ignoradas em ambientes fechados, mas são cruciais para entender o comportamento dos mosquitos.
Dessa forma, a ciência busca se aproximar de soluções eficazes em regiões onde a malária ainda representa uma grave ameaça.
Questões futuras
Como podemos ajustar o microbioma da pele para reduzir a atração dos mosquitos? E qual a quantidade necessária de eucaliptol na dieta para quebrar esse efeito em uma população? Pesquisadores já planejam novos ensaios clínicos com voluntários que serão suplementados com óleo essencial, mas os resultados só devem aparecer em alguns anos.
Agora, que tal experimentar novas receitas ricas em ervas aromáticas e ver se elas fazem diferença em encontros com os mosquitos?