Brasil adquiriu o Acre em 1903 por R$ 2,5 bilhões atuais

O Brasil comprou o Acre em 1903, mas essa história é bem mais rica e complicada do que parece. Antes de ser parte do nosso país, o Acre passou por momentos intensos: foi independente por três vezes, quase virou terreno americano e ainda ficou no meio de uma verdadeira corrida pela borracha. A negociação de um século atrás continua a gerar curiosidade e ressentimentos, especialmente na Bolívia, que se viu sem esse território durante um período de disputas econômicas e políticas.
A compra do Acre não foi apenas uma transação comum. Envolveu um mix de interesses estratégicos, revoluções armadas e o empenho do Barão do Rio Branco, um cara que soube jogar bem suas cartas. O acordo custou ao Brasil o equivalente a bilhões de reais hoje e incluía a promessa de construir a ferrovia Madeira-Mamoré, que, na verdade, se transformou em um dos maiores problemas da engenharia brasileira.
A corrida pela borracha e o início da disputa
No final do século XIX, a borracha era o “ouro branco”, um produto essencial para várias indústrias na Europa e nos Estados Unidos. A floresta amazônica, com suas seringueiras, se tornou um campo de batalha.
Seringueiros brasileiros começaram a invadir áreas que oficialmente pertenciam à Bolívia, criando seringais e acumulando fortunas, especialmente no Amazonas. O ponto crítico é que o Tratado de Ayacucho, de 1867, reconhecia o Acre como território boliviano. Com tanta gente do Brasil por lá, a tensão tomou conta. A Bolívia até cogitou entregar a região a empresários americanos e britânicos, o que deixou o Brasil em alerta.
A independência proclamada por um espanhol
Em 1899, uma figura improvável, o espanhol Luis Gálvez Rodríguez de Arias, tomou a dianteira. Ele percebeu o plano da Bolívia de entregar o Acre a estrangeiros e decidiu proclamá-lo independente. Com um apoio inesperado do governador do Amazonas, criou uma bandeira, instituiu ministérios, escolas e até formou um pequeno exército. Mas essa independência durou pouco: apenas seis meses antes de ser derrubado.
Esse foi só o primeiro de três episódios de declaração de independência no Acre. Todas as tentativas acabaram em fracasso, mas acirraram ainda mais a disputa envolvendo os dois países.
O papel de Plácido de Castro e a Revolução Acriana
A tensão atingiu seu auge entre 1902 e 1903, quando Plácido de Castro, um militar gaúcho, liderou os seringueiros armados em batalhas contra as tropas bolivianas. Com algumas vitórias importantes, conquistaram a capital, Rio Branco, e proclamaram a independência novamente. Essa pressão popular fez o governo brasileiro perceber que era hora de agir.
O Tratado de Petrópolis: a compra oficial
Em 17 de novembro de 1903, o Barão do Rio Branco assinou o Tratado de Petrópolis, um acordo em que o Brasil se comprometeu a pagar 2 milhões de libras esterlinas, algo em torno de R$ 2,5 bilhões nos dias de hoje, à Bolívia. Além desse valor, o Brasil prometeu construir a ferrovia Madeira-Mamoré, que teria o objetivo de facilitar o escoamento dos produtos bolivianos pela Amazônia.
O acordo foi visto como um triunfo da diplomacia, mas a ferrovia acabou se transformando em um verdadeiro pesadelo. Mais de 2 mil dos 22 mil operários que trabalharam nela perderam a vida devido a doenças tropicais.
Acre: de território esquecido a estado brasileiro
Depois da compra, o Acre não se tornou estado imediatamente. Foi administrado como Território Federal e toda a arrecadação era destinada à União. Só em 1962 o Acre foi elevado à categoria de estado, após longas lutas políticas. Mesmo assim, a fama de “estado que não existe” persistiu, reforçada pelo seu isolamento geográfico e piadas que deixam de lado sua relevância histórica e cultural.
O ressentimento boliviano e a curiosidade brasileira
Mais de um século depois, a compra ainda continua a gerar polêmica. Em 2006, o então presidente boliviano Evo Morales chegou a afirmar que o Acre foi “trocado por um cavalo”, em referência ao fato de que a prometida ferrovia nunca trouxe os benefícios esperados. Aqui no Brasil, a história é vista com um olhar irônico, mas muitos ainda desconhecem suas complexidades.