Viagem de trem mais longa do mundo está de volta; você iria?

Existe algo encantador em viajar de trem, atravessando continentes e observando o mundo passar pela janela. Entre as rotas mais míticas do planeta está aquela que liga Portugal a Singapura, uma jornada impressionante de 21 dias e cerca de 18.755 quilômetros. Imagine fazer essa travessia por 13 países, mas a realidade geopolítica atual tornou o sonho de explorar essa rota um pouco mais complicado.
Essa jornada começa na pitoresca cidade de Lagos, em Portugal, e passa por lugares como Espanha, França, Alemanha, Polônia, Bielorrússia e Moscou. De lá, o viajante embarca na famosa Ferrovia Transiberiana, que leva até Pequim, na China. A partir da capital chinesa, a aventura segue rumo ao sul, passando pelo Laos, Tailândia e Malásia, até chegar ao destino final: Singapura. Não se engane, essa não é uma viagem que você faz com um simples bilhete. É necessário montar um quebra-cabeça com várias passagens, já que cidades como Paris, Moscou e Pequim funcionam como pontos de conexão essenciais.
Um ponto chave dessa travessia é a Ferrovia China-Laos, que foi inaugurada em dezembro de 2021. Essa obra conectou a vasta rede ferroviária da China à do Sudeste Asiático, tornando a odisseia uma realidade logística.
A impossibilidade atual da viagem
A verdade é que essa rota não pode ser realizada neste momento. O serviço de trem direto que fazia a ligação entre Europa Ocidental e Ásia — como os trens que circulavam entre Paris e Moscou — foi suspenso. Isso ocorre especialmente em função do conflito na Ucrânia, que resultou em uma série de restrições e adicionou complexidade à viagem. Desde a invasão, os serviços ferroviários entre a Rússia e muitos países da União Europeia foram interrompidos, tornando esse trecho da viagem impossível. Curiosamente, essa nova impossibilidade fez com que a fama da experiência aumentasse, quase transformando-a em uma lenda contemporânea.
Vistos e custos para brasileiros
Mesmo com a rota suspensa, se você está pensando em algo parecido, é bom ficar atento a vistos e custos. Para os brasileiros, a documentação pode parecer um labirinto, mas existem algumas vantagens. Nos países do Espaço Schengen (Portugal, Espanha, França, Alemanha, Polônia), é possível ficar até 90 dias sem visto, mas é preciso requerer a autorização de viagem ETIAS. Na Bielorrússia e na Rússia, a isenção para 90 dias também se aplica. A China acabou de anunciar que a partir de junho de 2025, brasileiros não precisarão mais de visto para estadias de até 30 dias. No Laos, é necessário o famoso visto na chegada, enquanto na Tailândia a isenção é válida por até 90 dias. Para a Malásia, além da isenção, é importante ter o Certificado de Vacinação contra Febre Amarela e preencher o Malaysia Digital Arrival Card (MDAC). Já em Singapura, você pode entrar sem visto, mas não esqueça de fazer o Singapore Arrival Card (SGAC).
Em relação aos custos, as estimativas podem ficar distantes da realidade. Os 1.200 euros frequentemente mencionados podem ser muito otimistas. Um orçamento mais realista para as passagens poderia girar entre 2.000 a 2.500 euros, enquanto uma experiência mais confortável poderia facilmente ultrapassar 4.000 a 5.000 euros.
As experiências de cada trecho da rota
Cada parte dessa jornada oferece uma imersão cultural incrível. A viagem começa na tranquilidade de Lagos, em Portugal, e rapidamente se enriquece com a rapidez dos trens europeus.
A Ferrovia Transiberiana é, sem dúvida, o coração dessa odisséia. Essa etapa é uma verdadeira aula sobre o tempo e a distância, com paisagens de tirar o fôlego ao longo da Sibéria. E quando você chega na China, a experiência se transforma com os trens de alta velocidade que conectam as cidades, levando os viajantes até Kunming.
A nova linha de Kunming a Vientiane oferece uma visão moderna da viagem pelo Laos em um trem-bala. Para seguir em frente até a Tailândia, a forma clássica de viajar seria nos trens-camas noturnos, uma maneira memorável de cruzar o Sudeste Asiático. Por último, o trecho pela Malásia até Singapura é o mais complicado, exigindo várias conexões de trem ou, simplesmente, um ônibus direto de Kuala Lumpur.
Outras grandes odisseias ferroviárias no mundo
Se você está à procura de uma aventura ferroviária que seja viável, existem outras opções incríveis por aí. Uma delas é a The Canadian, que vai de Toronto a Vancouver, percorrendo 4.466 km em quatro dias. Essa rota é famosa pela travessia das Montanhas Rochosas e, embora tenha seus atrasos, promete vistas espetaculares. Outra opção é a The Indian Pacific, que liga Sydney a Perth na Austrália. Essa jornada de 4.352 km leva quatro dias e é sinônimo de luxo, com refeições e excursões ao longo do caminho.