Resgate histórico de navio no Mediterrâneo custa mais de US$ 1 bi

O naufrágio do Costa Concordia ainda gera um certo desconforto nas conversas sobre engenharia marítima. Isso não é só pela tragédia, que resultou em 32 vidas perdidas, mas também pela complexidade de tudo que aconteceu depois. Jamais alguém havia tentado resgatar um navio dessa magnitude, que se encontrava tombado na costa italiana, preso entre rochas e ameaçando um dos ecossistemas mais frágeis do Mediterrâneo.
O que começou como uma verdadeira catástrofe se transformou na maior e mais custosa operação de salvamento marítimo da história. O investimento, que chegou a impressionantes 2 bilhões de dólares, mobilizou especialistas de várias partes do mundo. O próprio Costa Concordia, com suas 114 mil toneladas, 290 metros de comprimento e 17 andares, virou um verdadeiro laboratório flutuante para engenheiros e mergulhadores, que testaram limites desconhecidos.
Em meio a toda essa situação, a Itália tinha a urgência de impedir que o combustível do navio vazasse em um espaço tão crítico do meio ambiente. Com o risco eminente, era preciso agir rapidamente para proteger a região.
## O momento decisivo: estabilizar um gigante prestes a desabar no mar
No fatídico dia 13 de janeiro, o Costa Concordia encalhou em um recife e ficou praticamente deitado como se fosse um prédio tombado. Com água invadindo os conveses e um casco danificado, cada movimento das marés aumentava o risco do navio deslizar para um abismo submarino de 70 metros de profundidade.
Nos primeiros dias, a prioridade do governo italiano foi retirar o combustível, em uma operação chamada de “defueling”. Foi uma missão complicada, que envolveu perfurar tanques deformados, controlar vazamentos e bombear óleo, tudo isso em condições bastante adversas. A empresa holandesa Smit Salvage liderou essa etapa, que levou quase dois meses.
Depois disso, um novo desafio começou: como levantar um navio de 114 mil toneladas que estava tombado e preso entre as rochas? O engenheiro sul-africano Nick Sloane, especialista em situações extremas, ficou à frente dessa questão. Para ele, a operação tinha o potencial de ser “a Catarse do século da engenharia marítima”. Ele e a Titan Salvage, em parceria com a italiana Micoperi, desenvolveram um plano aprovado pelo governo.
## A manobra que virou símbolo: o “parbuckling” que reergueu o navio
A solução adotada ficou famosa como “parbuckling”, uma técnica clássica para virar embarcações, mas que, até então, nunca tinha sido usada em algo desse porte. O plano envolvia a construção de enormes plataformas submersas, fixadas com pilares cravados no fundo do mar. Depois, cabos hidráulicos e cilindros de aço seriam usados para tracionar o navio até reerguê-lo.
A manobra começou no dia 16 de setembro de 2013 e durou cerca de 19 horas. O mundo acompanhou ao vivo. O casco rangeu, a estrutura estalou e, centímetro por centímetro, o Costa Concordia foi se levantando até que, finalmente, ficou em pé sobre as plataformas. Essa imagem se tornou um marco na engenharia marítima.
Enquanto isso, os custos aumentavam sem parar. Cada nova fase exigia equipamentos nunca vistos antes, feitos sob medida para a operação. Flutuadores gigantes foram fabricados e anexados ao navio para permitir que ele voltasse a flutuar. Apenas essa parte da operação adicionou centenas de milhões ao orçamento final.
Finalmente, em julho de 2014, o Costa Concordia voltou a flutuar. No dia 23 daquele mês, rebocadores deram início à lenta viagem até o porto de Génova, onde a desmontagem levaria vários anos.
## Por que o resgate foi tão caro? Tecnologia, risco ambiental e engenharia sob medida
O que aconteceu com o Costa Concordia não tem paralelo. Nunca um navio tão grande havia sido resgatado. Isso significou que não havia soluções pré-fabricadas para um desastre desse tipo. Praticamente tudo teve que ser criado do zero: plataformas, flutuadores, cilindros hidráulicos, sistemas de cabos, softwares de simulação e estruturas de suporte.
Qualquer erro poderia ter sérias consequências, tanto ambientais quanto financeiras. A Itália estava preocupada que o casco escorregasse e rompesse, liberando resíduos tóxicos no mar. Por isso, o monitoramento era constante, com centenas de especialistas trabalhando em turnos.
Avaliar o custo total da operação é complicado, mas estima-se que ficou entre 1,2 e 2 bilhões de dólares. Em 2014, uma fonte informou que os gastos ultrapassavam 1,5 bilhão de euros.
Esse resgate gerou um legado técnico sem igual. Tornou-se um estudo de caso em diversas universidades e é referência em seminários sobre engenharia naval. Nick Sloane, por sua vez, se consolidou como um dos maiores especialistas mundiais em salvamentos complexos.
Esse trabalho não foi apenas um resgate; foi uma demonstração do que é possível quando engenheiros, mergulhadores e cientistas se unem para resolver problemas que pareciam impossíveis.



