Redes sociais e morte: o que acontece com contas digitais?

A herança digital é um assunto que está ganhando força nos tribunais brasileiros. Antigamente, pensávamos que herança era só sobre imóveis, carros e contas bancárias. Mas agora, no século XXI, estamos percebendo que nossos ativos digitais — como perfis em redes sociais e contas em plataformas online — têm um valor considerável e podem ser herdados.
Imagine o que acontece com suas fotos no Instagram, suas playlists no Spotify ou mesmo suas criptomoedas quando você não está mais aqui. Essa é uma preocupação que muitos estão começando a ter, e a Justiça já está respondendo a essas questões.
Tribunais reconhecem a herança digital
A boa notícia é que muitos tribunais, incluindo o STJ, já têm reconhecido que esses bens digitais também fazem parte do patrimônio de alguém que faleceu. A base legal para isso está no Código Civil, que fala sobre a herança de todos os bens. A ausência de uma distinção entre o que é físico e digital permite que tudo isso seja transmitido para os herdeiros.
Assim, mesmo sem uma lei específica falando sobre herança digital, essa ideia já começa a ganhar forma e aceitação no Brasil.
Casos reais no Brasil
Em São Paulo, por exemplo, um tribunal decidiu que a família poderia acessar mensagens e fotos de uma conta de rede social de um falecido. A justificativa foi que esse conteúdo era parte da memória afetiva da família e deveria ser preservado.
No Rio Grande do Sul, outro caso discutiu as milhas acumuladas em programas de fidelidade, reconhecendo que esses pontos têm valor real e, portanto, fazem parte da herança. Esses exemplos mostram que a Justiça já está se adaptando a essa nova realidade digital.
As polêmicas sobre redes sociais
Por outro lado, o debate continua sobre o que fazer com contas em redes sociais após a morte. Plataformas como Facebook, Instagram e Google têm suas próprias regras.
- O Facebook permite transformar um perfil em um “memorial”, mas o acesso a mensagens privadas só acontece com ordem judicial.
- O Instagram oferece a opção de congelar a conta como forma de homenagem.
- O Google criou um “Gerenciador de Contas Inativas”, onde você pode indicar quem pode ter acesso.
Se não houver essas configurações, a Justiça é chamada a decidir o que fazer com esses perfis, e é nesse ponto que a herança digital se torna relevante.
O valor econômico do mundo digital
Além de ser uma questão emocional, a herança digital pode ter um valor econômico significativo.
- Influenciadores digitais podem ter milhões de seguidores e canais que geram receita.
- Compras em plataformas como Amazon e Apple podem resultar em bibliotecas digitais que, somadas, valem muito.
- E não podemos esquecer das criptomoedas e NFTs, cujos valores são elevados, mas dependem de senhas e chaves que nem sempre estão bem documentadas.
Caso não haja regras claras, pode haver uma perda total desse patrimônio se os herdeiros não conseguirem acessar essas contas.
Projetos de lei sobre herança digital
Atualmente, no Congresso Nacional, existem projetos que buscam regulamentar a herança digital. Eles pretendem definir quais dados e contas podem ser transferidos, como isso acontecerá e quais limites existem em relação à privacidade do falecido.
A expectativa é que o Brasil adote uma legislação semelhante à de alguns países da Europa, que já reconheceram os direitos sobre bens digitais.
Desafios jurídicos e éticos
As discussões em torno da herança digital também levantam questões éticas importantes:
- Os herdeiros devem ter acesso a todas as mensagens privadas do falecido?
- O direito à privacidade continua mesmo após a morte?
- Até onde os herdeiros podem usar ou até mesmo vender o conteúdo encontrado?
Essas questões ainda estão abertas e podem gerar muitos debates nos tribunais nos próximos anos.
Um tema cada vez mais urgente
À medida que a tecnologia avança, acumulamos mais bens digitais do que físicos. Fotos, músicas, senhas e seguidores podem representar uma verdadeira fortuna invisível que, muitas vezes, acaba esquecida nos inventários.
Um bom planejamento é essencial para garantir que esse patrimônio não se perca. As decisões recentes dos tribunais mostram que a herança digital já faz parte da discussão sobre sucessão patrimonial e precisa ser protegida.
Herança digital: o patrimônio invisível que já é realidade
A herança digital deixou de ser um conceito abstrato. Perfis em redes sociais, canais de YouTube e até criptomoedas já são reconhecidos como parte do patrimônio de quem faleceu.
É hora de a legislação se consolidar e estabelecer regras claras, protegendo os direitos dos herdeiros e respeitando a memória dos que partiram. Enquanto isso, cada vez mais pessoas estão buscando a Justiça para acessar esses bens digitais — um sinal de que o futuro do patrimônio já chegou.