Por que sua tela nunca reproduz todas as cores disponíveis

Em 2015, uma foto de um vestido tomou conta da internet: era azul e preto ou branco e dourado? O que parecia apenas uma brincadeira revelou algo muito mais intrigante sobre como percebemos as cores. A verdade é que as cores que vemos na tela do computador ou do celular não são uma representação precisa da realidade. Ninguém consegue mostrar todas as cores que existem, e isso se deve a várias razões, envolvendo biologia, física e a tecnologia que está por trás de cada pixel.
Quando olhamos para as telas, nossa percepção é um tanto interpretativa, tanto da parte da máquina quanto do nosso cérebro. Então, vamos mergulhar um pouco nesse tema.
Como a sua tela “cria” cores? O mundo RGB
Primeiro, para entender essas limitações, é necessário conhecer como um monitor funciona. Cada imagem na tela é composta por pequenos pontos chamados pixels. E cada pixel é formado por três sub-pixels: um vermelho (Red), um verde (Green) e um azul (Blue), formando o famoso sistema de cores RGB.
Mudando a intensidade de brilho desses três sub-pontos de luz, a tela consegue gerar uma variedade infinita de cores. Com um padrão comum de 8 bits, cada cor primária pode variar em 256 níveis de intensidade. Fazendo as contas, isso resulta em aproximadamente 16,7 milhões de cores que um monitor pode exibir. Embora essa quantidade pareça impressionante, a realidade é que existe uma paleta muito maior lá fora.
O problema: o que fica de fora da tela
A ciência tentou mapear todas as cores que o olho humano consegue perceber. O resultado foi um gráfico em forma de ferradura conhecido como diagrama de cromaticidade CIE 1931. Ele ilustra o espectro completo da visão humana.
Porém, o sistema RGB utilizado nas telas consegue reproduzir apenas uma fração desse espectro. O padrão de cores de muitos monitores, chamado de sRGB, deixa de fora muitos tons vibrantes, especialmente os verdes e azuis mais intensos que podemos encontrar na natureza.
Além disso, existem pigmentos naturais únicos que nenhuma combinação de luz vermelha, verde e azul consegue replicar corretamente. Harvard, por exemplo, possui uma coleção com mais de 3 mil pigmentos raros, como o azul ultramarino, que são impossíveis de serem reproduzidos com fidelidade nas telas.
O fator final: seu cérebro também te engana
Mas não é apenas a tecnologia que limita nossa percepção de cores; nosso cérebro também tem um papel importante nessa história. A cor não é uma característica imutável dos objetos, mas sim uma interpretação que nosso cérebro faz a partir da luz que entra nos nossos olhos.
Voltando ao vestido polêmico, ele foi fotografado sob uma iluminação muito específica, que tinha tons alaranjados. Assim, cada pessoa tentou "ajustar" a cor do vestido, de acordo com a iluminação que imaginava estar presente:
Quem viu azul e preto: O cérebro interpretou o vestido sob uma luz mais quente (amarelada) e “subtraiu” esse tom da imagem, revelando as cores reais.
- Quem viu branco e dourado: O cérebro achou que o vestido estava em uma sombra (com luz azulada) e, portanto, clareou as cores.
No final das contas, o vestido era, de fato, azul e preto. O que essa situação provou foi que a cor é uma experiência subjetiva, influenciada pelo ambiente, pela iluminação e pelas “correções” automáticas que nosso cérebro faz constantemente.
Então, da próxima vez que você analisar uma foto, lembre-se: está visualizando uma representação, uma versão simplificada da realidade, tanto por causa das limitações da tela quanto pelas incríveis interpretações que seu cérebro faz do mundo ao seu redor.