Mural de 4.000 anos no Peru revela rituais e símbolos cósmicos

Arqueólogos no Peru fizeram uma descoberta incrível: um mural tridimensional de 4.000 anos! O achado aconteceu no sítio arqueológico de Huaca Yolanda, localizado no Vale de Tanguche. Essa nova peça da história foi divulgada pelo jornal britânico The Guardian no início de setembro de 2025.
Com impressionantes quase seis metros de comprimento e 2,9 metros de altura, o mural se destaca por suas cores vibrantes, como azul, amarelo, vermelho e preto. As figuras em alto-relevo são complexas e atraem a atenção dos especialistas e do público. No centro, encontramos uma ave de rapina com as asas abertas e uma cabeça adornada com padrões em forma de diamante. Essa imagem, além de bela, carrega simbolismos de poder, espiritualidade e conexão com o mundo celeste.
A visão de uma civilização antiga
Ana Cecilia Mauricio, arqueóloga-chefe da Pontifícia Universidade Católica do Peru, descreve essa descoberta como “verdadeiramente sem precedentes”. O mural traz ainda peixes estilizados, redes de pesca, criaturas míticas e símbolos cósmicos. Esses elementos apontam para uma forte ligação entre a natureza, o cosmos e as práticas religiosas e sociais da época. É uma prova clara de que as primeiras sociedades peruanas possuíam uma forma sofisticada e complexa de expressão artística.
Decodificando o significado
As imagens do mural também revelam informações sobre a hierarquia social daquela época. Mauricio destaca que os xamãs eram figuras centrais, possuindo conhecimento sobre plantas medicinais e astronomia. Um detalhe curioso é a cena em que um humano se transforma em pássaro. Essa representação pode estar ligada a rituais xamânicos, que envolviam estados alterados de consciência por meio de substâncias, como o cacto San Pedro, muito utilizado nos Andes.
O templo e sua função
Os pesquisadores acreditam que o mural ornamentava o interior de um templo, espaço utilizado em cerimônias religiosas durante o período formativo, que vai de 2000 a.C. a 1000 a.C. Nesse período, surgiram as primeiras sociedades complexas do Peru, marcadas por avanços na agricultura e a construção de centros urbanos e espaços cerimoniais. Portanto, o mural não é apenas uma obra de arte; é uma importante chave para entendermos a vida social e espiritual de quem o criou.
Semelhanças e diferenças
O mural de Huaca Yolanda apresenta algumas semelhanças com outros encontrados em diferentes sítios do Peru. Contudo, seu estilo costeiro, com forte influência de elementos marinhos e de pesca, o diferencia de murais encontrados em Chavín de Huántar, nas montanhas, que retratam animais da selva. Isso mostra como a geografia e o ambiente moldavam as expressões culturais de cada sociedade.
Ameaças à preservação
Apesar da importância do mural, Huaca Yolanda não é oficialmente protegido. O local enfrenta ameaças como o avanço da urbanização, a agricultura e saques. Ana Cecilia Mauricio alerta que algumas ruínas já foram danificadas por construções ilegais nas proximidades. Ela clama por uma intervenção do Ministério da Cultura do Peru e das autoridades locais para garantir a preservação do mural, pois, sem ações urgentes, a perda desse tesouro cultural é uma possibilidade real.
Um olhar para o futuro
Desde 2012, a equipe de Mauricio vem explorando a região em busca de mais informações sobre as primeiras sociedades costeiras. O foco é entender como esses grupos interagiam com o ambiente e como enfrentavam fenômenos como o El Niño, que afeta a região há séculos. A descoberta deste mural abre uma nova perspectiva sobre esse passado complexo, revelando não apenas a arte, mas também a espiritualidade, a ciência e as relações sociais de uma civilização que ajudou a moldar a rica cultura do Peru.