Médico brasileiro criou método acessível para raios-X pulmonar

Manuel Dias de Abreu, um médico brasileiro nascido em 1891 em São Paulo, está na história como o inventor de um método revolucionário de radiografia do pulmão. No início do século XX, tanto a radiologia quanto a pneumologia eram áreas ainda em desenvolvimento, mas Abreu se destacou ao aliar suas pesquisas na França e no Brasil ao uso dos raios-X. Sua grande sacada veio na década de 1930, quando percebeu que a tuberculose era uma das doenças mais perigosas da época e que a escassez de exames baratos dificultava um diagnóstico precoce.
Em 1936, ele desenvolveu a abreugrafia, uma técnica simples e acessível que permitia fotografar os pulmões de forma rápida. Essa inovação foi uma bênção, já que fez da triagem da tuberculose uma realidade para muitos que não tinham acesso a tratamentos convencionais.
A invenção que democratizou os raios-X
A contribuição de Abreu foi essencial na democratização do acesso aos exames de saúde. Ele uniu a radiologia à fotografia, criando uma metodologia que utilizava filmes de 35 milímetros, ao contrário das chapas grandes e caras exigidas por outros tipos de exames. Com isso, o custo por paciente caiu drasticamente, e foi possível examinar milhares de pessoas diariamente.
A mecânica do exame era bastante engenhosa. A máquina emitia raios-X sobre o tórax, projetando a imagem em uma tela para que uma câmera fotográfica pudesse registrá-la. Essa abordagem rápida e portátil possibilitou que a abreugrafia fosse realizada em caminhões adaptados, percorrendo áreas urbanas e rurais.
A ferramenta que salvou milhares de vidas
Graças à abreugrafia, campanhas de triagem em massa puderam ser realizadas, e o Brasil se tornou referência global no combate à tuberculose, que era a principal causa de morte por doenças infecciosas no país. O método logo encontrou seu lugar em países como Japão, Estados Unidos e diversas nações europeias, fazendo de Abreu um nome respeitado na medicina.
Durante as décadas de 1940 e 1950, milhões de brasileiros foram examinados anualmente. O exame se tornou um requisito para a obtenção de carteira de trabalho e matrícula em escolas, ajudando na detecção precoce de casos de tuberculose e na interrupção da transmissão comunitária. Em 1946, o impacto de sua descoberta garantiu a Abreu uma indicação ao Prêmio Nobel de Medicina.
Reconhecimento e descontinuação do método
A abreugrafia permaneceu relevante por quase quatro décadas e é considerada uma das tecnologias mais significativas na saúde pública. Entretanto, a crescente preocupação com a exposição à radiação levou à sua substituição por métodos mais seguros. Em 1974, a Organização Mundial da Saúde recomendou o uso de radiografias digitais e exames laboratoriais, como a pesquisa do Bacilo de Koch no escarro, em vez da abreugrafia.
Apesar de ter sido descontinuada, essa técnica foi crucial na formação de políticas de triagem e controle epidemiológico no Brasil.
O legado do médico brasileiro que levou ciência à população
O trabalho de Manuel de Abreu vai além de uma simples invenção. Ele representa um marco de acesso universal à saúde. Ao tornar uma tecnologia complexa e dispendiosa em uma ferramenta prática, Abreu salvou vidas e ajudou a reduzir desigualdades de acesso aos cuidados de saúde.
A sua trajetória é um exemplo de como a ciência pode ser uma aliada poderosa nas políticas públicas. Embora a abreugrafia não seja mais utilizada ativamente, seu conceito ainda ressoa nas campanhas de rastreamento e na filosofia da medicina preventiva. A invenção de Abreu simboliza a criatividade e a humanidade aplicadas à ciência, destacando o papel do Brasil na história da inovação médica mundial.