Jovem brasileira de 15 anos destaca-se ao detectar asteroides na NASA

Em 2021, uma jovem brasileira ganhou destaque no cenário da ciência amadora ao ajudar a detectar oito possíveis novos asteroides. Rafaella Amorim Rios, que tinha apenas 15 anos na época, se tornou notícia em todo o país por sua participação no programa “Caça Asteroides”. Essa iniciativa conecta estudantes a dados de observatórios internacionais, e a trajetória dela inspirou muitos jovens a observarem o céu com olhos mais curiosos e científicos.
Mas, como costuma acontecer, atrás das manchetes existe um processo bem mais complicado e demorado. Mesmo que a brasileira esteja em evidência por suas detecções, esses achados ainda estão em estágio preliminar. Para que um asteroide seja oficialmente “descoberto” e receba um nome escolhido pelo descobridor, é preciso passar por uma validação que pode levar de 5 a 10 anos, segundo especialistas.
O programa e a metodologia de detecção
Rafaella fez parte de uma colaboração entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e o International Astronomical Search Collaboration (IASC), um programa de ciência cidadã apoiado pela NASA. Um detalhe interessante é que ela não estava sozinha nessa jornada. Rafaella fez parte da equipe “Meninas na Ciência” da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que coletivamente foi responsável pelas oito detecções durante as campanhas de análise.
O trabalho desses cientistas cidadãos não envolve simplesmente olhar pelo telescópio. Eles analisam dados de qualidade já captados por instrumentos poderosos, como o telescópio Pan-STARRS no Havaí. Usando softwares como o Astrometrica, os participantes estudam imagens em sequência, identificando pontos que se movem em relação ao fundo fixo de estrelas. Esse trabalho é bem minucioso e precisa do olhar humano, pois muitas vezes os algoritmos não conseguem detectar essas mudanças.
Detecção preliminar vs. descoberta confirmada
É fundamental entender a diferença entre detecções preliminares e confirmações oficiais. As oito detecções feitas pela equipe de Rafaella foram inicialmente classificadas como “Detecções Preliminares” pelo IASC. Isso significa que, embora pareçam válidas, elas ainda não passaram pela verificação do Minor Planet Center (MPC), a principal autoridade sobre esses corpos celestes. O número total de detecções preliminares é impressionante: o IASC já registra mais de 18 mil, mas uma pequena parte avança para a próxima fase.
Quando Rafaella aparece nas manchetes, é porque o grupo atingiu um marco importante nessa etapa inicial. Se as detecções forem confirmadas pelo MPC com dados adicionais, elas ganham uma “Designação Provisória” — um código alfanumérico como 2021 CP66. Muitas detecções iniciais acabam sendo descartadas por serem apenas ruído nos dados ou objetos já conhecidos. Isso torna a cautela científica uma necessidade antes de qualquer comemoração.
A maratona orbital: por que 5 a 10 anos?
O principal desafio para nomear um asteroide é determinar sua órbita com precisão. Para que um objeto passe de “Provisório” para “Numerado” (status que permite a nomeação), ele precisa ser observado em “quatro ou mais oposições”. Uma oposição ocorre quando a Terra está entre o Sol e o asteroide — o momento ideal para observação, que acontece cerca de a cada 13 a 16 meses para objetos do Cinturão Principal.
Esse acúmulo de dados é o que torna a espera longa, pois necessitamos de múltiplas observações ao longo de vários anos. Se o objeto for muito fraco ou estiver em uma posição difícil de observar em algum ano, pode ser que não tenhamos dados suficientes, aumentando ainda mais a espera. Por isso, o processo pode levar até uma década para a validação final.
O privilégio da nomeação
Rafaella sonha em nomear um asteroide em homenagem ao seu ídolo, Carl Sagan, ou a membros da sua família, mas essa possibilidade depende da conclusão de todo o processo. As regras da União Astronômica Internacional (IAU) são claras: o direito de sugerir um nome só é concedido ao descobridor depois que o objeto é oficialmente numerado.
Se um asteroide for numerado, o descobridor tem uma janela de 10 anos para enviar sua sugestão ao comitê da IAU, que decidirá se o nome é apropriado. Até agora, as detecções de 2021 ainda não estão na lista de “descobertas numeradas” do IASC, o que confirma que a jovem astrônoma ainda está na fase de espera desse longo processo.
A história de Rafaella Amorim Rios é uma linda ilustração de como a ciência cidadã pode incentivar jovens talentos e contribuir para a defesa planetária, identificando objetos que as máquinas podem deixar passar. Enquanto a validação final exige paciência e mais anos de dados, o impacto educativo e inspirador de sua participação é imediato e inegável.



