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Estado com maior potencial eólico do Brasil ainda enfrenta apagões

O Brasil está passando por um momento curioso na sua questão energética. A Região Nordeste, conhecida como a ‘Arábia Saudita’ dos ventos, possui um potencial eólico imenso, com 93% da capacidade instalada do país. Mas, ironicamente, enfrenta dois desafios sérios: o desperdício de energia limpa e uma ameaça constante de apagões. Enquanto muitos pensam que as falhas no fornecimento de energia são causadas por problemas locais, a realidade é que a crise é muito mais ampla e afeta todo o território brasileiro.

A questão não é que o Brasil não consiga gerar energia, mas sim que há uma incapacidade de transportá-la. O rápido crescimento dos parques eólicos ultrapassou a capacidade da infraestrutura destinada a essa transmissão. Por isso, em algumas situações, o Operador Nacional do Sistema (ONS) precisa acionar usinas a carvão ou gás, que são mais poluentes e custam mais. Um levantamento da InsideEVs caracterizou esse descompasso entre a geração de energia e as instalações de transmissão como a “pior crise” do setor de energia limpa no Brasil.

Perder energia limpa, que poderia ser utilizada, não é apenas triste — é caro. Um estudo da Volt Robotics apontou que até R$ 1,6 bilhão vão se perder devido a cortes forçados em 2024, resultado da chamada "vertimento" — quando a energia gerada é desligada por falta de capacidade de transporte. Isso acontece, muitas vezes, por infraestrutura deficiente ou por um excesso de produção em determinados momentos.

O Desperdício Nordestino

De acordo com a análise da Volt Robotics, 75% de todos os cortes de energia renovável no Brasil ocorrem no Nordeste. Mais preocupante é que 65% desse desperdício não é por falta de consumo, mas sim por problemas físicos na rede de transmissão, como gargalos e subdimensionamento das linhas.

É importante distinguir entre os tipos de apagões que o Nordeste enfrenta:

  1. Apagões cotidianos, que são mais frequentes e se relacionam a falhas na distribuição. Em 2024, a região registrou 75% das interrupções de energia do Brasil por causas variadas, como colisões de veículos com postes. Estes problemas não têm relação com a geração de energia eólica.

  2. Apagões sistêmicos, embora menos comuns, podem ser devastadores, como o blecaute de 15 de agosto de 2023. Na ocasião, foram desligados 16 mil MW de carga, separando o sistema elétrico do país. Curiosamente, a abundância de energia renovável contribuiu para essa vulnerabilidade, já que a rápida expansão da energia eólica trouxe à tona novas fragilidades na rede.

A Anatomia do Blecaute de 2023

Esse blecaute revelou uma complexidade ainda maior: a instabilidade da rede elétrica. O ONS identificou que, após a falha em uma linha de transmissão, o que desencadeou o colapso foi a “falha no desempenho de equipamentos de parques eólicos e solares”. Ao invés de estabilizar a rede, esses equipamentos se desconectaram, gerando uma reação em cadeia. Diferente das hidrelétricas, que têm uma “inércia” física, as usinas eólicas, conectadas por eletrônica, deixaram a rede do Nordeste mais vulnerável a essas falhas.

Soluções em Andamento

Para tentar solucionar essa situação, o governo e a ANEEL estão se movendo rápido para licitar duas abordagens. Primeiro, estão planejando construir novas linhas de transmissão. Em 2024, leilões de transmissão conseguiram liberar R$ 12,4 bilhões para a criação de 6.300 km de novas linhas no Nordeste, visando acabar com o desperdício.

Em segundo lugar, o ONS está se ocupando da instabilidade com a instalação de Compensadores Síncronos em locais estratégicos. Esses equipamentos atuam como motores que giram em vazio, devolvendo a “inércia” e robustez que a rede precisa, ajudando a evitar colapsos.

O cenário nordestino é um lembrete claro de que, apesar da grande quantidade de energia limpa que o Brasil possui, a falta de planejamento para a infraestrutura necessária a transportá-la e mantê-la está resultando em prejuízos gigantescos e forçando o país a depender de fontes de energia poluentes.

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