Descubra o antigo mapa Ga-Sur de 4.200 anos da Turquia

Desde os tempos em que os humanos começaram a formar sociedades, surgiu uma necessidade fundamental: representar o mundo ao nosso redor. Essa curiosidade em entender regiões, marcar fronteiras e registrar paisagens deu origem a uma das invenções mais impactantes da história: o mapa. Muito antes de satélites, bússolas e GPS, as civilizações antigas já se esforçavam para traduzir seu espaço em símbolos e traçados. Dentre os registros mais antigos, um se destaca: a tabuleta de Ga-Sur, reconhecida como o mapa mais antigo do mundo.
Essa pequena placa de barro, datada de cerca de 4.200 anos atrás (aproximadamente 2.500 a.C.), foi encontrada na região que atualmente corresponde ao Iraque, na antiga Mesopotâmia—o berço de algumas das mais antigas civilizações. O mapa de Ga-Sur não é apenas um artefato, mas um testemunho de como os sumérios possuíam uma compreensão avançada do espaço e da organização de suas terras.
Mapa de Ga-Sur: o início da cartografia na antiga Mesopotâmia
Descoberto nas ruínas da antiga cidade suméria de Nuzi, perto da moderna Kirkuk, o mapa de Ga-Sur está guardado no Museu do Antigo Oriente, em Istambul. Apesar de suas dimensões modestas e de um traço simples, ele revela aspectos extraordinários: ali estão representadas propriedades agrícolas, canais de irrigação e divisões de terrenos. Isso mostra que, mesmo na Idade do Bronze, os sumérios já viam a importância de representar graficamente as terras que cultivavam.
Esse mapa não era só uma ferramenta prática; tinha uma carga simbólica também. Ele não só delimitava espaços físicos, como também refletia a forma de organização social e a visão de mundo de uma sociedade. Assim, é como se o mapa de Ga-Sur fosse a semente da cartografia moderna, um conceito que evoluiria por milhares de anos a partir desse momento.
Mapa mais antigo do mundo: Ga-Sur ou Imago Mundi?
O mapa de Ga-Sur é considerado por muitos como o primeiro traço cartográfico da humanidade. Contudo, há outro forte concorrente para esse título: a Imago Mundi, uma tabuleta babilônica que data de cerca de 600 a.C.
Enquanto o mapa sumério tinha um propósito mais prático, a Imago Mundi é vista como o primeiro mapa-múndi conhecido. Nela, a Babilônia ocupa o centro do universo, rodeada por um grande rio circular—interpretado como um oceano—e com sete “ilhas” representando terras distantes e, muitas vezes, míticas. O mapa mistura conhecimento geográfico, cosmologia e religião, refletindo a compreensão babilônica do cosmos.
Embora a Imago Mundi tenha seu charme, o mapa de Ga-Sur permanece como a evidência mais antiga de um mapa com função prática e administrativa. Ele registra um espaço de forma rudimentar, mas extremamente significativa.
Cartografia antiga: para que serviam os primeiros mapas?
Os primeiros mapas, como o de Ga-Sur, não possuíam a precisão e a escala dos que temos hoje. Mas eram representações simples e repletas de significado. Na Mesopotâmia, esses registros desempenhavam várias funções:
Administrar propriedades agrícolas e sistemas de irrigação, indispensáveis para uma sociedade que dependia da agricultura e das cheias dos rios Tigre e Eufrates.
Organizar a divisão de terras entre templos, nobres e camponeses, assegurando que os limites fossem respeitados.
- Expressar crenças e a visão de mundo, conectando a geografia à cosmologia e à religião locais.
Esses mapas não eram apenas ferramentas administrativas, mas também expressões culturais, ajudando a gerir o território e a reforçar a ordem social e espiritual.
Mapa em argila: o valor simbólico e histórico da tabuleta
O fato de o mapa de Ga-Sur estar inscrito em argila diz muito sobre as tecnologias e tradições da Mesopotâmia. Antes da popularização do papiro e do papel, a argila era o suporte principal para registros escritos e gráficos. Esses tabletes eram gravados com estiletes de madeira ou metal e, depois, cozidos para garantir sua durabilidade.
Isso explica como o mapa sobreviveu por mais de quatro mil anos. A resistência do material não preservou apenas um vestígio de cartografia, mas também uma janela para a mentalidade e as necessidades de uma das primeiras sociedades organizadas.
Da tabuleta de Ga-Sur à cartografia moderna
Da simplicidade de um traço em barro aos sistemas digitais de geolocalização, a história da cartografia percorreu um longo caminho. Após Ga-Sur, surgiram os mapas egípcios, os gregos e romanos, e, séculos depois, os revolucionários trabalhos de Ptolomeu, Al-Idrisi e Mercator, que moldaram nossa visão de mundo.
Hoje, usamos aplicativos de mapas com um simples clique, mas tudo começou com artefatos como o de Ga-Sur. Eles provam que a vontade de representar o espaço e entender nosso lugar no mundo é uma necessidade humana, tão antiga quanto a própria civilização.
Mais do que o “mapa mais antigo do mundo”, a tabuleta de Ga-Sur é um marco na história da cartografia, lembrando-nos de como o pensamento humano evoluiu. Nas linhas simples gravadas na argila, está o início de uma jornada que nos levou das primeiras divisões de terras às imagens de satélite em tempo real. O mapa de Ga-Sur não é só um objeto de museu; é um elo entre passado e presente, mostrando que, desde os primórdios, o ser humano busca compreender, organizar e deixar marcas no mundo que habita.