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Apelo de macaco ameaçado ressoa na COP 30

Os líderes mundiais se encontrarão em novembro em Belém, Pará, para a 30ª Conferência das Partes sobre o Clima (COP 30). O foco principal será discutir como enfrentar a crise climática, mas haverá também uma atenção crescente para a perda de biodiversidade, que está interligada a esse tema. Um exemplo significativo é o macaco kaapori, que, tristemente, já foi extinto na capital paraense e agora é reconhecido como um dos primatas mais ameaçados do mundo.

O kaapori, conhecido cientificamente como Cebus kaapori, é nativo de uma área da Amazônia que abrange o leste do Pará e o Maranhão, uma região marcada pelo intenso desmatamento. Este primata enfrenta ameaças como a caça e os incêndios florestais, que contribuíram para sua inclusão na lista dos 25 primatas mais ameaçados globalmente. A seleção foi feita pelo Grupo Especialista em Primatas da União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN) e a Sociedade Internacional de Primatologia, durante um congresso recente em Madagascar.

Leandro Jerusalinsky, analista ambiental e coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB/ICMBio), comentou que o kaapori está em "Criticamente Em Perigo" de extinção. Ele é considerado o primata mais ameaçado da Amazônia e pode servir como uma espécie-bandeira para a região conhecida como Centro de Endemismo Belém. Nos últimos anos, estima-se que a espécie perdeu mais da metade de seu habitat. Suas populações estão desaparecendo até mesmo em áreas de florestas degradadas, com os últimos refúgios encontrados na Reserva Biológica do Gurupi e nas Terras Indígenas nas proximidades, onde a vegetação permanece em bom estado.

A inclusão do kaapori na lista é um passo importante para aumentar a conscientização sobre a grave situação da biodiversidade, especialmente na região do Arco do Desmatamento. A relação entre mudanças climáticas e a biodiversidade é estreita, uma vez que o desmatamento e as queimadas contribuem para a liberação de carbono na atmosfera, exacerbando a crise climática.

Além do kaapori, outra espécie ameaçada mencionada é o guigó (Callicebus coimbrai), que vive na Mata Atlântica do nordeste do Brasil, entre a Bahia e Sergipe. A área original do guigó abrangia 3 milhões de hectares, mas a espécie agora ocupa apenas 1% desse espaço. O impacto da fragmentação do habitat é alarmante, com grupos isolados de guigós que não conseguem se reproduzir devido à falta de integração entre os fragmentos florestais.

Os primatólogos estão trabalhando para criar a primeira unidade de conservação federal que proteja a área do guigó, enquanto já existe um refúgio estadual em Sergipe. A proposta é estabelecer uma área que una fragmentos menores de floresta para proteger a espécie e permitir sua sobrevivência a longo prazo.

Adicionalmente, outros primatas da América Latina, incluindo o macaco-aranha-da-Colômbia e o capuchinho-de-testa-branca, também foram incluídos na lista dos 25 primatas mais ameaçados. A cada dois anos, a lista é atualizada levando em consideração a diversidade dos primatas e o potencial para ações de conservação.

Entretanto, a situação dos lêmures de Madagascar é ainda mais crítica, com cerca de 95% das 112 espécies conhecidas ameaçadas de extinção. Desmatamento, caça e as mudanças climáticas são algumas das razões que tornam essas espécies extremamente vulneráveis.

A inclusão na lista "Primates in Peril" é uma tentativa de chamar a atenção para a situação dessas espécies e promover ações que garantam sua conservação e sobrevivência. A busca por soluções se torna cada vez mais urgente à medida que as crises climáticas e de biodiversidade avançam.

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