Baobá armazena até 120 mil litros de água em seu tronco

No meio de paisagens secas e ensolaradas, uma árvore imponente e solitária chama a atenção não só pelo seu formato único, mas por um feito que parece de ficção científica: ela armazena água dentro de seu tronco. Muita água. Essa é a impressionante história do baobá, o maior reservatório vegetal do planeta, capaz de reter até 120 mil litros em seu interior esponjoso.
Uma árvore que desafia o deserto
O baobá é nativo da África, sobretudo em Madagascar, mas também é encontrado em regiões áridas da Austrália e Índia. Essa árvore notável pode viver mais de mil anos, superando secas severas graças a um sistema de sobrevivência incrível. O que parece apenas um tronco grosso e esquisito na verdade é um eficaz reservatório de água. A madeira interna do baobá é porosa e flexível, funcionando como uma cisterna natural. Durante a estação das chuvas, ele absorve água como uma esponja, utilizando essa reserva nos longos períodos secos que assolam o continente africano.
Algumas espécies de baobá podem alcançar 30 metros de altura e 11 metros de diâmetro, com troncos ocos tão largos que, em diversas aldeias africanas, são usados para abrigar escolas, armazéns, bares e até capelas improvisadas.
Um oásis vivo no meio da aridez
Mas o baobá vai além de ser um tanque d’água. Ele desempenha um papel fundamental nos ecossistemas onde está inserido. Suas folhas são ricas em nutrientes e são utilizadas tanto na alimentação quanto na medicina tradicional. Os frutos, conhecidos como “pão de macaco”, são cheios de vitamina C e antioxidantes, e hoje já são até exportados como suplemento para a Europa e Estados Unidos.
A casca da árvore pode ser transformada em cordas, tecidos e utensílios. Nada do baobá se perde. Além de oferecer sombra e abrigo para aves e pequenos mamíferos, ele serve como um ponto de encontro social e espiritual para muitas comunidades. Segundo o botânico Patrice Baby, especialista em flora africana, “o baobá é uma das poucas árvores que une a sobrevivência ecológica à sobrevivência cultural. Ele representa a resistência do povo africano”.
Por que ele guarda tanta água?
O segredo do baobá está em suas adaptações evolutivas:
Tronco esponjoso e oco: O interior do baobá funciona como um depósito de água, absorvendo e armazenando líquido por meses.
Raízes profundas: Suas raízes penetram fundo no solo, alcançando umidade mesmo quando a superfície está seca.
- Folhas caducas: Durante a seca, ele perde as folhas para economizar água e evitar transpiração.
Essas estratégias tornam o baobá um símbolo de resiliência em zonas áridas, um verdadeiro laboratório natural de engenharia biológica.
Um símbolo cultural, espiritual e até turístico
Em diversas regiões da África, o baobá é visto como sagrado. Mitos e lendas cercam essa árvore; alguns dizem que foi plantada de cabeça para baixo pelos deuses, o que explica seu formato peculiar. Em países como Senegal e Burkina Faso, várias cerimônias religiosas são realizadas sob seus galhos. Não é incomum encontrar altares ou inscrições em seus troncos. Em Madagascar, há uma “Avenida dos Baobás”, onde dezenas deles se alinham como colunas de uma catedral natural, atraindo turistas de todo o mundo.
Além disso, cientistas têm investigado o potencial do baobá como fonte alternativa de alimento e medicamento, especialmente em tempos de crise climática.
Um gigante ameaçado
Apesar de todo seu poder, o baobá enfrenta desafios com as mudanças climáticas. Estudo publicado mostrou que nove dos treze baobás mais antigos da África morreram ou entraram em colapso nos últimos dez anos, muitos deles com mais de mil anos. O aumento das temperaturas, secas extremas e a degradação do solo podem ser as causas disso.
Organizações como a Baobab Guardians vêm promovendo iniciativas de reflorestamento e cuidado com mudas jovens em países africanos, buscando preservar essa icônica árvore para as futuras gerações.
O baobá e o futuro da água
Diante das crises hídricas que o mundo enfrenta, o baobá se tornou um foco para cientistas que buscam formas alternativas de armazenamento de água e plantas adaptadas a climas extremos. A ideia é simples: se a natureza criou uma árvore capaz de sobreviver milênios de seca, talvez possamos aprender com ela e desenvolver soluções para regiões que enfrentam desertificação ou mudanças nos padrões de chuvas.
O baobá nos ensina sobre resiliência. Uma árvore que não se move, mas que resiste e se adapta, mostrando que, mesmo nos ambientes mais desafiadores, sempre é possível encontrar abrigo e sustento — basta estar preparado.