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Casa de taipa de 1950 no sertão desafia a engenharia moderna

No coração do Cariri cearense, uma casa de barro desafia a lógica e o tempo. Localizada no Sítio Fundão, na zona rural de Crato (CE), ela é a única casa de taipa do Brasil com primeiro andar. Um verdadeiro marco da arquitetura popular nordestina.

Construída na década de 1950 por Jefferson da França Alencar, essa residência mistura tradição, engenhosidade e resistência. Ela se tornou símbolo de uma época em que o saber artesanal moldava o cotidiano das comunidades rurais.

A técnica utilizada é a tradicional “taipa de pilão”, na qual terra úmida é compactada entre estruturas de madeira, formando paredes espessas e fortes. O que torna essa casa realmente extraordinária é a presença do segundo piso, algo raro em construções de barro. Isso se deve ao peso e à instabilidade natural do material, que exigem um bom planejamento.

Para erguer o segundo andar, o construtor precisou reforçar a base com madeiramento robusto e fundações mais profundas. Todo esse cuidado garantiu a estabilidade da construção ao longo dos anos. O resultado é uma casa de dois pavimentos que abrigou gerações da mesma família e se manteve firme, enfrentando chuvas e o calor intenso do sertão.

Em 2017, o Governo do Ceará deu uma atenção especial à edificação, realizando uma restauração e transformando-a no Centro de Visitantes do Parque Estadual do Sítio Fundão. A iniciativa, gerida pela Secretaria do Meio Ambiente, preservou as características originais da estrutura e devolveu à população um importante patrimônio cultural. O restauro incluiu reforço nas paredes, recuperação do telhado, um tratamento contra umidade e reconstituição de partes em madeira.

Hoje, essa icônica casa de taipa vai muito além de uma curiosidade arquitetônica. Ela é um testemunho vivo da criatividade nordestina. Seu valor não está apenas na técnica empregada, mas também na forma como foi moldada pelo clima semiárido, unindo baixo custo e conforto térmico.

Além disso, o imóvel inspira pesquisadores, arquitetos e turistas que buscam conhecimento sobre sustentabilidade e memória cultural. Para muitos, representa a capacidade do sertanejo de transformar simplicidade em arte e necessidade em inovação. O barro, que por muito tempo foi visto como sinônimo de pobreza, aqui conta uma história rica de engenho, resistência e beleza, construída com as mãos talentosas do povo nordestino.

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