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Peixes que escalam paredes são registrados em rios do Mato Grosso do Sul

Pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) fizeram uma descoberta e tanto: pela primeira vez, eles observaram bagres-abelha que conseguem escalar paredes de até quatro metros em rios do estado. Essa cena incrível ocorreu durante o período chuvoso, em locais como a Cachoeira do Sossego e a Cachoeira Diamantes, no rio Aquidauana, que faz parte da bacia do Paraguai.

A descoberta, que foi publicada na Journal of Fish Biology, é significativa por ser o primeiro registro de escalada em massa entre os peixes da família Pseudopimelodidae. Além de surpreender pelo jeito que esses peixes sobem superfícies verticais, isso levanta questões sobre como eles se migram, se reproduzem e como garantir a conservação de espécies fluviais que ainda não receberam a devida atenção.

Como os peixes conseguem “escalar” paredes

Os cientistas da UFMS explicam que o bagre-abelha utiliza movimentos coordenados entre suas nadadeiras e a cauda. Esse movimento cria uma espécie de sucção natural que os mantém fixos à rocha, mesmo em meio a correntes fortes. Ao abrir as nadadeiras peitorais e gerar pressão negativa entre seu corpo e a superfície, o peixe consegue se segurar e se mover gradualmente, até mesmo em trechos íngremes.

Esse comportamento, inédito entre os peixes brasileiros, revela uma adaptabilidade impressionante a ambientes com fluxo rápido, como corredeiras e cachoeiras. Embora existam outras espécies que também vivem em águas turbulentas que apresentam comportamentos semelhantes, o bagre-abelha se destacou pela sua habilidade coletiva em escalar.

A descoberta no rio Aquidauana

Essa observação foi feita pela Polícia Militar Ambiental do Mato Grosso do Sul em novembro de 2024, logo no início da estação chuvosa. Os policiais presenciaram grandes grupos de bagres subindo paredes rochosas, algo inédito para a região. As fotos desse fenômeno foram encaminhadas aos pesquisadores da UFMS, que logo se mobilizaram para investigar mais a fundo.

Durante o estudo, os peixes foram vistos migrando lentamente rio acima, o que sugere um possível comportamento reprodutivo associado à desova. Foram capturados 439 exemplares para análise. Curiosamente, todos apresentavam estômagos vazios, indicando que durante a escalada os peixes não se alimentam.

Adaptação extrema e comportamento coletivo

Durante o dia, os bagres costumam ficar escondidos sob pedras ou em áreas sombreadas. Porém, ao entardecer, eles surgem para escalar superfícies verticais, desafiando o fluxo intenso da água. Em algumas observações, esses peixes chegaram a subir de cabeça para baixo, presos ao teto de fendas rochosas, demonstrando um controle muscular que impressiona.

Embora se movimentem em grandes grupos, a escalada acontece de forma individual e alternada, com cada um encontrando seu próprio caminho para se fixar. Essa estratégia pode sugerir um instinto migratório ancestral, adaptado para as condições das cachoeiras do Centro-Oeste.

Implicações ecológicas e conservação

Os pesquisadores ressaltam que esse fenômeno traz consequências diretas para a conservação de peixes migratórios. A fragmentação de habitats, o represamento de rios e as mudanças no regime de chuvas podem comprometer esses comportamentos naturais de escalada.

Entender como essas adaptações funcionam é crucial para avaliar os impactos de barragens e outras construções hidráulicas sobre espécies menores, mas que desempenham papéis fundamentais para o equilíbrio ecológico dos rios. A presença dos bagres-abelha em situações tão desafiadoras mostra a resiliência da fauna local, mas também a importância de políticas de monitoramento eficazes.

O registro desses peixes que “escalam” paredes no Mato Grosso do Sul amplia a nossa compreensão sobre a diversidade e engenhosidade das espécies fluviais brasileiras. A descoberta evidencia o papel vital das pesquisas de campo e da atenção das equipes locais, que conseguem revelar comportamentos que muitas vezes passam despercebidos.

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