Fitomineração: planta pode gerar ouro em casa, mas requer cuidados

A ideia de cultivar uma “planta que produz ouro em casa” tem circulado bastante nas redes sociais. A verdade é que, embora exista base científica para isso, o conceito se chama fitomineração e não é bem como parece.
A fitomineração envolve o uso de plantas para extrair e concentrar metais que estão presentes no solo em quantidades muito pequenas. Esses metais podem incluir ouro, níquel e paládio. É um método interessante, principalmente porque é menos agressivo do que a mineração convencional, especialmente em áreas com menos recursos ou em rejeitos. No entanto, é um processo que requer áreas já mineralizadas e um manejo agronômico cuidadoso. Portanto, não adianta achar que dá para fazer isso em casa.
Pesquisas têm mostrado como essa técnica funciona e onde ela pode ser aplicada de forma eficaz. Vamos entender um pouco mais sobre isso.
O que é fitomineração e por que importa
A fitomineração é um processo que envolve plantar espécies de plantas que conseguem absorver e acumular metais. Depois, essa biomassa é processada para recuperar os metais. A técnica se baseia em plantas chamadas hiperacumuladoras, que têm uma fisiologia especial para lidar com esses metais.
Do ponto de vista ambiental, essa técnica é uma maneira de reaproveitar áreas degradadas ou rejeitos com baixas concentrações de metais. Isso ajuda a reduzir a movimentação de solo e o consumo de água, em comparação com a mineração convencional.
Não se esqueça: essa técnica não faz com que as plantas criem ouro do nada. Elas concentram o que já está presente no solo, mesmo em quantidades muito baixas, até atingir um volume que vale a pena ser recuperado.
As plantas que “encontram” ouro
Um estudo de 2013 mostrou que folhas de eucalipto tinham pequenas partículas de ouro em suas estruturas, crescidas sobre depósitos enterrados na Austrália. Aqui, a interpretação não é que a árvore produz ouro, mas que a planta pode ajudar na prospecção biogeoquímica.
Como exemplo prático, a mostarda-indiana (Brassica juncea) tem se destacado em estudos de fitomineração, aumentando a captação de ouro em condições controladas. Em diversas experiências de campo, foram observadas concentrações elevadas de ouro em suas folhas, após o solo passar por um tratamento químico.
Outro exemplo importante são as plantas do gênero Alyssum, conhecidas por acumularem níquel. Elas estão na base de diversos projetos comerciais que utilizam a fitomineração para esse metal.
Como o ouro entra na planta e como é recuperado
O ouro que está presente no solo não é muito solúvel. Por isso, os pesquisadores precisam usar agentes lixiviantes, como o tiossulfato ou o cianeto em concentrações controladas, para mobilizar o metal e permitir que as raízes das plantas o absorvam. Essa etapa é técnica e bastante controlada.
Uma vez que o ouro é absorvido, ele se acumula em forma de nanopartículas principalmente nas folhas e caules das plantas. Essas nanopartículas não são visíveis a olho nu. Quando chega a hora da colheita, a planta é queimada, e as cinzas ricas em metais passam por processos metalúrgicos para recuperar o ouro.
Esse ciclo chamado de “cultivar-colher-queimar-refinar” é o coração da fitomineração. A eficiência desse processo depende de vários fatores, como o teor de metais do solo, a espécie utilizada e o manejo químico aplicado.
Vale ressaltar que, por envolver substâncias químicas e emissões, é necessário ter licenças ambientais e uma infraestrutura adequada. Portanto, essa técnica não é algo que você deva tentar em casa como um projeto de fim de semana.
O que já foi testado e quais os limites
Nos anos 2000, testes de campo, incluindo o uso da Brassica juncea, mostraram que era possível chegar a concentrações de ouro significativas nas plantas após a indução do solo. No entanto, esses estudos também mostraram uma variação alta nos resultados e pontos de atenção quanto à escalabilidade da técnica.
Revisões técnicas indicam que a recuperação de ouro ainda enfrenta limitações econômicas e de segurança operacional em comparação com a recuperação de níquel, que é considerada uma abordagem mais madura dentro da fitomineração.
Além disso, existem restrições geológicas a serem consideradas. Para que a fitomineração funcione, é necessário que o solo já contenha ouro, mesmo em quantidades mínimas, e também que tenha as condições adequadas de pH, matéria orgânica e drenagem. Em áreas áridas, os resultados podem ser promissores, mas dependem de um manejo específico.
Brasil: onde a técnica se encaixa
No Brasil, grupos acadêmicos estão estudando as fitotecnologias para recuperar áreas afetadas pela mineração. Análises em português indicam que a fitomineração tem um potencial maior para o níquel atualmente.
As prioridades para aplicar essa técnica incluem lidar com rejeitos e áreas degradadas, focando na remediação ambiental e, quem sabe, na cooperação para produzir metais. Quanto ao ouro, a tendência é utilizá-lo de forma complementar em áreas com baixa concentração e infraestrutura favorável.
Para o público em geral, a mensagem é clara: não existe um “vaso de planta que fabrica ouro” em casa. O que existe é uma pesquisa séria que combina botânica, solo e metalurgia para recuperar valor onde a mineração tradicional falha.