Pangolim: o animal mais caçado por causa de suas escamas

Pouca gente aqui no Brasil conhece o pangolim. Esse mamífero, bem discreto, se tornou um símbolo de um dos maiores crimes ambientais da atualidade. Ele vive em tocas ou sobe em árvores à procura de formigas e cupins, sempre à noite e de forma solitária. A principal diferença em relação a outros animais é a sua armadura de escamas, feitas de queratina, a mesma substância que compõe nossas unhas.
No mundo, existem oito espécies de pangolins, sendo quatro na Ásia e quatro na África. Todas estão ameaçadas, e as asiáticas estão à beira da extinção. Quando se sente em perigo, o pangolim se enrola como uma bola, mostrando suas escamas duras. Essa tática é ótima contra predadores naturais, mas não dá conta dos caçadores humanos, que estão sempre à espreita, armados com sacos e caixas.
Escamas que valem mais que ouro
O que torna o pangolim um alvo tão atrativo é o valor que suas escamas têm. Há séculos, na medicina tradicional asiática, elas são consideradas tratamento para inflamações, dores nas articulações e até infertilidade.
Essa crença, mesmo sem comprovação científica, alimenta um mercado clandestino que movimenta bilhões de dólares. Os preços das escamas são impressionantes:
- Na África, um quilo é vendido por US$ 10 a US$ 15.
- Nas rotas de contrabando, o preço pode chegar a US$ 250 a US$ 600 por quilo.
- Na China e no Vietnã, esse valor dispara para até US$ 3.000 o quilo, tornando suas escamas mais caras que ouro.
Essa situação atraiu as máfias internacionais. Em 2019, por exemplo, Cingapura apreendeu 12,9 toneladas de escamas, avaliadas em US$ 38 milhões, o que significa que milhares de pangolins foram mortos.
O animal mais traficado do planeta
Entre 2000 e 2020, mais de um milhão de pangolins foram retirados da natureza, o que o torna o mamífero mais traficado do mundo. Esse comércio funciona em larga escala:
- Caçadores capturam pangolins nas florestas africanas e asiáticas.
- Intermediários compram as escamas e as estocam em portos clandestinos.
- As escamas são exportadas para a Ásia em contêineres disfarçados.
- Por fim, elas são vendidas como remédios tradicionais ou itens de prestígio.
A Nigéria se tornou um dos principais pontos de exportação, enviando toneladas dessas escamas para Hong Kong, Vietnã e China.
Carne de luxo e símbolo de status
Além das escamas, a carne do pangolim também é consumida em alguns locais como uma iguaria rara. Restaurantes clandestinos a servem a clientes ricos, como um símbolo de poder e exclusividade. Isso torna o pangolim um paradoxo: enquanto sua carne e escamas são associadas à cura e prosperidade, ele caminha em direção à extinção por causa da própria demanda.
A ameaça da extinção
Todas as espécies de pangolin estão listadas como ameaçadas ou criticamente ameaçadas. O problema é que a reprodução delas é lenta; as fêmeas têm apenas um filhote por ano. Com a caça desenfreada, fica impossível repor suas populações.
Na Ásia, algumas populações já sumiram completamente. Agora, os traficantes estão voltando os olhos para a África, especialmente a África Ocidental e Central, que se tornaram novos alvos.
As maiores apreensões da história
O tráfico de pangolins é tão lucrativo que autoridades já registraram apreensões significativas:
- Em 2017, Hong Kong apreendeu 8 toneladas de escamas vindas da Nigéria.
- Em 2019, Cingapura interceptou 12,9 toneladas, avaliadas em mais de US$ 38 milhões.
- Em 2022, várias apreensões menores foram feitas, revelando que a exploração continua.
Essas apreensões representam a morte de cerca de 30 mil pangolins.
O papel da China e as mudanças recentes
Em 2020, a China retirou o pangolim da lista de animais que podem ser usados em remédios tradicionais e melhorou a proteção legal da espécie. Apesar disso, o comércio ilegal ainda persiste, com escamas sendo vendidas em mercados clandestinos e pela internet.
A cultura e a tradição dificultam a mudança: muitas famílias acreditam no poder curativo das escamas e continuam comprando, mesmo que isso seja ilegal. Além disso, o desejo de status social mantém a carne do pangolim em menus secretos.
Consequências globais e ambientais
A extinção do pangolim não afeta apenas a biodiversidade; o animal ajuda a controlar a população de formigas e cupins, consumindo até 70 milhões de insetos por ano. Se ele desaparecer, isso pode impactar todo o ecossistema.
O caso do pangolim mostra como o crime ambiental é globalizado. Animais são caçados em um lugar e vendidos como remédios em outro, a milhares de quilômetros de distância. Organizações de conservação estão fazendo campanhas, mas o desafio é monumental. Enquanto houver demanda por escamas a US$ 3.000 o quilo, sempre haverá quem se arrisque para caçar.
A corrida contra o tempo
Proteger o pangolim requer mais do que leis: é preciso uma mudança cultural nos países consumidores e apoio econômico às comunidades locais, que precisam de alternativas para gerar renda. Se não houver mudanças, o pangolim pode desaparecer nas próximas décadas.
Se isso acontecer, não estaremos perdendo apenas um mamífero único, mas também a chance de aprender com sua história e seus comportamentos. A extinção do pangolim seria um triste lembrete de como o desejo por luxo e a crença em superstições podem levar à perda de uma rica diversidade evolutiva.