Documentos revelam exportação da censura chinesa e vigilância

A censura chinesa deu um passo além e se tornou parte da realidade internacional. Recentemente, documentos vazados mostraram que uma empresa ligada ao governo da China está vendendo sistemas de vigilância digital para governos de outros países. Esses sistemas incluem não apenas a instalação, mas também a operação e a coleta de dados de cidadãos estrangeiros.
Segundo informações de uma reportagem, contratos foram firmados com nações como Paquistão, Etiópia e Cazaquistão. A maior preocupação é que os dados obtidos possam estar sendo enviados de volta para a China, levantando questionamentos sobre a crescente repressão digital que se estende para além das fronteiras chinesas.
Vínculos da empresa com a censura internacional
Mais de 100 mil documentos vazados da Gadget Networks confirmam que a empresa está comercializando sistemas de censura completos para governos estrangeiros. Essa revelação veio à tona através de pesquisas feitas pelo laboratório Interseclab, com a ajuda de organizações de direitos humanos.
Os sistemas disponíveis vão desde o controle do acesso à internet por parte da população até a localização de manifestantes. O funcionamento destes sistemas é feito em cooperação direta com o governo chinês, o que eleva as suspeitas sobre o uso dos dados para aprimorar métodos de repressão.
A censura já está em prática
O relatório aponta que já há sistemas em operação em países como Etiópia, Cazaquistão e Paquistão, além de outras nações que não foram reveladas. As ferramentas oferecidas incluem softwares avançados como o Cyber Narrator, que rastreia manifestantes em tempo real, e o TSG Galaxy, que pode interromper o acesso à internet de acordo com o comportamento online dos usuários.
Os documentos relatam que em questão de meses, a empresa conseguiu resultados que os governos locais não obtiveram em anos. Isso não só acelera, mas também padroniza a implementação da censura, tornando a repressão digital mais eficaz e global.
Instrumentos de censura digital
Entre as ferramentas disponíveis, o Cyber Narrator é especialmente notável. Descrito como “o olho que tudo vê”, essa tecnologia consegue rastrear pessoas por meio de seus celulares e identificar se são moradores locais ou visitantes. Também cruza essas informações com atividades nas redes sociais.
Já o TSG Galaxy coleta dados como histórico de navegação e chamadas, monitorando até o uso de VPNs. Com base em tudo isso, o sistema pode atribuir pontuações que determinam o bloqueio total do acesso à internet e até infectar dispositivos com malware.
Dados estrangeiros na esfera chinesa
Um ponto alarmante é que as informações coletadas são compartilhadas com instituições como a Academia Chinesa de Ciências, que se envolve ativamente na repressão digital dentro da China. Especialistas acreditam que estudantes chineses já estão usando esses dados para aprimorar algoritmos de vigilância, o que coloca em risco a soberania digital dos países que adotam essas tecnologias.
Governos que fazem negócios com a empresa chinesa podem estar, sem saber, ajudando a expandir as bases de dados do Partido Comunista Chinês. Há até mesmo registros de que parte da infraestrutura de vigilância é baseada em tecnologia proveniente de empresas americanas ao longo das décadas.
A repressão já é tradição na China
A repressão digital na China não é novidade. Desde 1999, o “Grande Firewall” bloqueia o acesso a sites estrangeiros, incluindo Google e Facebook. Estima-se que entre 20 a 30 milhões de chineses usem VPNs para contornar essa situação, mas o governo não hesita em perseguir tanto usuários quanto vendedores dessas ferramentas.
Mesmo os visitantes estrangeiros enfrentam sistemas de vigilância que se disfarçam como “facilidades de acesso”.
VPNs para estrangeiros: liberdade ou armadilha?
Estrangeiros na China são tratados de maneira especial. Em aeroportos como o de Xangai, é comum que agentes ofereçam VPNs para turistas, prometendo uma navegação livre. A impressão é de um esforço para apresentar uma imagem amigável ao mundo.
No entanto, especialistas alertam que essas VPNs “oficiais” são monitoradas. O Ministério de Segurança Pública exige um registro e pode utilizar esses acessos para coletar dados pessoais de estrangeiros em tempo real, entregando uma liberdade que, na verdade, é uma fachada.