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Crise no atacado: jovens abandonam setor e rotatividade cresce

A crescente rotatividade e a diminuição da presença de jovens estão afetando cada vez mais o setor atacadista no Brasil. As empresas estão enfrentando a falta de profissionais qualificados e vendo seus custos subirem, o que torna o cenário ainda mais desafiador.

Esse é o retrato que emerge de um estudo da FecomercioSP, que representa as empresas de comércio, serviços e turismo de São Paulo. A pesquisa levantou a opinião do setor e mostra como esses problemas impactam o dia a dia das operações nas empresas.

Impactos imediatos nas operações e nos custos

A alta rotatividade de funcionários traz consequências diretas para as empresas. A troca frequente de trabalhadores atrapalha as rotinas, reduz a produtividade e aumenta os gastos com recrutamento e treinamento. Isso não é só um problema para as grandes empresas; muitas têm margens de lucro apertadas e precisam de equipes especializadas, tornando-se mais vulneráveis.

E não para por aí. Reter talentos virou um verdadeiro desafio, e a saída constante de funcionários resulta na perda de conhecimento importante para a empresa. Quando colaboradores saem, funções muitas vezes ficam incompletas, o que pode causar interrupções em atividades essenciais.

Permanência em queda no atacado paulista

Os números mostram uma realidade preocupante: o tempo médio que um trabalhador permanece no atacado paulista caiu. Há dez anos, a média era de 28 meses, e hoje, de apenas 26 meses. Em setores como produtos farmacêuticos, alimentos e bebidas, essa média é ainda menor, não chegando a dois anos, o que prejudica a continuidade operacional.

Essa diminuição de permanência acontece em um ambiente onde a disputa por mão de obra é intensa, resultando em pressão sobre salários e benefícios. O aumento nos salários, por si só, tem se mostrado insuficiente para manter os profissionais.

Jovens perdem espaço no setor atacadista

A presença de jovens trabalhadores no setor tem diminuído. Em 2010, eles representavam 22% das vagas formais no atacado, enquanto hoje essa porcentagem despencou para 17%. Esse cenário reflete uma falta de interesse das novas gerações em desenvolver uma carreira na área, o que pode complicar a formação de futuros líderes.

Enquanto isso, as oportunidades em áreas que exigem especialização continuam em um ritmo lento. Em junho, apenas 254 novas vagas surgiram em setores de alta tecnologia dentro do atacado, um reflexo da escassez de profissionais qualificados.

Disputa por talentos e efeito nos modelos de negócio

A competição por profissionais capacitados traz impactos significativos, e não é só na folha de pagamento. Quando as empresas precisam fazer contratações emergenciais ou terceirizações, o custo operacional aumenta. Estudos mostram que modelos de negócio que dependem de eficiência logística, atendimento consultivo e integração com a indústria tornam-se mais suscetíveis a falhas.

Ronaldo Taboada, presidente do Conselho do Comércio Atacadista da FecomercioSP, ressalta essa situação: “O pleno emprego é uma conquista para o País, mas para o empresário atacadista, tem sido uma luta diária encontrar e reter bons profissionais. O capital humano passou a ser o diferencial competitivo”.

Carreira e ambiente de trabalho no centro da estratégia

Para enfrentar esses desafios, o estudo sugere que as empresas não se limitem apenas a aumentar os salários. Taboada enfatiza a importância de “investir em um ambiente saudável, oferecer benefícios consistentes e, especialmente, criar planos de carreira reais”. Sem essas melhorias, a rotatividade só tende a aumentar, impactando negativamente prazos e relacionamentos com fornecedores.

Além disso, a valorização profissional, treinamentos e um acompanhamento próximo dos indicadores de RH são caminhos essenciais para estabilizar as equipes, principalmente em operações espalhadas por diferentes locais.

Formação de profissionais e tecnologia como soluções

A FecomercioSP propõe que os atacadistas invistam em programas de formação “do zero”, para desenvolver talentos nas funções mais críticas. Essa abordagem ajuda a diminuir a dependência de candidatos preparados em áreas onde o mercado não tem suprido a demanda.

Além disso, a implementação de tecnologia e capacitação é fundamental. Ferramentas que automatizam tarefas repetitivas, sistemas de gestão integrados e plataformas de análise são essenciais. Isso libera os profissionais para se dedicarem a atividades de maior valor, ajudando na retenção de talentos e tornando as operações mais robustas.

Atração das novas gerações

Para recuperar o interesse dos jovens, o estudo sugere iniciativas de employer branding, parcerias com escolas técnicas e uma comunicação mais direta sobre as oportunidades no setor. A ideia é mudar a percepção tradicional do atacado, muitas vezes associado a funções operacionais, e mostrar as chances reais em áreas como tecnologia, compras estratégicas e sustentabilidade.

Por outro lado, retenção ainda depende de fatores como progressão clara, liderança efetiva e reconhecimento do bom desempenho.

Gestão de pessoas como prioridade estratégica

Diante da escassez de mão de obra qualificada, a gestão de pessoas tornou-se uma parte central da estratégia das empresas. O estudo recomenda acompanhar indicadores como turnover por área e custo de substituição com a mesma dedicação que se faz com métricas financeiras.

A FecomercioSP ressalta a importância de fortalecer a governança de RH e apoiar lideranças em todos os níveis. Com processos mais sólidos e propostas de desenvolvimento efetivas, as empresas podem minimizar as perdas de produtividade provocadas pela alta rotatividade.

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