Geração Z troca smartphones por celulares tradicionais por este motivo

Cansados da pressão constante das redes sociais e da avalanche de estímulos dos aplicativos modernos, muitos jovens da Geração Z estão adotando uma decisão radical: deixar de lado os smartphones e optar por celulares simples, conhecidos como “dumbphones”. Esse movimento tem crescido como uma forma de retomar o controle da atenção, diminuir a ansiedade digital e recuperar hábitos esquecidos de uma época mais analógica.
As redes sociais, que já ofereceram um espaço de conexão, parecem ter perdido o brilho. O que antes era um lugar para interagir com amigos agora se transformou numa vitrine frenética, repleta de conteúdos, anúncios e distrações. Em um depoimento à FTC, Mark Zuckerberg reconheceu essa mudança, dizendo que o Facebook e o Instagram deixaram de lado a conexão entre amigos e agora priorizam entretenimento e conteúdo curado. Isso impacta diretamente a forma como usamos esses aplicativos.
Com carrinhos de compra atualizando em tempo real e aplicativos de meditação criando desafios diários, a competição pela atenção do usuário ficou intensa. Essa dinâmica exige muito, ignorando nossos limites cognitivos. O foco costuma estar no movimento incessante, e não na pausa necessária. Um ditado popular resume bem: “Se você não está à mesa, provavelmente está no cardápio.”
O cansaço vira reação
Diante desse cenário, os jovens começam a perceber os efeitos negativos do uso excessivo da tecnologia. Dificuldades de concentração, desgaste emocional e a perda de interações sociais fora das telas são alguns dos problemas enfrentados. Para muitos, a solução tem sido olhar para o passado e buscar alternativas mais simples, como os “dumbphones”, que não conectam às redes sociais.
Esses celulares antigos, com funções básicas, ajudam a devolver o controle do tempo e da mente ao usuário. Itens como papel, canetas e agendas físicas voltam a ser utilizados como uma forma de resistência a essa avalanche de informações.
A máquina por trás das notificações
Por trás de cada notificação, existe um sistema que depende do que compartilhamos. As plataformas coletam dados, como os toques na tela e as músicas que gostamos, e nos oferecem conteúdo personalizado para manter o ciclo em andamento. Essa dinâmica faz com que o usuário se torne uma peça em uma grande engrenagem.
Zuckerberg mencionou uma queda no consumo de conteúdo entre amigos nas redes. A cada troca de feeds, a ansiedade pode crescer em vez da conexão, e os números confirmam: quase metade dos adolescentes está online “quase o tempo todo”, o dobro do que acontecia há dez anos. No entanto, esse mesmo grupo também demonstra uma reação contrária. Pesquisas mostram que a Geração Z é a única faixa etária que diminuiu o tempo passado em redes sociais desde 2021, com um em cada cinco buscando algum tipo de "detox" digital.
O renascimento do retrô
Estamos presenciando o surgimento do “retrotech”. O que começou como uma moda estética com referências aos anos 2000 agora é um movimento consciente em busca de simplicidade. Celulares com teclado físico e bateria de longa duração voltaram a ser os preferidos em fóruns como o r/EDC (Everyday Carry). O jornal New York Post destacou que, por algumas centenas de dólares, esses jovens estão comprando tranquilidade.
Essa febre já chegou também ao TikTok, onde dezenas de usuários compartilham suas experiências com dispositivos antigos, como os BlackBerrys, decorados com adesivos e correntes, resgatando a nostalgia dos teclados barulhentos. Para muitos, o smartphone, que antes era divertido, se tornou um vício, levando as pessoas a desejarem algo mais simples.
Volta ao papel e à matéria
A tendência vai além dos celulares simples. Câmeras digitais antigas, tocadores de MP3 e relógios despertadores estão ressurgindo, substituindo aplicativos com um toque de nostalgia. Agendas físicas estão voltando ao lugar dos calendários digitais. Mais do que simplesmente querer voltar ao passado, essa busca representa uma estratégia para recuperar foco e reconectar-se ao mundo físico, vivendo com mais intenção.
Além disso, há uma crescente preocupação com a privacidade. Muitos jovens estão adotando sistemas alternativos que oferecem maior controle sobre seu acesso à internet e preferindo armazenar arquivos em HDs físicos ao invés de na nuvem. Eles não estão rejeitando a tecnologia; buscam apenas uma relação mais equilibrada com ela, buscando atenção plena em vez de distrações eternas.
A dificuldade de abandonar o “smart”
Embora a ideia de voltar aos “dumbphones” seja atraente, a transição não é tão fácil. Todos nós dependemos de alguns recursos modernos, como GPS e pagamentos digitais. Um membro de um fórum de “dumbphones” comentou que a maioria busca um smartphone limitado, mas cada pessoa deseja restringir algo diferente.
Alguns optam por celulares Android mais lentos sem redes sociais, enquanto outros usam um telefone básico junto com um tablet em casa. A chave aqui é encontrar um meio-termo que funcione no dia a dia, onde muitos afirmam que não estão buscando um dumbphone, mas sim um celular comum sem distrações.
Uma escolha por mais liberdade
No fundo, esse movimento não é somente sobre voltar a aparelhos antigos; trata-se de recuperar a autonomia. Os jovens estão dispostos a abrir mão de um pouco da praticidade em troca de mais tranquilidade, transformando essa escolha em uma parte de sua identidade.
O charme dos dispositivos antigos, como as telas e-ink e os sons dos teclados dos anos 90, proporcionam um conforto e uma forma de expressão pessoal. Essa mudança é real. Seja em desconexões totais ou simplesmente ajustando o uso da tecnologia, as pessoas estão redescobrindo o valor do tempo, do silêncio e da atenção plena. Mesmo que não consigam mudar toda a lógica da economia da atenção, já estão desafiando sua inevitabilidade. Na era em que tudo se tornou “smart”, a decisão mais inteligente pode ser optar por algo intencionalmente simples.