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Pinturas rupestres milenares são descobertas no Brasil

Recentemente, pesquisadores brasileiros fizeram uma descoberta surpreendente em uma gruta na Serra da Mantiqueira: um conjunto de pinturas rupestres que pode mudar o que sabemos sobre a presença humana no interior do Sudeste. Localizado dentro do Parque Nacional de Itatiaia, esse achado reacendeu discussões sobre os antigos povos que viveram na região há milênios, muito antes da colonização portuguesa, e pode até sugerir a existência de uma verdadeira “cidade perdida” esquecida pela história oficial.

O achado está sendo estudado por uma equipe que inclui especialistas do Museu Nacional da UFRJ, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e do próprio parque, em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Eles estão tentando entender a época em que as pinturas foram feitas e quem as produziu. As primeiras estimativas apontam que essas obras podem ter cerca de 2.000 a 3.000 anos, mas essa pesquisa ainda está em suas fases iniciais.

A arqueóloga MaDu Gaspar, do Museu Nacional, destacou que abrigos e grutas com pinturas rupestres costumam ser parte de redes de ocupações humanas. “Estamos no começo de uma jornada para entender essa paisagem e as possíveis rotas que sustentaram esses grupos”, compartilhou em uma entrevista.

O início de uma investigação misteriosa

A descoberta foi pura sorte. O supervisor operacional do parque, Andres Conquista, estava fazendo uma escalada cotidiana quando notou uma formação rochosa diferente em meio a flores vermelhas. Ao se aproximar, viu as inscrições e, a princípio, achou que eram pichações modernas. “Mas quando percebi que não havia nomes nem datas, entendi que poderia ser algo bem antigo. Fotografei e levei para o pessoal do ICMBio”, contou.

Após essa descoberta, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) confirmou a autenticidade das pinturas e acionou o Iphan para iniciar a proteção do sítio arqueológico. O local agora está isolado e monitorado por câmeras, com penalidades severas para qualquer tentativa de invasão.

Preservar antes de divulgar

Apesar de as pinturas terem sido encontradas em 2023, a divulgação só aconteceu em 2025, após a criação de um protocolo de segurança. A prioridade, segundo Gaspar, foi garantir a preservação das pinturas e evitar que turistas ou trilheiros acessassem a gruta antes das análises serem concluídas. “Estamos lidando com um testemunho incrível da história humana”, enfatizou.

O professor Anderson Marques Garcia, da UERJ, destacou que a descoberta impactou a comunidade científica. “Acreditávamos que o estado já estava totalmente mapeado. Encontrar um sítio inédito aqui é algo que pode mudar nossa visão do passado regional”, comentou.

Vestígios de caçadores antigos

Os pesquisadores já encontram fortes indícios da presença de caçadores que habitaram a área há milênios. Isso inclui marcas em rochas e fragmentos que podem ter sido usados como ferramentas primitivas. Se confirmar a datação, o sítio pode estar entre os mais antigos do Sudeste, equiparando-se a descobertas marcantes do Piauí e do Mato Grosso.

De acordo com Gaspar, “as pinturas exibem símbolos e padrões que ainda não foram decifrados, mas que podem ter a ver com rituais ou mapas de caça. Isso sugere que essa comunidade tinha sua própria forma de entender o mundo.” O grupo planeja realizar análises químicas para descobrir se usaram pigmentos minerais locais ou misturas mais complexas, típicas de povos caçadores-coletores.

Um novo capítulo para a arqueologia brasileira

Esse achado reacende o debate sobre a ocupação humana pré-colonial no Brasil, ajudando a preencher lacunas importantes sobre os primeiros grupos que viveram no Sudeste. A Serra da Mantiqueira, com sua geologia complexa e abrigos naturais, pode ter funcionado como um corredor migratório entre comunidades de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.

O professor Garcia fez um alerta sobre os riscos de intervenções indevidas. “Uma escavação não autorizada pode danificar evidências que levaram milhares de anos para se formar. Precisamos ser cautelosos para não prejudicar a pesquisa.”

Por enquanto, não há previsão para reabrir a área à visitação. A concessionária Parquetur, responsável pela gestão do turismo no parque, enfatizou que qualquer tentativa de violação resultará em penalidades severas. A expectativa é que, após a conclusão dos estudos, o espaço possa ser integrado a um circuito de visitação controlada, mesclando turismo científico e educação ambiental.

Uma “cidade perdida” sob as florestas

Alguns estudiosos acreditam que as inscrições podem estar ligadas a antigas rotas coloniais esquecidas e até a comunidades que fugiram das expedições bandeirantes no século XVII. Embora essa hipótese ainda seja especulativa, ela reacende o fascínio pela ideia de cidades escondidas na Amazônia e no Sudeste, onde indígenas, foragidos e colonos teriam formado sociedades híbridas.

Para MaDu Gaspar, essa é uma chance valiosa de reescrever a história do país. “Essas pinturas mostram que havia muito mais vida, arte e movimento humano no interior do Brasil do que imaginávamos. Cada pigmento é um fragmento da memória de quem viveu aqui antes de nós.”

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