Pantanal tem maior população de onças-pintadas reintroduzidas

No coração do Pantanal, um projeto inovador de reintrodução de onças-pintadas se destaca como um verdadeiro marco da conservação no Brasil. Ele reúne ciência, manejo e turismo sustentável para proteger o maior felino das Américas.
Os pesquisadores, junto com órgãos ambientais, conseguiram criar o núcleo mais duradouro e produtivo de onças-pintadas reintroduzidas já registrado no país. Essa conquista se deve à reprodução em liberdade de fêmeas que foram devolvidas à natureza. O case pioneiro aconteceu no Refúgio Ecológico Caiman, em parceria com o ICMBio. Especialistas chamam isso de um sucesso inédito de reintrodução de onças, com um protocolo rigoroso de reabilitação, soltura e monitoramento que garantiu a saúde das felinas.
Reintrodução que virou referência
Duas irmãs, Isa e Fera, perderam a mãe ainda muito jovens. Elas foram cuidadas em um recinto de reabilitação e, após passarem por uma avaliação comportamental, retornaram ao Pantanal sul-mato-grossense. Todo esse procedimento é acompanhado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap/ICMBio), que adota critérios importantes. Os animais não podem se associar a humanos, é necessário testar suas habilidades de caça e, após a soltura, monitorar a adaptação usando rádio-colares.
O sucesso ficou evidente quando as onças estabeleceram seus territórios, começaram a caçar sozinhas e, por fim, trouxeram novas gerações ao mundo selvagem.
Como os animais são preparados
Antes de serem soltas, as onças passam por triagens clínicas e avaliações comportamentais. Só as que se mostram aptas a caçar e a se orientar são liberadas. Elas são equipadas com radiocolares com GPS para que sua adaptação possa ser monitorada. O objetivo é que, ao reproduzirem-se em ambiente natural, isso seja um indicador do sucesso ecológico. Esse processo de resgate, reabilitação, soltura e monitoramento virou referência e pode inspirar outras ações de preservação no país.
Onde está esse núcleo reintroduzido
O núcleo de reintrodução de onças-pintadas está localizado nas áreas da Caiman, que incluem a RPPN Dona Aracy. Essa unidade de conservação é registrada pelo governo e faz parte da rica paisagem do Pantanal, com seus campos alagáveis e matas ciliares. O manejo da fauna lá se junta ao ecoturismo e à pecuária, formando um modelo que favorece a coexistência entre os felinos e as atividades produtivas.
No Pantanal norte, a Panthera Brasil mantém a Fazenda de Conservação Jofre Velho, com cerca de 10 mil hectares. Esse local é importante para pesquisas e convívio com uma alta densidade de onças, ajudando ainda mais na compreensão e conservação desse bioma.
Resultados já mensuráveis
A reintrodução de onças no Pantanal já trouxe frutos. Os filhotes nascidos em liberdade a partir das fêmeas reintroduzidas demonstraram a viabilidade desse método. Os registros aparecem em artigos científicos e relatórios técnicos, mostrando a reprodução e a socialização dos indivíduos como provas de que essas onças estão realmente integradas ao ambiente.
Com esses avanços, o Pantanal se estabelece como um importante laboratório aberto no Brasil, onde é possível avaliar se a reintrodução de grandes felinos pode ser replicada em outros biomas.
Efeito cascata no ecossistema e na economia local
Como predadora de topo, a onça-pintada desempenha um papel crucial ao regular as populações de presas e ajudar a manter o equilíbrio ambiental. E a presença dela também movimenta o turismo na região. Um estudo de 2017 mostrou que o turismo de observação de onças no Pantanal norte pode gerar aproximadamente US$ 6,8 milhões por ano, valor que supera os danos causados à pecuária. Isso tem contribuído para mudar percepções e criar mais empregos na área.
Mais recentemente, surgiram discussões sobre a pressão turística e a necessidade de governança nos avistamentos, reforçando a importância de regras para garantir experiências de qualidade tanto para os turistas quanto para os animais.
Turismo em expansão exige governança
Com uma maior chegada de turistas em busca de avistamentos, os pesquisadores sugerem que é preciso limitar o compartilhamento de informações sobre as localizações de onças. Isso também inclui organizar grupos menores de barcos para evitar que muitos turistas se concentrem em um único animal. O foco é garantir a sustentabilidade do turismo e reduzir os distúrbios nas rotinas dos felinos.
Esse debate se intensificou com o aumento de encontros e com o crescimento do mercado de safáris no Pantanal. É essencial estabelecer protocolos que definam distâncias e tempos de permanência dos visitantes.
Brasil amplia o escopo das reintroduções
A experiência de reintrodução do Pantanal está inspirando iniciativas em outras regiões. Em 2024, um macho chamado Xamã foi reintroduzido na Amazônia, mostrando que as técnicas utilizadas podem ser aplicadas em diferentes hábitats, desde que haja condições adequadas de monitoramento e corredores ecológicos.
Essa expansão das habilidades institucionais, com parcerias entre governo e universidades e a formação de centros de reabilitação, está pavimentando o caminho para novos núcleos de fauna em diversas regiões do Brasil.
O que ainda está por vir no Pantanal
Para que o modelo pantaneiro continue a prosperar, várias frentes precisam ser trabalhadas ao mesmo tempo. Isso inclui uma fiscalização rigorosa contra a caça, ações de prevenção e resposta a incêndios, além da criação de corredores ecológicos que conectem áreas privadas a unidades de conservação.
Os produtores rurais e guias de turismo têm papéis fundamentais para equilibrar conservação e geração de renda. Assim, a cada ciclo de cheias e secas, o monitoramento das onças reintroduzidas e de seus filhotes fornecerá a informação necessária para ajustar estratégias e garantir uma população saudável a longo prazo.