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O desastre do Concorde: metal causou queda do avião mais rápido

O acidente do Concorde, ocorrido em 25 de julho de 2000, selou o destino da aviação civil e trouxe profundas transformações nas regras de segurança. Essa tragédia marcou o fim dos voos comerciais supersônicos e fez todo o setor repensar os protocolos de segurança.

Naquele caloroso verão europeu, o voo Air France 4590 tinha como destino Nova York, mas, em vez de ser uma viagem tranquila, um evento em cadeia se desenrolou rapidamente, resultando em uma tragédia sem precedentes.

A aeronave, um Concorde, decolou do Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, com 100 passageiros e 9 membros da tripulação. Muitos viajantes carregavam expectativas altas, sonhando com férias no Caribe após a chegada aos EUA.

Curiosamente, o Concorde que saiu para essa missão tinha sido escalado de última hora. Uma falha em outro modelo da frota levou a essa mudança. Isso, somado à transferência apressada de bagagens, fez com que o avião partisse com aproximadamente 800 quilos acima do peso máximo recomendado para a decolagem.

Características do Concorde e Preparativos para o Voo

O Concorde era famoso por seus quatro motores Rolls-Royce/Snecma Olympus 593. Conhecidos por serem potentes, esses motores também tinham fama de consumir muito combustível e fazer bastante barulho. Para decolar, era necessário encher todos os tanques, pois boa parte do combustível seria gasta ainda em terra durante o táxi até a pista.

Mas antes da decolagem, um DC-10 da Continental Airlines já havia utilizado a mesma pista, e uma barra metálica de 43 centímetros, feita de liga de alumínio e titânio, desprendeu-se do motor do DC-10 e ficou ali, sem que ninguém a notasse. As inspeções na época eram menos rigorosas, especialmente por conta do fluxo intenso de voos no aeroporto.

O Momento do Acidente: Da Pista ao Impacto

Quando o Concorde começou a acelerar na pista, bateu na barra metálica, detonando um dos pneus do trem de pouso. Isso gerou fragmentos de borracha que atingiram o tanque de combustível número 5, localizado sob a asa esquerda.

O impacto causou uma onda de pressão interna que rompeu o tanque, resultando em um vazamento de combustível estimado em cerca de 60 quilos por segundo. Esse combustível rapidamente pegou fogo, alastrando-se pela asa e áreas próximas aos motores.

Os registros da caixa-preta mostraram que em poucos segundos, o fogo provocou a perda de potência nos motores, além de acionar diversos alarmes na cabine.

A tripulação foi composta pelo comandante Christian Marty, pelo copiloto Jean Marcot e pelo engenheiro de voo Gilles Jardinaud. Eles tentaram seguir todos os passos do protocolo em emergências, incluindo o recolhimento do trem de pouso e retorno ao aeroporto. Mas o mecanismo de recolhimento falhou e a aeronave perdeu velocidade, não conseguindo ganhar altura.

Em meros 121 segundos, desde que acelerou até o impacto, o Concorde percorreu seu último trajeto. O avião caiu sobre um hotel em Gonesse, a cerca de 10 quilômetros do Aeroporto Charles de Gaulle, matando todos a bordo e mais quatro pessoas em solo.

Investigação e Histórico de Incidentes com o Concorde

As investigações logo identificaram que o contato do pneu do Concorde com a barra de metal deixada pelo DC-10 originou o acidente. Embora eventos como esse sejam considerados raros, o Concorde já tinha um histórico alarmante, com 75 incidentes relacionados a pneus e danos aos tanques de combustível. O caso mais grave antes disso ocorreu em Washington, em 1979, sem mortes, mas com danos significativos.

No incidente do voo Air France 4590, o tanque número 5 não se rompeu por uma perfuração direta, mas sim pela onda de pressão gerada pelo impacto. O incêndio se alastrou rapidamente, alimentado pelo grande volume do combustível presente.

Causas Técnicas e Consequências para a Aviação

A análise revelou outras falhas, como o excesso de bagagem e a utilização de uma peça não original e fora das especificações pela Continental Airlines. Essa peça já havia sido substituída duas vezes nos dois meses anteriores, o que levantou questões sobre a manutenção inadequada.

Após o acidente, os voos do Concorde foram suspensos imediatamente. As autoridades exigiram modificações significativas, como o reforço dos tanques com kevlar — material que pode ser visto em coletes à prova de balas — além de mudanças nos pneus e sistemas elétricos.

As inspeções nos aeroportos passaram a ser mais rigorosas, utilizando novas tecnologias para identificar e remover detritos na pista.

O Fim dos Voos Supersônicos e o Legado do Concorde

Mesmo com o retorno do Concorde em operações experimentais em 2001, ele nunca conseguiu recuperar sua popularidade e viabilidade econômica. A queda na demanda por viagens após os atentados de 11 de setembro de 2001, somada aos altos custos de operação e a decisão da Airbus de parar de produzir peças de reposição, resultou no fim dos voos supersônicos em 2003.

Vinte e cinco anos após o acidente, a indústria da aviação vê o episódio como um divisor de águas em segurança operacional. O legado do Concorde continua sendo um símbolo de inovação e ousadia, mas também funciona como um lembrete sobre os riscos e a importância da manutenção rigorosa.

O fatídico acidente, causado por uma simples peça de metal, reforçou a necessidade de vigilância constante no setor aéreo. É uma lição importante para toda a indústria: pequenos descuidos podem ter consequências catastróficas.

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