Marcelo Rubens Paiva recorda época na USP e sua escrita

Palestra de Marcelo Rubens Paiva na USP Aborda Memórias e Contexto Político
No dia 24 de outubro, a Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP) sediou uma palestra do escritor e jornalista Marcelo Rubens Paiva, autor do livro "Ainda Estou Aqui". O evento atraiu um público considerável, que teve a oportunidade de ouvir Paiva compartilhar suas experiências na universidade, especialmente durante os anos de ditadura militar no Brasil.
Durante a palestra, que durou cerca de uma hora e meia, Paiva refletiu sobre sua trajetória na ECA, onde iniciou seus estudos em 1982, pouco após um acidente que o deixou tetraplégico em 1979. Ele destacou que seu ingresso na USP foi marcado por um novo relacionamento com colegas, já que na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde estudou anteriormente, ele era conhecido como músico e ativista. Na ECA, por ser um novo ambiente, as pessoas não tinham uma imagem preconcebida dele.
“Na Unicamp, eu era o músico maluco, mas na ECA, ninguém me conhecia”, contou Paiva, ressaltando que se sentiu acolhido pelos novos amigos. Ele lembrou que a acessibilidade ainda não era uma prioridade na época, mas seus colegas se mobilizaram para conseguir salas adequadas para ele participar das aulas. Ele se formou em Rádio e TV pela ECA em 1988 e citou sua convivência com colegas de diferentes cursos e seus momentos no Centro de Práticas Esportivas da USP como experiências marcantes da sua vida universitária.
Ao falar sobre a atmosfera política daquele período, Paiva ressaltou as diferenças entre o que acontecia dentro e fora da universidade durante a ditadura. Enquanto do lado de fora a censura imperava, na ECA havia liberdade para discutir temas considerados proibidos, como livros e filmes. Ele considerou as primeiras greves da USP nos anos 70 como momentos significativos para o movimento estudantil.
Paiva também mencionou a presença marcante de militares na sociedade brasileira na época, comparando com o cenário político atual. Ele por sua vez se referiu à figura de seu pai, Rubens Paiva, que desapareceu sob a repressão do regime militar, questionando por que sua mãe, Eunice Paiva, não recebe a mesma atmosfera de martírio na história.
A palestra também abordou a relação entre seu livro "Ainda Estou Aqui" e sua adaptação cinematográfica, dirigida por Walter Salles. Paiva falou sobre seu processo de autocrítica ao decidir contar suas experiências de vida e sobre como o filme se distanciou de cenas de tortura, já que isso não estava presente na perspectiva da sua mãe. “O filme é feito a partir do olhar dela”, comentou, destacando que a narrativa se concentra nos sentimentos e memorias da família.
Um momento importante da palestra foi quando Paiva falou sobre a influência de Caio Graco Prado, editor que o incentivou a colocar suas histórias no papel. Ele lembrou que já escrevia para jornais e fanzines, mas foi Graco quem o motivou a publicar seu primeiro livro, "Feliz Ano Velho", em 1982. Esse trabalho faz parte de uma coleção que visava dar voz a autores considerados marginais na literatura.
O evento, organizado por docentes e alunos do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da ECA, promoveu um diálogo aprofundado sobre a memória pessoal e coletiva, a construção literária e o impacto histórico do período da ditadura militar no Brasil. A palestra foi bem recebida e agora está disponível na íntegra para o público interessado.