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Geólogos descobrem família russa isolada por 40 anos na floresta

A taiga siberiana, com suas florestas densas e invernos rigorosos, é um dos poucos lugares selvagens que ainda restam no planeta. Foi nesse cenário extremo que, em 1978, um grupo de geólogos soviéticos fez uma descoberta surpreendente.

Durante um voo de reconhecimento perto da fronteira com a Mongólia, a equipe avistou uma clareira retangular na vasta paisagem gelada. Com marcas que sugeriam cultivo, o local ficava a mais de 240 quilômetros de qualquer vila conhecida. Intrigados, os cientistas decidiram investigar essa mistura inusitada de natureza e agricultura.

### Um encontro congelado no tempo

Quando seguiram as coordenadas, os geólogos chegaram a uma cabana simples feita de troncos. Para sua surpresa, um homem idoso, descalço e assustado, apareceu. Era Karp Osipovich Lykov. Atrás dele, duas mulheres faziam o sinal da cruz e choravam. A cena era quase um retorno a outro século.

Nos dias seguintes, os visitantes descobriram que a família vivia em completo isolamento havia mais de quatro décadas, sem nenhum contato com o mundo exterior.

### Fuga pela fé e começo da solidão

Karp era um “Velho Crente”, um seguidor de uma seita ortodoxa que resistiu às reformas religiosas na Rússia do século XVII. Nos anos 30, durante as campanhas ateístas da União Soviética, ele e sua família se refugiaram no meio da floresta, fugindo das perseguições. Assim, eles se afastaram cada vez mais da civilização.

Na taiga, nasceram mais dois filhos, Dmitry e Agafia. Cresceram sem conhecer outra realidade além da mata que os cercava.

### Infância sem civilização

Sem escola ou eletricidade, as crianças aprenderam a ler com a Bíblia e livros de oração antigos. As aulas aconteciam de forma improvisada, com galhos de bétula sendo usados para traçar letras na terra. O tempo para eles era medido pelas colheitas e pelos rituais religiosos. A vida, para eles, era marcada pela fé e pelo trabalho duro.

### A rotina dura e os limites da sobrevivência

As roupas eram feitas de linho que cultivavam, e os utensílios, quando quebrados, eram substituídos por objetos improvisados com casca de árvore. O inverno impunha dificuldades imensas. Nos anos 50, as colheitas começaram a falhar. Em 1960, uma nevasca arrasou tudo, fazendo com que a família se alimentasse de raízes e couro. Akulina, a mãe, morreu de fome em 1961, sacrificando-se para salvar os filhos.

A sobrevivência se deu graças a um único grão de centeio que germinou, permitindo a eles recomeçar as plantações.

### A descoberta que mudou tudo

Quando os geólogos finalmente chegaram à cabana, em 1978, ficaram admirados com a adaptabilidade dos Lykov. Dmitry, o filho mais velho, caminhava quilômetros descalço na neve. Agafia, a caçula, exibia uma curiosidade e força impressionantes. Karp, fiel às suas tradições religiosas, recusou quase todas as ofertas, aceitando apenas sal, um item que não via há 40 anos. A presença dos cientistas despertou curiosidade, mas a família preferiu voltar às suas orações.

### A tragédia após o reencontro

A alegria de reencontrar o mundo moderno foi breve. Em 1981, apenas três anos depois da descoberta, três dos filhos da família morreram. Savin e Natalia, debilitados, sofreram falência renal, enquanto Dmitry, acometido por pneumonia, recusou tratamento e foi fiel à sua decisão de nunca abandonar a floresta.

Restaram apenas Karp e Agafia. Apesar da ajuda e das ofertas de abrigo, eles não queriam deixar o lugar que consideravam lar.

### A escolha de permanecer na taiga

Com o tempo, o governo soviético tentou convencê-los a se mudar, oferecendo casas e assistência médica. Mas nada teve efeito. Agafia chegou a visitar cidades, mas retornou profundamente perturbada pela poluição e pelo barulho. Para ela, o silêncio da floresta era mais precioso que qualquer conforto.

Após a morte de Karp em 1988, Agafia o enterrou sozinha, com a ajuda dos geólogos. Decidiu continuar vivendo na taiga, mantendo as tradições familiares.

### A última Lykov e sua vida na floresta

Com o passar dos anos, Agafia tornou-se uma figura quase lendária. Ela ainda viva na clareira, cultivando uma horta pequena e caçando de vez em quando. Com o tempo e a avançar da idade, começou a aceitar ajuda externa. Voluntários passaram a levar alimentos e remédios, e até um empresário russo construiu uma nova cabana de madeira para ela enfrentar os rigorosos invernos.

Ainda assim, Agafia nunca se afastou da floresta. Ela dorme acompanhada por pinheiros e acorda com o som do vento.

### A família Lykov: O símbolo da resistência humana

A história dos Lykov fascina, pois representa o extremo da fé e da resiliência humana. Fizeram escolhas que os afastaram do conforto, da sociedade e da tecnologia, tudo em nome de suas crenças espirituais. Durante quase cinquenta anos, viveram longe do mundo, sustentados apenas pelo trabalho e a fé.

### Agafia, a guardiã de um modo de vida

Hoje, Agafia é a última guardiã dessa história. Ela continua seguindo a rotina que o pai estabeleceu: acordar cedo, rezar, cuidar da horta e manter o fogo aceso. Com suas limitações, não cogita deixar a taiga. Para ela, o isolamento não é castigo, mas sim seu destino.

Dentro da cabana, o tempo parece parado. Com cada inverno que chega, a neve cobre as montanhas, e tudo permanece igual. Cada ciclo das estações reafirma a história de sobrevivência e fé.

### A história da família que desafia o tempo

Os Lykov tornaram-se um símbolo de resistência quase inacreditável. Eles viveram à margem do século XX, enfrentando frio e solidão, sem nunca renunciar a suas crenças. A trajetória da família mostra até onde uma pessoa pode ir em nome da fé. Mesmo depois das perdas, Agafia manteve-se fiel ao legado familiar.

Enquanto o mundo muda rapidamente, a floresta onde ela vive continua intocada, onde o tempo parece não passar. A natureza dita as regras, e a vida de Agafia se desenrola entre memória e resistência, simbolizando uma força singular e uma fé que ainda se mantém acesa.

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