Deserto do Namibe: um mar de areia com fósseis e história

O Deserto do Namibe, conhecido como o Mar de Areia, é um dos desertos mais antigos do mundo, com pelo menos 55 milhões de anos de idade. Ele se estende ao longo da costa sudoeste da África, abrangendo aproximadamente 2.100 km desde o rio Carunjamba, em Angola, até o rio Orange, na África do Sul, atravessando a Namíbia. Sua largura média não chega a 200 km, compondo um dos ambientes mais inóspitos e intrigantes do planeta.
É fascinante pensar que, segundo a NASA, o Namibe pode ser o deserto mais antigo do mundo. No entanto, essa afirmação não é unânime entre os especialistas. O conservacionista sul-africano Brian J. Huntley afirma que o Namibe e o deserto do Atacama, no Chile, partilham esse título, mostrando como o estudo sobre esses lugares nos instiga a explorar mais.
Namibe: origem do nome e conexões culturais
O nome do deserto tem raízes culturais profundas. Ele vem da palavra “namib”, que em Nama significa “um lugar vasto e distante”. A língua Nama, falada por povos Khoikhoi, ganhou destaque no século 19 com a chegada de missionários à região e ainda é utilizada atualmente na Namíbia, em Botswana e na África do Sul. Além de nomear o deserto, Namibe é também o nome de uma província angolana, que delimita um dos extremos dessa paisagem singular.
Vale mencionar que antes da colonização portuguesa, a área era conhecida como Chitoto Chabotua, que quer dizer “toca dos pássaros”, revelando um pouco mais da história rica que esse deserto carrega.
O Mar de Areia: um patrimônio da humanidade
O Mar de Areia do Namibe é um dos símbolos mais marcantes da região. Com mais de 30 mil km² cobertos por dunas móveis e planícies de cascalho, essa área foi reconhecida como Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO em 2013.
Ao redor, existe uma zona de amortecimento de quase 9 mil km², que ajuda a preservar esse ecossistema único. O cenário é simples e espetacular, com planícies rochosas, colinas de granito e calcário, lagoas costeiras e cursos d’água que aparecem sazonalmente. Um fenômeno curioso são os círculos de fadas, essas áreas circulares de vegetação de origem ainda desconhecida que intrigam cientistas e visitantes.
Nevoeiros: fonte de vida em um ambiente árido
Uma das características mais interessantes do deserto é a presença dos nevoeiros, que podem penetrar até 100 km no interior, oferecendo a umidade necessária para a flora e fauna locais. Esses nevoeiros surgem devido à Corrente de Benguela, que traz águas frias do fundo do oceano e cria as brumas que envolvem a região.
Embora essa corrente diminua a ocorrência de chuvas, ela é essencial para a vida no deserto, funcionando como a principal fonte de água para as espécies da área. Porém, um estudo recente apontou que a frequência dos nevoeiros caiu quase 30% entre 1979 e 2009, resultado do aquecimento global.
Costa dos Esqueletos: beleza e perigo
O Namibe abriga a famosa Costa dos Esqueletos, um trecho que se estende por 500 km da faixa costeira, com cerca de 40 km de largura. O nome vem da grande quantidade de esqueletos de baleias e embarcações naufragadas que ficam presas na areia.
As correntes marítimas fortes, os ventos intensos e os nevoeiros densos tornam a navegação nesta área bastante arriscada. Assim, a Costa dos Esqueletos se torna um dos cenários mais icônicos e enigmáticos do deserto.
Como o Deserto do Namibe se formou?
A formação do Deserto do Namibe foi o resultado de uma combinação de fatores. O anticiclone subtropical do Atlântico Sul cria um sistema de alta pressão, enquanto a sombra de chuva bloqueia a umidade que vem do interior do continente. Outro fator importante é a ressurgência da Corrente de Benguela.
Esse conjunto de elementos, desenvolvido ao longo de milhões de anos, gerou a hiper-aridez da região e moldou seu relevo, criando um ambiente desafiador que abriga espécies adaptadas ao extremo.
A surpreendente biodiversidade do Namibe
Apesar do ambiente hostil, o deserto abriga uma diversidade biológica surpreendente. Mamíferos como antílopes, raposas, hienas, guepardos e até os famosos elefantes do deserto circulam pela região, adaptando-se a longos períodos sem água.
A avifauna é rica, contando com espécies como o avestruz africano e diversos répteis. Na flora, a Welwitschia mirabilis, conhecida como o “polvo do deserto”, é uma das espécies mais emblemáticas. Essa planta impressionante pode viver mais de mil anos e é fundamental na regulação térmica do solo, além de fornecer alimento e sombra para outras espécies. Outra planta notável é o melão de Nara, uma fonte importante de alimento tanto para os humanos da região quanto para a fauna local.
Impactos das mudanças climáticas
Atualmente, o Deserto do Namibe enfrenta intensos desafios devido às mudanças climáticas. O aumento das temperaturas, a redução das chuvas e a elevação do dióxido de carbono na atmosfera alteram profundamente sua estrutura ecológica.
Estudos indicam que 73% do habitat dos elefantes do deserto foi perdido por causa da escassez de água e da expansão agrícola, o que intensifica os conflitos entre humanos e animais. Além disso, a diminuição dos nevoeiros ameaça as espécies que dependem dessa umidade vital. A Welwitschia mirabilis, por exemplo, já demonstra sinais de declínio, o que pode impactar negativamente toda a cadeia ecológica local.