Cidade gaúcha preserva Talian, patrimônio cultural desde 2014

Em 1875, os primeiros imigrantes italianos chegaram ao Rio Grande do Sul, trazendo sonhos, ferramentas e a língua que falavam nas suas aldeias, como Vêneto, Lombardia e Trento. Mais de um século depois, cidades como Antônio Prado, Caxias do Sul e Bento Gonçalves ainda respiram esse passado, mas não com o italiano moderno. O que se fala lá é o Talian, um dialeto que mistura o vêneto antigo com um pouco do português brasileiro.
Em 2014, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) reconheceu oficialmente o Talian como uma importante referência cultural do Brasil. Hoje, cerca de 500 mil pessoas ainda conversam nesse idioma, especialmente nas regiões do Sul, em informações que foram reveladas em levantamento de 2025.
O que é o Talian e como ele sobreviveu
É fácil confundir o Talian com o italiano atual, mas eles são bem diferentes. O Talian é filho da fusão de dialetos imigrantes, principalmente o vêneto, que já circulava por aqui no século XIX. Uma curiosidade é que o italiano moderno foi padronizado a partir do toscano no século XX, enquanto o Talian preserva formas e expressões que já não existem mais nem na própria Itália.
Se você passar por Antônio Prado (RS), vai ouvir moradores conversando em uma língua que soa italiana, mas que carrega as marcas do Brasil. Uma reportagem apontou que cerca de 80% da população da cidade ainda fala o Talian no cotidiano.
Cidades onde o Talian segue vivo
De acordo com o levantamento de 2025, o Talian é falado em 133 municípios de seis estados brasileiros, com predominância no Rio Grande do Sul. Entre as cidades onde o idioma se destaca estão:
- Antônio Prado (RS): Aqui, o dialeto é muito preservado; cerca de 80% dos moradores ainda se comunicam em Talian.
- Serafina Corrêa (RS): Este foi o primeiro lugar a oficializar o Talian como língua cooficial, em 2009.
- Caxias do Sul (RS): A maior cidade da Serra Gaúcha mantém viva a língua em rádios comunitárias e festas tradicionais.
- Bento Gonçalves (RS): Conhecida por seus vinhos, a cidade ainda utiliza o Talian em muitas famílias descendentes.
Além do Rio Grande do Sul, tem falantes em Santa Catarina, Paraná, Espírito Santo, São Paulo e Rondônia, fruto da migração interna dos descendentes.
Reconhecimento cultural e oficial
O Talian não é apenas uma herança familiar; ele agora possui reconhecimento legal. Confira alguns marcos importantes:
- 2009: Serafina Corrêa (RS) torna-se a primeira cidade a adotar o Talian como língua cooficial.
- 2014: O IPHAN declara o Talian como Referência Cultural Brasileira, garantindo seu status de patrimônio imaterial.
- 2020: Reportagens locais destacam a resistência do idioma em rádios e programas culturais.
Essas conquistas ajudaram a manter o Talian presente em rádios comunitárias, grupos folclóricos, escolas e até em celebrações religiosas.
A importância do Talian para a identidade gaúcha
O Talian vai além de uma simples língua; ele é um símbolo de identidade. Esse idioma conecta gerações às histórias de seus antepassados que, no século XIX, deixaram a Itália em busca de uma vida melhor. Durante festas típicas, como a Festa da Uva em Caxias do Sul, o Talian é um orgulho cultural, e até rádios comunitárias locais costumam transmitir programas no idioma.
Apesar da resistência, o número de falantes tem diminuído ao longo do tempo. Pesquisadores da Universidade de Caxias do Sul (UCS) alertam que o idioma corre risco de desaparecer se não houver apoio contínuo e políticas de valorização.
Iniciativas como a inclusão do Talian nas escolas, a digitalização de dicionários e a criação de aplicativos visam garantir que a língua permaneça viva para as próximas gerações.
Para os linguistas, o Talian é um caso raro
O Talian é único: nasceu no Brasil, mas preserva a memória da Itália do século XIX. Nas cidades da Serra Gaúcha, ao ouvir moradores falando o dialeto, é como entrar em uma máquina do tempo que remete ao passado da imigração italiana.
Embora o italiano atual tenha tomado um caminho diferente na Europa, o Brasil manteve uma versão especial, enraizada no dia a dia das famílias que transformaram as serras e vales do Sul em sua nova casa.