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Brasil abre a maior fábrica de mosquitos modificados do mundo

O Brasil deu um passo importante na luta contra a dengue e outras doenças transmitidas por arboviroses. Em Curitiba, no Paraná, foi inaugurada a maior biofábrica do mundo dedicada à produção de mosquitos Aedes aegypti modificados com a bactéria Wolbachia. Essa inovação é considerada segura e eficaz no combate a doenças como dengue, zika e chikungunya. A estrutura da Wolbito do Brasil poderá beneficiar até 14 milhões de pessoas por ano, sendo uma ação estratégica do Ministério da Saúde.

Com uma área de 3.500 metros quadrados e tecnologia de ponta, a biofábrica é resultado de uma parceria entre o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), da Fiocruz, e o World Mosquito Program (WMP). Essa aliança tem mais de 10 anos de experiência com a tecnologia Wolbachia, visando oferecer uma solução inovadora e acessível.

Inovação que reforça a soberania nacional

Na cerimônia de inauguração, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, destacou como a nova biofábrica é uma resposta à dependência de insumos de saúde, que ficou evidente durante a pandemia da COVID-19. Para ele, o projeto simboliza um “exercício de soberania e inovação”, fortalecendo a ciência e as tecnologias desenvolvidas no Brasil, além de possibilitar uma resposta rápida a surtos epidemiológicos.

O presidente da Fiocruz, Mário Moreira, enfatizou a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) para implementar essa técnica. Ele ressaltou que, sem um sistema público robusto, ações como essa não seriam viáveis, dependendo do apoio de estados, municípios e da população.

Como funciona o Método Wolbachia?

A Wolbachia é uma bactéria que já vive naturalmente em mais de 50% dos insetos, mas não está presente nos Aedes aegypti. Essa tecnologia envolve introduzir a bactéria nos mosquitos, o que impede a replicação dos vírus da dengue, zika e chikungunya. Assim, quando um mosquito infectado se reproduz, a bactéria é transmitida às próximas gerações, criando um efeito cascata de proteção nas populações locais.

Diferente de métodos químicos ou transgênicos, a Wolbachia é uma abordagem natural, segura, autossustentável e que respeita o meio ambiente. Em Niterói, por exemplo, após a aplicação dessa técnica, os casos de dengue caíram 69%, mostrando a efetividade do método.

Uma estratégia nacional contra as arboviroses

O Ministério da Saúde adotou o Método Wolbachia como uma das principais frentes de combate às arboviroses. Até agora, cerca de 5 milhões de brasileiros foram beneficiados, e a expectativa é alcançar 70 milhões de pessoas nos próximos anos.

A biofábrica vai atender inicialmente seis municípios prioritários: Balneário Camboriú, Blumenau e novas áreas de Joinville em Santa Catarina; Valparaíso de Goiás e Luziânia em Goiás; e o Distrito Federal. Essas regiões já estão recebendo informações e engajamento da comunidade, com os primeiros mosquitos previstos para serem liberados entre agosto e setembro.

Comunicação com a população é peça-chave

Luciano Moreira, CEO da Wolbito do Brasil, destaca que uma comunicação clara com a população é essencial para o sucesso do projeto. Não adianta apenas liberar os mosquitos; é preciso informar e envolver as comunidades para que a aceitação social ocorra. A biofábrica foi planejada para trabalhar em conjunto com campanhas educativas e parcerias locais, garantindo que cada passo da implementação seja acompanhado por especialistas.

Aliança internacional em benefício da saúde pública

O projeto é o resultado de uma colaboração entre a Fiocruz e o World Mosquito Program, que já levou essa tecnologia a 14 países. Scott O’Neill, CEO do WMP e um dos pioneiros nos estudos sobre a Wolbachia, afirma que a iniciativa brasileira se tornou um modelo global. Ele vê nisso uma esperança não apenas para o Brasil, mas uma evolução para a saúde pública mundial, com soluções eficazes que podem beneficiar milhões.

Próximos passos

Com a operação da Wolbito do Brasil avançando, o país busca acelerar a cobertura do método em regiões com altos índices de arboviroses. A intenção é integrar essa estratégia de longo prazo no controle das doenças, ao lado de vacinas e programas de vigilância. A unidade de Curitiba representa mais do que uma fábrica de mosquitos; é um modelo de desenvolvimento científico e estratégico, com potencial para compartilhar conhecimento e liderança no combate a doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.

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