A árvore vermelha que deu nome ao Brasil ocupava 3 mil km de costa

A história do Pau-Brasil, oficialmente chamada Paubrasilia echinata, é um capítulo fascinante e trágico na formação do Brasil. Desde o início da colonização, essa árvore vermelha, com seu tronco valioso, não só influenciou a economia, mas também causou profundas mudanças sociais e ambientais. Esse corante extraído da árvore e sua busca desenfreada definiram os primeiros anos do nosso país.
Quando os europeus chegaram à América do Sul, logo descobriram essa árvore imponente. O Pau-Brasil, que deu nome à nossa nação, tornou-se a primeira grande riqueza explorada, iniciando um ciclo econômico que devastaria suas florestas e impactaria os povos indígenas de forma irreversível.
Ibirapitanga: A Árvore Vermelha Antes da Chegada dos Portugueses
Antes de ser conhecida como Pau-Brasil, a Paubrasilia echinata já era o que os povos Tupi chamavam de Ibirapitanga, que literalmente significa “pau vermelho”. Para esses nativos, a árvore não era apenas uma fonte de material, mas parte de sua cultura e modo de vida.
Endêmica da Mata Atlântica, essa árvore majestuosa pode alcançar até 30 metros de altura e viver mais de 300 anos. Sua casca, cheia de espinhos, esconde o cerne avermelhado que, ao ser exposto ao ar, revela um pigmento que atraiu a cobiça europeia. Ela crescia de forma abundante ao longo de quase 3.000 quilômetros de costa, desde o Rio Grande do Norte até o Rio de Janeiro.
A Primeira Economia da Colônia
Nos primeiros anos de colonização, a exploração do Pau-Brasil se tornou a principal atividade econômica dos portugueses. A Coroa rapidamente instaurou um monopólio para a extração da madeira, um contrato de exploração foi dado em 1501 ao comerciante Fernão de Loronha. Inicialmente, a exploração era controlada, mas rapidamente se transformou em um sistema onde qualquer comerciante poderia participar, bastando pagar uma parte dos lucros para a Coroa.
Esse novo modelo levou a uma corrida desenfreada pelas árvores. Por volta de 1530, o Pau-Brasil já respondia por cerca de 90% das exportações da colônia. Com o tempo, essa busca intensa apenas acelerou a devastação da floresta.
A Devastação Ambiental e Social
O lucro desenfreado trouxe consequências drásticas. Inicialmente, a relação com os povos indígenas era de troca: eles cortavam e transportavam a madeira em troca de objetos como machados e espelhos. Contudo, à medida que a demanda aumentava, essa relação rapidamente se transformou em trabalho forçado e escravidão.
Além disso, essa interação trouxe doenças para os nativos, como a varíola e o sarampo, para as quais eles não tinham imunidade. A consequência foi devastadora, resultando numa drástica redução da população indígena. A exploração contínua da madeira fez com que a Mata Atlântica sofresse uma perda significativa, restando apenas cerca de 12% de sua cobertura original hoje.
A Quase Extinção e o Status Atual de Conservação
Até o século XIX, encontrar um Pau-Brasil em seu habitat natural era quase impossível. Em 1978, através da Lei nº 6.607, esta árvore foi oficialmente declarada a Árvore Nacional do Brasil. Em 1992, o IBAMA a colocou na lista de espécies ameaçadas de extinção, e ainda permanece nela.
Hoje, a principal ameaça à sobrevivência do Pau-Brasil é a extração ilegal de sua madeira, altamente valorizada internacionalmente para a fabricação de instrumentos como violinos e violoncelos. Para tentar proteger essa espécie, o Parque Nacional do Pau-Brasil, criado em Porto Seguro (BA) em 1999, e programas de reflorestamento têm sido implementados.
Por Que o Pau-Brasil Era Tão Valioso?
O grande valor do Pau-Brasil vem de seu corante, a brasilina. Quando exposta ao ar e à água, ela se transforma em brasileína, um pigmento vermelho vibrante, altamente valorizado na Europa renascentista. Esse corante era utilizado para tingir tecidos luxuosos, como seda e veludo, simbolizando poder e riqueza.
A cor vermelha tornava a madeira valiosa. Curiosamente, o nome "Brasil" é derivado da palavra "brasa", o que destaca a forte conexão entre nossa identidade nacional e essa árvore que foi tão cobiçada desde os primeiros dias de colonização.