O Mini original poderia ter sido diferente

Houve um tempo em que as montadoras estavam de olho nos carros pequenos e acessíveis. A Volkswagen tinha seu icônico Fusca, a Fiat investia no charmoso 500 e, claro, o Reino Unido via nascer o famoso Mini. Como o próprio nome sugere, ele foi projetado para oferecer o máximo em espaço, mesmo sendo um carro diminuto. Mas a história do Mini poderia ter tomado um rumo bem diferente, e isso é algo que um dos protótipos curiosos expostos no Museu Britânico do Automóvel, em Gaydon (ING), nos mostra.
Ah, a British Leyland! Esse nome carrega um pedaço significativo da história automobilística britânica. Criada em 1968 após a fusão da British Motor Holdings com a Leyland Motors, a British Leyland rapidamente se tornou um gigante do setor. Chegou a controlar 40% do mercado britânico e tinha em seu portfólio marcas icônicas como Mini, Jaguar, Rover e Land Rover. Era uma resposta forte ao domínio das montadoras alemãs e japonesas, mas, como a gente sabe, a maré não ficou a seu favor.
Infelizmente, o que parecia uma solução genial se transformou em um verdadeiro pesadelo industrial. O grupo enfrentou greves, decisões extremamente questionáveis e uma má gestão completa que comprometeram seu futuro. Em 1975, o governo britânico precisou intervir com uma nacionalização parcial para o grupo não ir à falência. Nesse embolado de problemas, muitos projetos promissores ficaram engavetados, incluindo o Mini 9X, que tinha tudo para ser um sucesso.
No dia 26 de julho, parte dessa história esquecida vai dar as caras novamente no Festival of the Unexceptional, que acontece no Castelo de Grimsthorpe, em Lincolnshire (ING). Esse evento é famoso por celebrar carros que são “comuns demais para serem notados”, mas terá uma mostra especial com seis modelos da British Leyland. Vão ser três carros de produção e três protótipos que poderiam ter mudado o jogo.
### Mini 9X (1969)
O Mini 9X foi criado por Alec Issigonis, o mesmo gênio por trás do Mini original. Ele era bem ousado, com apenas 2,95 metros de comprimento, ou seja, 10 centímetros menor que o Mini e ainda assim com espaço para quatro adultos e suas bagagens. O motor de 850 cm³ pesava 40% menos que o anterior, e sua suspensão traseira tinha um sistema independente que mandava muito bem nas curvas.
Era uma evolução clara do conceito do Mini, mas, para a tristeza dos amantes de carros, a British Leyland decidiu deixá-lo de lado. Uma oportunidade perdida, considerando que outros fabricantes soltaram modelos semelhantes só alguns anos depois.
### Triumph SD2 (1975)
Esse modelo foi pensado para substituir o Triumph Dolomite. O SD2, um sedã de quatro portas, prometia um motor 2.0 de quatro válvulas por cilindro, mas ficou pelo caminho e nunca chegou a ser fabricado. Nesta época, os custos estavam nas alturas e ele competia diretamente com outros modelos da própria British Leyland.
O SD2 lembrava bastante o Rover SD1, já que ambos foram desenvolvidos em conjunto. Mas com os problemas financeiros e os cortes impostos pelo governo, o SD2 foi descartado. O que o substituiu foi o Triumph Acclaim, que nada mais era que um Honda Accord com um emblema diferente.
### Honda Prelude (1979)
Ah, e aqui vem um momento de virada. Com a parceria entre a British Leyland e a Honda, um Prelude foi enviado para o CEO da British Leyland na época, Sir Michael Edwardes. O carro virou um veículo de apoio na fábrica de Longbridge, mas acabou esquecido. Muitos anos depois, foi resgatado e restaurado, e agora brilha no acervo do museu.
### British Leyland ECV3 (1981)
Este protótipo é tudo sobre eficiência. O ECV3 foi desenvolvido por Spen King, o criador do Range Rover. Ele tinha uma carroceria de plástico, chassi de alumínio e uma aerodinâmica de 0,24 que era impressionante para a época. Sob o capô, um motor 1.0 de três cilindros com injeção eletrônica prometia uma média de incríveis 35,7 km/l e alcançava até 185 km/h.
Apesar de nunca ter chegado à linha de produção, várias ideias desse protótipo foram aproveitadas em modelos futuros. Era a British Leyland tentando se reinventar mesmo no meio de toda a confusão.
E, enquanto essas histórias se entrelaçam com nosso amor por carros, cada uma delas nos lembra do quão emocionante e, por vezes, conturbada pode ser a indústria automotiva.