Interrupção do tráfego marítimo para içar navio Vasa em Estocolmo

O Vasa, um navio de guerra icônico da Suécia, tem uma história que mistura poder e tragédia. Construído entre 1626 e 1628, o Vasa era considerado a maior embarcação da época. No entanto, em sua viagem inaugural, ele não chegou nem a 1,5 km do cais de Estocolmo antes de afundar, um desastre que chocou a população local. Durante mais de 300 anos, o navio permaneceu em águas profundas, protegido pelo ambiente frio e de baixa oxigenação do mar Báltico. Foi apenas entre 1957 e 1961 que essa joia histórica foi resgatada, em uma das maiores operações de salvamento naval já vistas.
Esse resgate foi uma verdadeira proeza de engenharia. Com um planejamento que levou quase quatro anos, a operação envolveu mergulhadores da Marinha Sueca, engenheiros, arqueólogos e uma atenção da mídia internacional que acompanhou todos os passos. O que parecia ser um projeto quase impossível se tornou realidade, interrompendo inclusive o tráfego marítimo em Estocolmo.
Navio Vasa: de símbolo de poder a tragédia em 1628
O Vasa foi idealizado pelo rei Gustavo II Adolfo como o navio de guerra mais potente de seu tempo. Com 69 metros de comprimento e 64 canhões, ele deveria ser uma fortaleza flutuante. Contudo, o excesso de peso no convés e um casco instável causaram seu naufrágio logo após zarpar. Uma rajada de vento fez com que o navio inclinasse, permitindo que a água invadisse por onde estavam os canhões. Assim, diante de uma multidão atônita, o Vasa afundou, se tornando um símbolo das falhas de projeto naval do século XVII.
Resgate do Vasa: um plano ousado começa a ganhar forma em 1957
Após mais de três séculos no fundo do mar, a história do Vasa começou a mudar em 1957. O engenheiro naval Anders Franzén, que havia encontrado o local do naufrágio, liderou os esforços de resgate. Entre 1957 e 1959, mergulhadores da Marinha escavaram túneis sob o casco do navio para passar cabos de aço, que seriam essenciais para erguê-lo. Esses cabos foram ligados a enormes pontões flutuantes, chamados Oden e Frigg, que seriam a chave para a operação.
Içamento de navio histórico: 18 içamentos e 4 anos de trabalho
O processo de içamento foi meticuloso e exigiu muitas precauções. O casco de carvalho estava frágil e qualquer erro poderia resultar em sua destruição. Entre 1959 e 1961, foram feitos 18 içamentos controlados, elevando o navio gradualmente até que ele pudesse flutuar em águas mais rasas. No dia 8 de abril de 1961, o içamento final começou, e em 24 de abril, o Vasa emergiu das profundezas. O momento foi tão marcante que foi transmitido ao vivo para o mundo todo.
Maior operação de salvamento naval do século XX
O resgate do Vasa foi realmente impressionante. Para ter uma ideia da magnitude da operação:
- Profundidade do naufrágio: 32 metros
- Tempo de preparação: 1957 a 1959
- Número de içamentos: 18
- Data em que emergiu: 24 de abril de 1961
- Duração total da operação: quase quatro anos.
Durante esse período, o tráfego marítimo precisou ser redirecionado, e algumas dragagens foram suspensas para viabilizar os trabalhos de escavação.
Museu Vasa em Estocolmo: o destino final do navio sueco Vasa
Após o resgate, o Vasa passou por um extenso tratamento de conservação. Para evitar que a madeira se desintegrasse ao secar, o casco foi tratado com polietilenoglicol (PEG). Hoje, ele está exposto no Museu Vasa, um dos locais mais visitados da Suécia, atraindo mais de um milhão de pessoas por ano. O museu não apenas exibe o navio quase intacto, mas também conta a rica história de sua construção, naufrágio e resgate, incluindo diversos artefatos encontrados a bordo.
Recuperação de navio de guerra antigo: impacto histórico e cultural
O resgate do Vasa se tornou um marco tanto para a arqueologia subaquática quanto para a engenharia naval. Nenhum outro navio de guerra do século XVII foi preservado com tamanha riqueza de detalhes, tornando o Vasa uma cápsula de tempo que revela não apenas técnicas de construção naval, mas também aspectos da vida a bordo e da potência militar sueca na Era Moderna.
Içar o Vasa foi um feito que ultrapassa a mera engenharia — foi um resgate da própria história. O navio, que se afundou por falhas de projeto, agora exibe seu legado em um museu dedicado, mostrando que até os maiores desastres podem se transformar em parte valiosa do patrimônio cultural da humanidade. Com mais de 95% de sua estrutura original preservada, o Vasa continua a nos contar uma história impressionante das complexidades da vida no mar e das fragilidades humanas.