Escândalo sexual abala o clero budista na Tailândia

O desaparecimento de um monge respeitado de um templo budista em Bangcoc, na Tailândia, desencadeou um escândalo que abalou o país. Com alegações de extorsão, presentes luxuosos e demissões em massa, o caso levanta questões sobre o dinheiro e o poder que cercam o clero budista no país.
As investigações sobre o desaparecimento do monge sênior Phra Thep Wachirapamok levaram a polícia a Wilawan Emsawat, uma mulher suspeita de ter mantido relacionamentos íntimos com vários monges e de ter os chantageado para manter esses encontros em segredo. Durante uma busca em sua casa, os policiais encontraram celulares com dezenas de milhares de fotos e vídeos comprometedores do monge desaparecido e de outros líderes budistas. Análises financeiras mostraram que ela tinha ligações com templos.
Jaroonkiat Pankaew, da polícia tailandesa, afirmou que as investigações financeiras de Wilawan revelaram movimentações significativas ligadas a muitos templos. Ele também mencionou que as evidências coletadas incluem diversos conteúdos comprometendo outros monges, como vídeos e conversas pelo aplicativo de mensagens Line.
Phra Thep Wachirapamok não é visto desde que saiu do templo e, até o momento, não há acusações formais relacionadas ao seu desaparecimento. Wilawan foi presa e enfrenta acusações de extorsão, lavagem de dinheiro e receptação de bens roubados.
Em uma entrevista, Wilawan admitiu ter tido relacionamentos com dois monges e um professor religioso. Ela afirmou ter recebido presentes extravagantes, incluindo um carro Mercedes-Benz, além de transferências bancárias que totalizaram “milhões” de baht. Em resposta às acusações, expressou arrependimento e disse que havia se apaixonado pelos monges.
A polícia divulgou que cerca de 385 milhões de baht (aproximadamente 11,9 milhões de dólares) foram depositados nas contas bancárias de Wilawan nos últimos três anos. Em outra entrevista, ela comentou que havia dado dinheiro a um dos monges com quem estava se relacionando.
Embora casos de má conduta envolvendo monges não sejam novidade na Tailândia, a gravidade deste escândalo tem gerado comoção pública, levantando questionamentos sobre o comportamento dos monges que deveriam viver de acordo com os princípios da filosofia budista, que inclui a prática da castidade.
Este caso resultou em pelo menos nove monges conhecidos sendo destituídos e demitidos. Um dos monges envolvidos enfrenta acusações de desvio de fundos do templo e conduta inadequada, reconhecendo ter emprestado dinheiro da instituição para ajudar Wilawan em um negócio.
Paiwan Wannabud, que foi monge por quase 20 anos, disse que nunca havia visto um escândalo dessa magnitude. Ele ressaltou a necessidade de discutir o papel do dinheiro, do poder e das posições de prestígio que podem levar a comportamentos questionáveis no clero. Embora a atenção tenha se concentrado em Wilawan, Paiwan argumentou que o escândalo revela um sistema base com privilégios e riqueza que podem favorecer abusos.
Os monges na Tailândia têm uma renda mensal que varia entre 2.500 e 34.200 baht, dependendo da posição, mas também recebem doações generosas que podem ser muito lucrativas para os mais altos escalões do clero. Em um episódio separado, o abade de um famoso templo em Bangcoc foi notícia ao relatar o roubo de 10 milhões de baht em dinheiro e barras de ouro.
O primeiro-ministro interino, Phumtham Wechayachai, solicitou uma revisão das leis relacionadas aos templos e monges, especialmente no que diz respeito às finanças, e a National Office of Buddhism garantiu que investigações seriam feitas, independente da posição dos envolvidos. Também foi sugerida a revitalização de um projeto de lei que propõe sanções criminais para aqueles que comprometerem a imagem do budismo.
Como resposta ao escândalo, o rei da Tailândia, Maha Vajiralongkorn, cancelou recentemente uma série de títulos e honrarias que haviam sido concedidos a monges. A polícia também prometeu continuar suas investigações em todo o país, criando uma página no Facebook para receber relatos de má conduta entre monges.
Paiwan acredita que a fé no budismo permanecerá forte, mas afirma que a confiança nos monges pode ser abalada. Ele pontua que muitos se deixaram levar pelas paixões e desejos carnais.