Aos 85 anos, ela se torna a guarda florestal mais velha dos EUA

Katty Reid Soskin é uma figura fascinante, não só pela sua longevidade de 104 anos, mas também pela trajetória inspiradora que a levou de cantora e ativista a uma das guarda-parques mais emblemáticas dos Estados Unidos. Ela ganhou notoriedade aos 92 anos, quando se tornou a guarda-parques em tempo integral mais velha do país, em 2013. Sua história ganhou ainda mais destaque quando passou por um período de licença não remunerada durante a paralisação do governo, o que chamou a atenção da mídia e resultou em diversas entrevistas.
Naquela época, Soskin expressou claramente sua frustração. Ela queria continuar seu trabalho e compartilhava a importância de suas atividades no parque. Essa repercussão abriu novas portas para ela, fazendo com que se tornasse uma verdadeira celebridade, algo que ela mesma reconhece como uma nova fase em sua vida.
O reconhecimento que veio depois
A visibilidade conquistada trouxe novos projetos. Em 2018, ela lançou um livro de memórias, e em 2020, estreou um documentário sobre sua vida. Atualmente, outro filme está em produção, e pessoas como Barack Obama elogiaram sua trajetória. Para completar, a revista Glamour a elegeu mulher do ano. Agora, aos 104 anos, Soskin sente que cumpriu tudo o que deveria na vida.
Ela deixou oficialmente o cargo de guarda-parques aos 100 anos. Seu trabalho foi fundamental para a criação do Parque Nacional Rosie the Riveter World War II Home Front, em Richmond, onde compartilhava histórias de guerra vividas por pessoas negras. Para Soskin, a memória é moldada por aqueles que participam do processo de recordar, e ela sentia que sua missão era quase como liderar uma revolução, apoiada pelo governo.
A percepção do tempo ao longo da vida
Ao alcançar o segundo século de vida, Soskin percebeu que sua noção de tempo mudou. Os eventos do passado e do presente parecem se misturar, como se tudo estivesse muito próximo. Muitas memórias aparecem como se estivessem acontecendo ao mesmo tempo, e ela sente que tudo, incluindo as mudanças políticas, flui em um mesmo ritmo.
Ela se lembra da Guarda Nacional sendo enviada a cidades americanas durante a presidência de Donald Trump, e essas lembranças se conectam em uma narrativa única.
A leitura de política nos dias atuais
Mesmo aposentada, Katty continua a acompanhar de perto a política. Ela observa o cenário atual com preocupação, sentindo falta da sensação de progresso que existia nas décadas de 50 e 60. Hoje, descreve o ambiente como confuso e teme que o país esteja se perdendo.
Essa inquietação a leva a refletir sobre o futuro. Quando jovem, acredita que cada nova década traria melhorias. Agora, pela primeira vez, ela não tem certeza disso, e essa dúvida é algo que ecoa em suas falas.
As muitas versões de Betty
Katty nasceu como Betty Charbonnet e cresceu em Nova Orleans, antes de se mudar para Oakland devido a enchentes em 1927. Sua família tem raízes diversas; seu pai era crioulo e sua mãe, cajun. Sua bisavó, que foi escravizada, viveu até os 102 anos e isso a inspira até hoje.
Com o tempo, diferentes versões dela mesma surgiram. A Betty que administrou uma loja de discos, a cantora de protesto, a ativista que apoiou os Panteras Negras e até a funcionária pública. Tudo isso antes de se tornar a guarda-parques mais velha do país.
Transformações profundas na década de 1980
Uma grande mudança ocorreu nos anos 80, quando Katty perdeu três homens significativos em sua vida: seus dois maridos e seu pai. Essas perdas, em um curto espaço de tempo, a levaram a uma transição importante. Após essas experiências, ela afirma que, finalmente, se tornou quem realmente é. Esse novo entendimento mudou a forma como ocupava o mundo, e ela seguiu esse impulso até os 100 anos, sentindo-se plena.
Um encontro marcante em Washington
Em 2015, Katty teve a honra de apresentar Barack Obama durante a iluminação da árvore de Natal na Casa Branca. Ela havia recusado um convite anterior do governo George W. Bush, mas naquela ocasião, sentiu que era um momento especial. Enquanto apresentava Obama, não conseguia desviar o olhar de Michelle, a quem elogiou em voz alta.
O encontro foi simbólico para ela, pois carregava consigo uma foto da bisavó, Leontine Breaux Allen. Para Katty, aquele dia representou uma conexão direta com a história americana, refletindo sobre a Casa Branca, construída por pessoas escravizadas. Ela tem uma moeda comemorativa que recebeu de Obama, mas diz que nada se compara à emoção do momento vivido.
Identidade e música na vida de Soskin
Katty não se considera mais feminista ou ativista. Para ela, é simples: é alguém que cantava. Começou a escrever músicas com um violão que ganhou em um momento difícil do casamento. Aquela fase a levou a se apresentar com Pete Seeger e participar de um projeto musical. Apesar das oportunidades, decidiu não seguir carreira na música, ao perceber que aquele ambiente não era para ela.
Cantando apenas nos sonhos
Hoje, ela conta que só canta enquanto dorme. Embora as músicas ainda estejam presentes de forma íntima em sua vida, essas memórias estão distantes do palco.
A longevidade como dádiva de Soskin
Katty encara sua longevidade como um presente. Para ela, viver muitos anos é uma oportunidade valiosa, mas ela não tenta controlar o que isso significa. Observa a vida fluir à sua volta, acreditando que tudo está solto, leve e natural.



