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Família vive isolada há quatro gerações em floresta de Guizhou

A simplicidade e a autossuficiência marcam a vida de uma família isolada em uma encosta coberta por mata primitiva. Eles habitam três casas de madeira, cercadas por pequenos talhões onde cultivam seus próprios alimentos. O local, que é um verdadeiro retiro, fica a poucas centenas de metros da trilha principal, mas o acesso é desafiador, levando mais de uma hora e meia por caminhos sinuosos. A rotina deles é sustentada por água corrente abundante e um solo extremamente fértil, oferecendo a tranquilidade e o silêncio que poucos lugares conseguem proporcionar.

O caminho até lá envolve trilhas abertas na rocha, com pontes improvisadas sobre ravinas, e áreas vulneráveis a deslizamentos. Aqui, a água chega através de canos que conduzem desde uma nascente, enquanto a luz à noite depende de painéis solares. O fogão a lenha é abastecido com madeira coletada no entorno. O fluxo de trabalho varia conforme o calendário agrícola, já que a família divide o uso da propriedade com parentes que moram mais abaixo, indo e voltando conforme as necessidades.

Quem vive ali e como a rotina se organiza

A moradora, que está na casa dos 60 anos, é a responsável pelo cultivo em talhões próximos à casa. Ela menciona que seu vínculo com a terra se estende por quatro gerações, sendo que o casal atualmente reside na vila de Wangjiaping, subindo apenas para a plantação, oxigenando a prática ancestral de cultivo.

Nesse microcosmos familiar, as três casas de madeira formam um núcleo essencial. Duas delas são residenciais enquanto a terceira serve como celeiro, onde armazenam grãos e utensílios. Ao redor, os canteiros estão repletos de milho, alho, soja, cebola e colza. Nos anos em que a chuva é generosa, eles também semeiam arroz nas áreas mais baixas.

O milho que sobrar depois do consumo é vendido na vila, e as colheitas são secadas no terreiro, sendo carregadas manualmente pelas trilhas quando necessário.

Onde ficam as roças e de onde vem a água

O sítio está localizado em Shibing, na província de Guizhou, cercado por montanhas. A nascente produz riachos claros, que são levados para a propriedade por meio de canos, garantindo água para a cozinha, limpeza e consumo. A tranquilidade do lugar se reflete no som da água, que estabelece o ritmo das tarefas diárias.

A irrigação ocorre de forma simples, utilizando canais rasos e baldes. A topografia em degraus favorece culturas de rápido crescimento, enquanto áreas alagáveis já abrigaram plantios de arroz em temporadas passadas. A geografia acidentada exige planejamento cuidadoso no transporte de insumos e grãos, tornando essa logística uma parte importante da rotina.

Por que a família se mantém no lugar

A origem desse assentamento é histórica, remontando à geração do sogro da moradora, que pode estar ligada a períodos de conflito, quando famílias buscaram segurança nas montanhas. A vida se estabelece num equilíbrio entre a rotina na vila e as atividades agrícolas nas montanhas, com idas e vindas planejadas de acordo com o clima. A terra é compartilhada entre duas famílias, com propriedades conectadas por antigas pastagens e roças.

Escolher essa vida é um ato de buscar autonomia alimentar e uma renda complementar. A reclusão diminui os gastos, mas não sem desafios: manter a saúde para subir e descer as ladeiras, cuidar das casas e dominar as práticas agrícolas necessárias para compensar a distância dos serviços disponíveis na cidade.

Como funciona a infraestrutura doméstica

A família vive sem rede elétrica, utilizando painéis solares para a iluminação. A cozinha, equipada com um fogão a lenha, guarda utensílios tradicionais que preservam a cultura local, como cestos de debulha e recipientes de madeira para o arroz.

Os grãos são guardados em um celeiro elevado, que protege contra umidade e visitantes indesejados. Para preparar o solo, utilizam um cultivador a combustão e há uma colmeira rústica, ainda sem enxame ativo. O cercado de varas e arame protege os canteiros do gado que circula pela área.

Quanto tempo levam os deslocamentos e quais os riscos

Embora as casas estejam a apenas 500 a 600 metros da trilha, a sinuosidade do caminho triplica essa distância. O tempo de percurso pode variar, levando de uma a uma hora e meia, dependendo da carga que estão transportando e das condições climáticas.

Em dias quentes, a vegetação oferece sombra renovadora, mas a presença de encostas íngremes exige uma boa dose de cautela, especialmente nas pontes que cruzam córregos. Durante a safra, a família costuma acampar próximo ao local de trabalho para otimizar as colheitas. Contudo, em estiagens, a dependência da nascente para irrigação demanda um controle cuidadoso sobre o uso da água.

Cultura material e conhecimento prático

A casa principal, com dois andares de madeira, é uma peça raríssima nos dias de hoje nas áreas rurais. A ventilação natural, combinada com o clima serrano, elimina a necessidade de ar-condicionado. O interior traz relíquias, como dísticos antigos que lembram celebrações do passado.

Os arredores abrigam ferramentas manuais, pulverizadores simples e tanques de água, evidenciando um sistema técnico ágil e eficaz. A rotação de culturas, intercalando milho com leguminosas e hortas, busca aproveitar o microclima local e quebrar os ciclos de pragas. O manejo é feito com capinas frequentes, secagem ao sol e armazenamento em locais elevados.

O conhecimento adquirido ao longo do tempo é o que realmente sustenta essa autonomia, muito mais do que qualquer equipamento isolado.

Por que a história importa

Histórias como a da família de Shibing revelam estratégias de permanência em ambientes montanhosos onde as coisas modernas ainda não chegaram. A autossuficiência, longe de ser uma idealização, é, na verdade, o resultado de cálculos diários que envolvem esforço, tempo e segurança.

Essa família cultivou um valioso patrimônio imaterial, recheado de técnicas agrícolas e a sabedoria de viver em harmonia com a natureza. Sua experiência nos ensina sobre os dilemas atuais de se equilibrar renda, educação e saúde, sem abrir mão dos laços com a terra.

A vida mista entre a vila e a montanha oferece caminhos para se adaptar a um mundo em transformação, preservando a segurança e a autonomia em meio às adversidades moldadas pelo relevo e pelo tempo.

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