Vaticano rejeita título polêmico dado à Virgem Maria

O Vaticano decidiu mais uma vez rejeitar o título de “corredentora” atribuído à Virgem Maria. A confirmação veio em um novo documento chamado Mater Populi Fidelis, que significa “Mãe do Povo Fiel”. Esse posicionamento reacende um debate que tem raízes profundas na tradição católica sobre o papel de Maria na salvação da humanidade.
O responsável por assinar o texto, o cardeal Víctor Manuel Fernández, faz parte do Dicastério para a Doutrina da Fé e recebeu a aprovação do papa Leão 14. Ele enfatiza que, ao longo dos séculos, surgiram muitos mal-entendidos teológicos e pastorais sobre a importância de Maria, especialmente entre aqueles que a veem como uma parceira direta na redenção.
A origem do título "corredentora"
O termo “corredentora” surgiu no século 15, inicialmente usado como uma abreviação de “mãe do Redentor”. Foi São Bernardo quem popularizou essa ideia, ressaltando o sofrimento de Maria durante a crucificação de Jesus. O uso do termo ficou ainda mais evidente em um hino de Salzburgo, e alguns papas chegaram a adotá-lo em suas falas.
No entanto, o Vaticano já esclareceu que o Segundo Concílio Vaticano, realizado entre 1962 e 1965, optou por não oficializar esse título. As razões são principalmente dogmáticas e pastorais: foi decidido que evitar confusões sobre o papel de Maria em relação a Cristo era fundamental, visto que, segundo a doutrina católica, a redenção parte exclusivamente de Jesus.
Motivos da rejeição ao título de corredentora
Esse novo documento reafirma uma posição defendida desde 1996 pelo então cardeal Joseph Ratzinger, que mais tarde se tornou o papa Bento 16. Ele se opôs ao pedido do grupo Vox Populi Mariae Mediatrici, que buscava a declaração de Maria como “corredentora” e “mediadora de todas as graças”. Para Ratzinger, esses títulos não representavam a revelação divina nem a tradição apostólica. Em 2002, ele explicou que o termo “corredentora” afastava-se da linguagem bíblica e poderia gerar confusão sobre a centralidade de Cristo na fé católica.
Segundo ele, “tudo vem de Cristo; Maria é tudo o que é por meio Dele”. Para Bento 16, o uso do termo ofuscava o verdadeiro papel de Cristo na fé.
O uso do título por papas e a confusão gerada
O papa João Paulo 2º foi um dos que mencionaram o título “corredentora” em suas falas, apesar das polêmicas. Ele usou o termo em contextos que ligavam o sofrimento humano oferecido a Deus ao sacrifício de Cristo, enfatizando que Maria compartilhou do sofrimento com o Filho, mas sem dividir o papel de redentora.
Esse uso gerou debates entre fiéis e estudiosos, com muitos exaltando Maria e outros interpretando isso como uma tentativa de igualá-la a Jesus — algo que o Vaticano sempre rejeitou.
A posição atual do papa Francisco
O papa Francisco também se posicionou contra o termo “corredentora” em diversas ocasiões. Em seus discursos, ele reforçou que Maria nunca se apresentou como uma “co-salvadora”, mas sim como uma “discípula fiel” de seu Filho. “Não, ela era uma discípula”, destacou o pontífice. Para ele, o papel de Maria é inspirar humildade, fé e obediência, sem compartilhar da obra redentora de Cristo.
Equilíbrio entre devoção e doutrina
Com essa nova declaração, o Vaticano busca encontrar um equilíbrio entre a devoção popular e a teologia oficial. O documento Mater Populi Fidelis reconhece Maria como Mãe de Deus, intercessora e modelo de fé, mas reafirma que sua posição é subordinada a Jesus na história da salvação.
O Vaticano mantém sua posição, sustentada por séculos de tradição e baseada nas Escrituras, reforçando a centralidade de Cristo na fé católica.



