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Praga no Brasil ameaça plantações, fauna e saúde pública

O javali é um animal que não faz parte da fauna típica do Brasil, mas, de forma preocupante, ele vem se tornando uma verdadeira ameaça para o nosso meio ambiente e a agricultura. Essa espécie, trazida de outros continentes, não encontra predadores naturais aqui e, por isso, se reproduz de maneira descontrolada. O resultado é uma praga que já causa grandes estragos em várias regiões do país.

Origem e chegada ao Brasil

Os javalis são nativos da Europa, Ásia e norte da África. A sua história no Brasil começou com os colonizadores europeus, que trouxeram porcos selvagens para se alimentar durante as viagens marítimas. Mais tarde, fazendeiros introduziram a espécie para criar carne e praticar a caça esportiva. O que era para ser uma solução alimentar acabou se transformando numa invasão: muitos javalis escaparam, se adaptaram ao ambiente e começaram a se reproduzir livremente.

Reprodução acelerada e falta de predadores

As fêmeas de javali têm uma capacidade reprodutiva impressionante. Elas podem ter várias ninhadas por ano, com uma gestação de cerca de quatro meses. Cada ninhada pode ter entre 8 e 10 filhotes, mas há registros de até 25 leitões de uma só vez! Essa fertilidade se combina com a falta de predadores naturais no Brasil. Enquanto seus predadores, como lobos e grandes felinos, estão ausentes, as onças-pintadas e onças-pardas existentes na região preferem evitar confrontos com javalis adultos, que podem atingir 350 quilos. Sem ameaças naturais, a população de javalis continua a crescer.

Estragos ambientais e agrícolas

Os javalis não apenas ocupam o espaço de outros animais, mas também provocam destruição onde passam. Por serem onívoros, eles comem praticamente tudo: raízes, frutos, grãos e até pequenos animais. O impacto na agricultura é significativo. Eles destroem plantações inteiras de milho, soja e cana-de-açúcar, causando prejuízos alarmantes para os agricultores. As pastagens, onde o gado se alimenta, também são danificadas.

Esses animais também causam danos a nascentes e solos, degradando áreas úmidas e prejudicando a fauna nativa. Por exemplo, os javalis competem diretamente com espécies locais como o cateto e a queixada, colocando em risco a sobrevivência delas. Além disso, há o risco para a segurança das pessoas: um javali adulto, se se sentir ameaçado, pode atacar.

Riscos sanitários e prejuízos econômicos

Os riscos à saúde são outra preocupação. Os javalis podem carregar doenças infecciosas que afetam tanto criações domésticas quanto a fauna silvestre. Entre essas doenças estão a febre aftosa e a leptospirose, que podem ser graves. Um surto dessas doenças poderia gerar prejuízos de até R$ 50 bilhões por ano.

Além das doenças, os danos estruturais e produtivos causados pelos javalis levam os agricultores a gastar mais com replantios e reparos. E a situação só tende a piorar.

Caça liberada para controle da praga

Diante desse cenário, a caça ao javali foi oficialmente liberada no Brasil. Desde 1967, a caça de fauna nativa é proibida, mas em 2013 o Ibama fez uma exceção para essa espécie invasora. Atualmente, o javali é o único animal de grande porte cuja caça é permitida, com o objetivo de reduzir as populações e proteger lavouras e ecossistemas.

Anualmente, milhares de javalis são eliminados. Por exemplo, entre 2019 e 2021, cerca de 333 mil foram abatidos, e em 2022 esse número subiu para aproximadamente 465 mil. Contudo, ainda há muito a fazer, já que a população de javalis continua a se expandir. Em 2016, eles estavam registrados em 489 municípios; em 2022, já eram mais de 2.010.

A invasão dos javalis é um reflexo da dificuldade de controlar essa espécie, mesmo com a caça liberada. O debate está aberto: embora a intervenção humana seja necessária, fica a dúvida se a caça é a solução ideal ou se pode gerar efeitos contrários. Planos de manejo estão sendo discutidos para melhorar o controle e minimizar riscos a outras espécies.

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