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Por que os condomínios se tornaram populares no Brasil

Curitiba é um exemplo claro do crescimento dos condomínios horizontais, que estão se espalhando por diversas cidades brasileiras. Mas esse movimento não se restringe à capital paranaense. Em São Paulo, áreas como Morumbi e Jardim Guedala também estão se transformando com esses empreendimentos. No Rio Grande do Sul, uma pequena cidade já é conhecida como a "capital" desse modelo habitacional, com mais da metade de seu território ocupada por empreendimentos murados.

A crescente opção por viver nesses condomínios levanta muitos questionamentos. Por que tanta gente está escolhendo esse estilo de vida? Quais são as consequências sociais dessa decisão? E, de que forma essa tendência pode, ao mesmo tempo, beneficiar as prefeituras e gerar desafios para as comunidades?

As origens: Alphaville e o modelo importado

Nos anos 70, o Brasil vivia um cenário urbano dominado por apartamentos e casas convencionais. Foi nesse período que surgiram os condomínios fechados, inspirados no estilo dos subúrbios norte-americanos. Alphaville, em São Paulo, se destacou como um verdadeiro ícone de status, com suas ruas arborizadas e segurança reforçada.

A segurança foi o principal atrativo. Com portarias 24 horas, câmeras de vigilância e portões eletrônicos, a sensação de proteção se fez presente. Mas, nos condomínios horizontais, a proposta foi além de simplesmente oferecer segurança.

Segurança, status e marketing imobiliário

Um estudo da pesquisadora Denise Mônaco dos Santos, em 2003, analisou como o marketing imobiliário explorou a ideia de segurança. Mas não ficou só nisso. Mudanças sociais, transformações econômicas e novas formas de organização urbana também contribuíram para a expansão desse modelo.

Os anúncios prometiam um "pacote" de vantagens: exclusividade, contato com a natureza e um novo estilo de vida. Imagens de famílias se divertindo em ruas arborizadas contrastavam com a realidade de muros altos e monitoramento constante. Essas campanhas moldaram as expectativas das pessoas, fazendo com que os condomínios se tornassem um padrão urbano, ligando o conceito de "muros" ao prestígio.

A virada do século: violência, caos urbano e pandemia

Nos anos 2000, a violência nas grandes cidades aumentou, e as populações cresceram, mas a infraestrutura pública não acompanhou esse ritmo acelerado. O estudo de Denise, mesmo sendo antigo, continua relevante: os condomínios horizontais são mais que uma resposta ao temor; são também um reflexo de status e estilo de vida.

A necessidade de espaços confortáveis e seguros ganhou força com a popularização do home office e a pandemia. Dados de 2015 já apontavam que a oferta de condomínios horizontais em Curitiba havia quadruplicado em apenas três anos. E em lugares como Xangri-lá, no litoral gaúcho, a quantidade de empreendimentos fechados só tem aumentado.

Estrutura interna e atração para famílias

O que diferencia os condomínios horizontais? A combinação de segurança com infraestrutura de lazer. Com áreas como piscinas, academias e playgrounds, esses empreendimentos criam um ambiente que reflete a ideia de comunidade. Uma pesquisa mostrou que 46% das pessoas consideram viver em bairros planejados uma boa opção.

Além de proporcionar qualidade de vida, muitos veem esses condomínios como uma oportunidade de investimento. Em cidades como Indaiatuba e Uberaba, a valorização imobiliária os tornou cada vez mais atraentes.

Casa x apartamento: uma disputa de estilos de vida

Para muitos, a casa em um condomínio horizontal traz a sensação de liberdade que os apartamentos não oferecem. Sem vizinhos por cima e com espaço ao ar livre, a vida é mais tranquila. Porém, essa liberdade tem suas limitações. Os muros que protegem também isolam, criando convívios restritos a pessoas de um mesmo perfil econômico. Assim, as crianças acabam crescendo em um ambiente homogêneo, longe da diversidade social presente nas cidades.

Xangri-lá: a capital dos muros

Xangri-lá é um ótimo exemplo dessa realidade. Há algumas décadas, a cidade tinha poucos empreendimentos; atualmente, lagos artificiais e áreas muradas dominam a paisagem. Essa rápida expansão trouxe consequências e desafios, como o extravasamento em estações de tratamento de esgoto, atrasando novas obras. Os muros se tornaram um símbolo da segregação socioespacial, alterando não apenas o ambiente, mas também o convívio social na região.

O peso da arrecadação para as prefeituras

Apesar das críticas, os condomínios são vistos como uma solução prática para as prefeituras. O prefeito de Xangri-lá ilustra bem essa lógica: a cidade economiza com serviços enquanto arrecada de forma robusta, já que 46,5% de sua arrecadação vem desses empreendimentos, que ocupam uma parcela significativa do território.

O paradoxo da dupla cobrança

Na prática, os moradores acabam pagando duas vezes: uma para a infraestrutura interna, que oferece serviços como segurança e lazer, e outra pelos serviços públicos que recebem de forma limitada. Para as prefeituras, essa logística é vantajosa. Arrecadam como se oferecessem todos os serviços, mas apenas cuidam da manutenção até o portão dos condomínios.

Entre solução e problema

Os condomínios horizontais surgem como uma resposta ao desejo de segurança e lazer, mas também revelam dilemas urbanísticos: a fragmentação das cidades e a segregação socioeconômica. Enquanto moradores buscam qualidade de vida, as prefeituras enxergam uma forma de aumentar a arrecadação com menos gastos. Assim, a cidade pode acabar se dividindo em dois mundos: um seguro e protegido, e outro público e abandonado.

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