Notícias

Atafona registra perda de praia e destruição de construções

Uma cidade brasileira viu sua faixa litorânea encolher até 8 metros por ano nas últimas décadas. Trata-se de Atafona, um distrito de São João da Barra, no norte do Rio de Janeiro. O lugar, uma vez vibrante, agora enfrenta um triste cenário de construções destruídas e um mar que avança rapidamente, mudando a paisagem urbana.

Essa situação não é simples; é resultado de uma combinação de fatores naturais e humanos. O aumento do nível do mar, a construção de barragens no Rio Paraíba do Sul e a ocupação desordenada da orla são algumas das causas que têm levado à erosão ampla. Os moradores tentam resistir, mas especialistas alertam que o que já é grave pode piorar até 2050.

Como Atafona se tornou símbolo de destruição costeira

Localizada na foz do Rio Paraíba do Sul, Atafona é geologicamente vulnerável. Essa área é uma planície sedimentar, formada por areia e outros sedimentos ao longo de milhares de anos. Historicamente instável, a região começou a sofrer intensamente com erosão costeira a partir da metade do século XX.

O que antes era um balneário muito querido por quem morava nas proximidades se transformou em um lugar tomado por casas abandonadas e ruas interditadas. Memórias se perderam nas ondas: desde os anos 2000, o mar já avançou de 7 a 8 metros em algumas partes, arrastando imóveis e fazendo com que a população viva sob constante risco.

O que explica a erosão acelerada em Atafona

Os motivos para essa erosão são variados e interconectados. O avanço natural do mar e os ventos nordestinos são fatores que afetam a estabilidade da costa, mas a ação humana teve um grande impacto. Com mais de 900 barragens ao longo do Rio Paraíba do Sul, a chegada de sedimentos à praia foi comprometida, tornando a costa mais vulnerável.

A urbanização próxima à faixa de areia bloqueia o fluxo natural de sedimentos, impedindo que o solo costeiro se regenere. O pesquisador Álvaro Serpa dos Santos argumenta que essas hidrelétricas acentuam o desequilíbrio, reduzindo o transporte de areia e acelerando a erosão.

Impactos ambientais, sociais e econômicos

A pesca artesanal, que sempre sustentou a economia local, foi diretamente afetada. Com a perda de território e a distância aumentada dos pontos de pesca, muitos moradores enfrentam dificuldades para continuar a atividade. Em uma pesquisa, 15% dos pescadores relataram que a redução das capturas foi a maior perda econômica da região.

Além disso, o setor imobiliário sofreu um colapso. Muitas casas perderam valor ou foram interditadas pela Defesa Civil. A história de moradores que, como Sônia Ferreira, perderam duas casas para o mar em menos de dez anos, é um retrato do que muitos enfrentam. Não é só a perda de bens materiais; a erosão leva embora histórias de vida e vínculos afetivos, afetando a memória coletiva de uma comunidade tradicional.

Como a população tem resistido no cotidiano

Apesar das dificuldades, a maioria dos moradores quer continuar em Atafona. Estudos mostram que 95% reconhecem a gravidade da erosão, mas preferem ficar. Para tentar conter o avanço do mar, constroem barreiras improvisadas com sacos de areia e madeira. Eles reforçam paredes e elevam móveis, transformando a adaptação em uma questão de sobrevivência.

A mobilização não se restringe a ações individuais; é também coletiva, embora sem respostas do poder público. Curiosamente, 100% dos entrevistados nunca ouviram falar sobre o Gerenciamento Costeiro Integrado (GCI), uma política que poderia ajudar a combater a erosão de forma colaborativa.

Há saída para Atafona? O que dizem os exemplos de outras cidades

Sim, existiriam soluções técnicas, mas exigem investimentos, planejamento e participação social. Em Balneário Camboriú (SC), por exemplo, o engordamento artificial da praia foi eficaz, mas custou caro e precisa de manutenção constante. No Ceará, espigões ajudaram, mas impactaram áreas vizinhas. Já no litoral paulista, projetos de replantio de restinga trouxeram resultados positivos a um custo mais baixo.

Para Atafona, qualquer ação deve levar em conta a identidade cultural e as particularidades ambientais da região. Enquanto espigões e engordamento podem trazer alívio, é preciso um diagnóstico adequado para evitar apenas realocar o problema para outras praias.

Por enquanto, a verdadeira solução ainda está distante, e a resistência de Atafona continua sendo o único plano imediato da comunidade.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo