Notícias

Oito pessoas em isolamento: aprendizados de uma experiência extrema

No início dos anos 90, um grupo de oito voluntários decidiu viver em um laboratório isolado no deserto do Arizona, nos Estados Unidos. O objetivo? Criar uma mini Terra autossustentável. Essa experiência, que começou em setembro de 1991 e durou até setembro de 1993, ficou conhecida como Biosfera 2. A ideia era simular os principais sistemas ecológicos do nosso planeta, utilizando um ambiente controlado e fechado.

O espaço escolhido para essa aventura era impressionante: um complexo de vidro e aço, com aproximadamente 1,2 hectare, que abrigava várias estruturas, como pirâmides e cúpulas. Dentro desse “laboratório gigante”, foram criados diferentes ecossistemas, desde uma floresta tropical com uma cachoeira artificial até um oceano com um recife de coral vivo. Para garantir a sobrevivência dos participantes, também havia um campo agrícola.

O nome Biosfera 2 é uma referência à Terra, que é considerada a “Biosfera 1”. O grande desafio do experimento era entender se os humanos poderiam viver de forma autossuficiente em um ambiente fechado, onde tudo — do ar ao alimento — dependia do funcionamento dos ecossistemas criados ali. Essa pesquisa é especialmente relevante para o futuro, pensando em possíveis colônias em outros planetas.

Isolamento extremo na Biosfera 2

Nos primeiros meses, problemas sérios começaram a surgir. Um dos principais foi a queda nos níveis de oxigênio dentro da Biosfera 2. Em apenas 16 meses, o oxigênio caiu de 21% — uma quantidade normal — para aproximadamente 14%, patamar que causa efeitos similares ao alto nível de altitude.

Os voluntários começaram a sentir os efeitos desse oxigênio reduzido, como cansaço e dificuldade de concentração. Para contornar essa situação, precisaram introduzir oxigênio suplementar, uma ação que gerou críticas e levantou questionamentos sobre a viabilidade do projeto.

Enquanto isso, a produção de alimentos e a reciclagem de água tornaram-se tarefas desafiadoras. A escassez de colheitas resultou em perda de peso para muitos dos participantes e gerou estudos sobre a relação entre restrição alimentar e saúde. Além disso, a morte de muitos polinizadores, como as abelhas, desestabilizou o equilíbrio dos ecossistemas e exigiu a intervenção manual na polinização.

Crises ambientais e investigações científicas

Cientistas acompanham de perto as dificuldades enfrentadas na Biosfera 2. As investigações revelaram que o solo escolhido para potencializar o crescimento das plantas estava favorecendo uma praga de fungos e bactérias que consumiam oxigênio. Além disso, o uso do concreto no complexo também se mostrou problemático, atuando como um sumidouro de gás carbônico, complicando ainda mais a situação.

A ausência de polinizadores preocupa os especialistas. Algumas teorias indicam que formigas invasivas estavam atacando os insetos benéficos, enquanto outras sugerem que o vidro do laboratório impedia a entrada da luz ultravioleta, fundamental para a navegação das abelhas.

Estudos também mostraram que as árvores não cresciam como esperado devido à falta de vento, que ajuda a fortalecer seus troncos. A pesquisa sobre esses fenômenos aprofundou o conhecimento sobre como condições artificiais podem afetar ecossistemas complexos.

Lições para a ciência e o futuro da Terra

Apesar das críticas enfrentadas durante o experimento, as lições aprendidas na Biosfera 2 hoje são vistas como valiosas. Especialistas afirmam que essa experiência ajudou a desvendar a interdependência entre os humanos e os ecossistemas naturais.

Mark Nelson, um dos participantes e fundador do Institute of Ecotechnics, ressaltou que o projeto trouxe à luz a complexidade de replicar a dinâmica da Terra em ambientes fechados. Além disso, os altos custos envolvidos em manter um habitat artificial foram evidenciados: estima-se que uma colônia no espaço, com a mesma estrutura, custaria mais de US$ 82 mil por pessoa ao mês, sem garantir a segurança dos colonos.

Após o término do experimento, em 1993, a Biosfera 2 passou por diferentes gestões e atualmente pertence à Universidade do Arizona. Hoje, o espaço é utilizado para pesquisas relevantes sobre os efeitos das mudanças climáticas. Por exemplo, cientistas investigam como as florestas tropicais reagem a secas extremas e testam formas de adaptação dos recifes de corais.

O legado da mini Terra para a sustentabilidade

As experiências vividas pelos participantes da Biosfera 2, apesar dos obstáculos enfrentados, deixaram uma mensagem importante: construir e manter um ambiente autossustentável é um desafio gigante, que ressalta a importância dos serviços ecossistêmicos que a Terra nos oferece de forma gratuita.

Embora muitos considerem o projeto um “fracasso”, ele é um lembrete da necessidade de proteger e valorizar a Biosfera 1 — nosso planeta. A lição mais impactante é que fora do equilíbrio natural, a sobrevivência humana se torna algo extremamente complicado.

O caso da Biosfera 2 serve como um aviso sobre a importância de investir em soluções inovadoras e sustentáveis que ajudem a preservar os ecossistemas do nosso único lar.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo