A história do motor W24 de 2.885 cavalos e seus 24 cilindros

No final dos anos 1930, com a sombra de um conflito global no horizonte, os Estados Unidos estavam em plena corrida tecnológica. O Corpo Aéreo do Exército decidiu que precisava de um motor de avião realmente potente. A resposta veio da Allison Engine Company, que apresentou o V3420, um motor W24 que prometia revolucionar a aviação militar. Apesar de seu potencial impressionante, esse gigante acabou ficando mais como uma curiosidade na história da Segunda Guerra Mundial.
A ideia por trás do V3420 era bem engenhosa: combinar dois motores V12, o já conhecido Allison V-1710, em um único bloco de 24 cilindros. O resultado foi um motor que não só impressionava em potência, mas também tinha um deslocamento de 56 litros. Porém, mesmo com seu desempenho em protótipos, a produção foi limitada a cerca de 150 unidades, tornando-o uma raridade muito valorizada entre entusiastas de aviação.
A origem do titã: como nasceu um motor de 24 cilindros?
A necessidade militar por um motor robusto era real. Bombardeiros mais pesados e com maior autonomia precisavam de um motor forte para operar eficazmente. Assim, em 1937, a Allison apresentou o V-3420, cujo nome provém do seu deslocamento de 3.420 polegadas cúbicas. O projeto foi chamado de motor W24, composto por dois bancos de cilindros em V montados em um único cárter. Os virabrequins funcionavam sincronizados, acionando uma única hélice.
Essa estratégia "tandem" facilitou bastante o desenvolvimento. Ao utilizar o motor V-1710 como base, a Allison conseguiu garantir que muitos componentes, como pistões e válvulas, fossem intercambiáveis. Isso tornava a manutenção mais simples e rápida, algo vital em tempos de guerra. O V3420 apresentava uma configuração “W” com o ângulo de 30° entre os motores V12.
Com um peso seco de aproximadamente 1.184 kg, o motor W24 era bastante leve para sua enorme capacidade. Cada um dos 24 cilindros contava com quatro válvulas e um sistema de injeção mecânica de combustível da Bendix Stromberg, que permitia uma queima eficiente da gasolina com alta octanagem, entre 100 e 130 octanas.
Para potencializar ainda mais sua performance, o motor incluía um supercompressor mecânico que aumentava a densidade do ar admitido, resultando em uma mistura ar-combustível mais rica. Com tudo isso, a potência do V3420 chegava a impressionantes 2.885 cavalos. Seu sistema de arrefecimento a líquido assegurava uma temperatura controlada durante voos longos, um aspecto super importante nas operações.
Por que um motor tão potente nunca entrou em combate?
Aqui está a grande ironia dessa história. Embora o V3420 mostrasse um desempenho incrível em testes com aeronaves experimentais, como o Douglas XB-19 e o Boeing XB-39, a produção em larga escala nunca aconteceu. A complexidade do projeto atrasou o desenvolvimento, e, quando finalmente ficou pronto, o cenário da guerra já havia mudado bastante.
As forças aéreas começaram a priorizar soluções mais simples e confiáveis, que estivessem prontamente disponíveis. Além disso, a propulsão a jato já se mostrava o futuro da aviação militar, o que tornava menos atraente investir em um motor a pistão tão complexo. O V-3420, então, acabou se tornando uma maravilha da engenharia que, na prática, "chegou tarde demais para a festa."
Essa trajetória do motor W24 Allison V-3420 nos convida a refletir: é válido apostar em tecnologias complexas e inovadoras, mesmo que elas não cheguem a ser produzidas em massa? Ou será que optar por soluções simples e comprovadas é sempre o melhor caminho em tempos de urgência?